Este ano, em 7 de setembro, o Brasil comemora os 200 anos de sua independência. Do ponto de vista econômico, o balanço desses dois séculos é modesto. Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, demonstrou recentemente esse fato com uma análise estatística, segundo a qual o Produto Interno Bruto da população brasileira, de cerca de 5 milhões de pessoas em 1822, equivalia mais ou menos à metade do PIB dos americanos no mesmo ano. Um terço do povo brasileiro era escravizado.
Cem anos depois, a população cresceu para cerca de 30 milhões de pessoas. Com o café e a borracha, o Brasil viveu um boom de exportações. Mas a produção econômica havia encolhido para parcos 18% do PIB americano.
A partir de 1930, com o início da industrialização, começou a fase de crescimento mais longeva do Brasil até hoje. O país foi industrializado, aberto para a infraestrutura, cidades brotaram, também no interior. O Estado investiu maciçamente em megaprojetos como a Usina de Itaipu ou a fabricante de aeronaves Embraer. Alguns desses projetos tiveram sucesso. Muitos fracassaram.
Essa fase de crescimento durou meio século, até 1980, ano no qual foi registrado o pico do rendimento dos brasileiros em comparação com o dos americanos. Mesquita estima que o PIB per capita dos brasileiros era de 30 a 40% em comparação com o dos americanos. Desde então – principalmente nos últimos dez anos –, voltou a encolher para cerca de 25% do PIB americano.
O economista-chefe do Itaú Unibanco vê a abertura inexistente do país e o consequente protecionismo como motivo decisivo para o fraco desempenho do Brasil no contexto internacional.
No jornal Valor Econômico, Mesquita escreve que "o modelo de crescimento acelerado baseado em substituição de importações e liderado pelo Estado, que selecionava, protegia e financiava os chamados 'campeões nacionais'" é a razão para a estagnação econômica.
Eu vejo as coisas de maneira um pouco diferente.
Certamente, o isolamento de sua economia e a subvenção de empresas individuais é um motivo importante para explicar a falta de dinâmica na economia brasileira. Mas não é o motivo decisivo.
É que modelos similares já funcionaram relativamente bem na Ásia, a exemplo da Coreia do Sul. Com incentivos estatais direcionados a "campeões nacionais" e longos anos de substituição de importações, Seul criou uma indústria com capacidade para alto desempenho. O PIB per capita no país deixou o brasileiro para trás.
Mais decisivo, na minha visão, é que o Brasil sempre só incluiu uma pequena parte da população em sua economia. Isso começou nos tempos coloniais, com a escravidão. Até hoje, porém, a maioria da população é excluída ou participa da economia apenas marginalmente.
Há poucas possibilidades de ascensão para a maior parte dos brasileiros: a má qualidade do ensino público e do sistema de saúde, a segurança pública ausente e a infraestrutura fraca impedem que a maioria da população tenha chance de se integrar na produção econômica.
Isso vale principalmente para a grande fatia afrodescendente da população (56%) e também para os 30 milhões de brasileiros que têm apenas até um salário-mínimo à sua disposição. Quem não consegue obter uma educação também ganhará pouco dinheiro e nunca conseguirá consumir de forma a catalisar um salto de desenvolvimento na economia.
Enquanto a elite brasileira – ou seja, as classes média e alta – dividir entre si os cargos públicos administrativos e nas empresas estatais, além dos postos nos conselhos administrativos e cargos de diretoria nas empresas privadas, o Brasil continuará crescendo abaixo de seu potencial.
Apesar de todos os avanços e tentativas das últimas duas décadas, o Brasil está cada vez menos preparado para a transformação digital da sociedade e da economia que acontece atualmente no mundo todo.
Há pouco a comemorar nas celebrações do bicentenário da Independência.
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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.
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