O brasileiro Nubank começou a operar há oito anos, com cartões de crédito gratuitos. Até hoje os 48 milhões de clientes do banco fazem todos as suas transações através do aplicativo em seus telefones celulares. Nesse meio tempo, Anitta entrou para o conselho do banco, e agora 23 milhões de clientes estão recebendo uma ação de presente. Agora, após sua oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), o banco digital vale mais na bolsa que o Bradesco ou o Itaú-Unibanco. Ambos os bancos privados brasileiros foram fundados em meados do século passado e estão entre as instituições financeiras mais rentáveis do mundo.
E é exatamente por isso que o Nubank alcançou tanto sucesso em tão pouco tempo: o mercado financeiro brasileiro era até recentemente controlado por cerca de cinco instituições, duas das quais são estatais (Banco do Brasil e Caixa Econômica). A falta de concorrência significava que os bancos podiam cobrar taxas e juros altos, mesmo com serviços ruins – e os consumidores dificilmente podiam se defender. Não havia alternativas.
O Nubank aproveitou essa oportunidade e agora vem pressionando os bancos estabelecidos. E não apenas o Nubank: há cerca de duas dúzias de fintechs que estão competindo com os bancos estabelecidos e já valem bem mais de um bilhão de dólares. Stone, PagSeguro e XP, do setor financeiro, também listaram suas ações em Nova York. Um passo importante. Os investidores estrangeiros em Wall Street estão tomando conhecimento dessas empresas.
Investidores tradicionais também estão colocando seu dinheiro em fintechs brasileiras: em meados deste ano, a americana Berkshire Hathaway, de Warren Buffet, investiu no Nubank. E o JP Morgan comprou 40% do C6.
O que está ocorrendo atualmente no setor financeiro brasileiro foi descrito pelo economista Joseph Schumpeter como "destruição criativa". Todo desenvolvimento na economia é baseado no processo de destruição criativa. Os fatores de produção são recombinados e suplantam estruturas antigas. Utilizando smartphones e aplicativos, as fintechs podem alcançar clientes mais rapidamente e não precisam mais manter uma grande rede de filiais.
Esse processo de suplantação está ocorrendo em toda a economia brasileira atualmente: Quinto Andar e Loft estão abalando o setor imobiliário. Rappi e ifood mudaram completamente o setor alimentício. Loggi está abalando o setor de logística. E assim por diante.
A pandemia e a grande quantidade de capital em movimento no mundo aceleraram rapidamente essa mudança. A única coisa surpreendente é que, no próprio Brasil – nem mesmo na política ou nos órgãos da economia tradicional, ou seja, associações, grupos de lobby e pesquisa –, essa revolução ainda não é realmente percebida.
--
Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.
O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.