Em março, escrevi nesta coluna que o Brasil caminhava para a estagflação – estagnação econômica e inflação em alta. Desde então, a probabilidade de um cenário sem crescimento econômico e com uma grande desvalorização do real aumentou.
Os principais bancos de investimento acabaram de reduzir suas previsões de crescimento para 2022 para menos de 1%. Se de fato ocorrer uma crise energética – o que ainda não é certo –, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil poderá até mesmo encolher no ano que vem.
Uma economia estagnada é sempre um problema. Mas, quando a inflação aumenta ao mesmo tempo, como acontece agora, isso se torna ainda mais preocupante. A inflação dos últimos 12 meses chega a quase 10%, e a inflação em agosto (0,87%) registrou o maior valor para o mês desde 2000.
O Banco Central anunciou que aumentará as taxas de juros o quanto for necessário para conter a inflação e colocá-la abaixo do teto da meta (5,25%). Portanto, é provável que a instituição aumente a taxa Selic para mais de 8% até o final do ano.
A taxa de juros no Brasil já está sendo negociada ainda mais alta nos mercados futuros. Além disso, o real não está se recuperando e continua fraco, e os custos das importações em alta também elevam os preços dos produtos nas prateleiras.
Infelizmente, o Brasil não aproveitou o vento favorável da economia global nos últimos 12 meses. O ciclo de alta dos preços das matérias-primas e energia já parece estar desacelerando novamente. Além disso, a seca e as geadas reduziram drasticamente as colheitas e as previsões de safra, especialmente de culturas como café, açúcar ou milho.
Governo não parece disposto a conter espiral negativa
Infelizmente, o governo não parece mais disposto a conter essa espiral negativa: a retórica do presidente Jair Bolsonaro contra o Poder Judiciário no Dia da Independência causou danos permanentes à economia. "Foi mal, tava doidão" – isso não é uma explicação suficiente para tranquilizar investidores e consumidores.
Um sinal da crescente percepção de insegurança: a taxa de poupança (relação entre poupança acumulada e o PIB), que atingiu 20,9% no segundo trimestre de 2021, não é tão alta há anos. Isso significa que aqueles que têm dinheiro, como consumidores ou investidores, não o gastam porque o futuro parece incerto.
E como a campanha eleitoral já começou, o presidente tem responsabilidade sobre esse ambiente econômico incerto. Sua única preocupação agora é sua reeleição, e ele subordina tudo a esse objetivo.
Mas a cada tentativa do governo de burlar o teto de gastos em 2022, os investidores "mandarão a conta" e cobrarão taxas de juros mais altas para financiar a dívida do governo. Como o país vai sobreviver a um ano de campanha eleitoral?
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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil. Clique aqui para ler suas colunas.
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