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Paz e consumismo

17 de dezembro de 2009

Pouco se sabe sobre a origem, o significado e as implicações exatas do ato de presentear. Sociólogo detecta raízes na procriação e função anti-agressiva. Para economista, orgia de compras de Natal é delírio consumista.

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Foto: picture-alliance/chromorange

Cada cidade tem seus costumes de Natal. Mas Berlim acrescentou um tempero especial à festividade, ao inventar o comércio natalino. Essas palavras, escritas pelo conceituado publicista Sebastian Haffner em 1933, poderiam datar de hoje.

Pois, nesse aspecto, a capital alemã nada mudou: no final de dezembro, seus cidadãos lotam as lojas de departamentos, os novos palácios do prazer, como se o mundo fosse se acabar. Eles zombam da crise e gastam fortunas em presentes. Mas, afinal, qual é o motivo de tal comportamento?

Orgia de compras

Em meio à maior loja de departamentos de Berlim, a Kaufhaus des Westens (KaDeWe), o sociólogo Friedrich Rost observa com um sorriso condescendente a orgia em massa da compra de presentes. Mas trata-se de um elemento social indispensável, explica o professor da Universidade Livre, que há 20 anos estuda o fenômeno do presentear e ser presenteado.

"Pois [presentear] é a expressão de um valor que, no fundo, não há como se comprar numa loja – quando a coisa dá certo. Existem, é claro, também presentes malsucedidos, e aí a decepção pode ser grande. Mas, em si, trata-se de sinais visíveis de um relacionamento. E para os sociólogos tais redes de relações – quem presenteia a quem com o quê – são muito interessantes."

Olhando-se por trás da fachada do ato, logo se nota que quem presenteia também fica extremamente feliz. Rost defende a tese de que dar algo voluntariamente inibe agressões e alivia conflitos acirrados. Aos olhos do sociólogo de Berlim, presentear é um puro ato social, capaz de estabelecer uma confiança que o dinheiro não compra. "Pois o outro é, por assim dizer, incluído. Não se trata de uma ação egoísta, voltada apenas para a própria vantagem: ela conta com o outro", esclarece.

Tema pouco estudado

É isto que devemos ter em mente ao dar presentes: somos como tropas de paz sob a árvore natalina. E essa é uma oportunidade única de pôr de lado velhos conflitos e mal-entendidos. Presentear é uma espécie de missão de capacetes azuis e não deveríamos apenas providenciar algo para encher a meia de Natal dos amigos, mas – precisamente – para os inimigos e adversários.

"São gestos de gentileza, a fim de gerar uma boa atmosfera para o diálogo. Exatamente como quando se é convidado para a casa de alguém não muito conhecido e se leva um ramo de flores, ou outra coisa, para gerar uma possível simpatia."

Por tratar-se de um tema a que a ciência tem dedicado pouca atenção, até hoje pouco se sabe sobre a origem, o significado e as implicações exatas do ato de dar presentes. Pois nele está oculta uma quantidade enorme de códigos e gestos, consensos culturais e mal entendidos de nossa vida cotidiana, explica Friedrich Rost.

"Uma das origens é, seguramente, a hospitalidade, a outra é o cuidado da cria, em especial o processo de escolha e conquista do parceiro. Há também raízes nas oferendas religiosas. Desse modo, deve-se partir do princípio de que é uma atividade muito complexa, que muito cedo se disseminou antropologicamente. E que, acima de tudo, se associou à experiência de que através dela se podem selar alianças."

"Delírio econômico"

Presentear seria, portanto, dar e receber, um ato recíproco que desperta sentimentos infantis de alegria e valorização, mas também de surpresas.

Porém alguns economistas veem a coisa um pouco diferente. O especialista em finanças inglês Joel Waldfogel fala de um "delírio econômico", que a cada ano destrói tantos valores quanto um furacão. Segundo suas pesquisas, os alemães gastam, em média, 700 euros como o Natal, no mais das vezes com resultados extremamente duvidosos.

Os campeões dos presentes equivocados são os sogros, seguidos de perto de avós, tias, irmãos e pais, revela o estudo de Waldfogel, que estima em 70 bilhões de euros a soma total das escolhas natalinas mal feitas. Por outro lado, lembra o sociólogo Friedrich Rost, quem recusa um presente magoa o presenteador. E isso representaria o fim da paz sob a árvore de Natal.

Autor: Christoph Richter (av)
Revisão: Soraia Vilela