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À beira da extinção

20 de maio de 2009

Modelo parece estar superado na Alemanha, como confirma o fechamento da tradicional Hertie. Muitas não reagiram a mudanças do mercado e perderam conexão com segmento médio de consumidores. Saída é optar por luxo ou lixo.

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Tempo está fechando para a ArcandorFoto: AP

O conglomerado alemão Arcandor está ameaçado de insolvência, se não receber ajuda do governo. A ele pertencem as lojas de departamentos Karstadt, a cadeia de vendas pelo correio Quelle e as agências de viagens Thomas Cook. Sem garantias estatais, o grupo financeiramente debilitado tem poucas chances de conseguir novos créditos bancários ou de prorrogar os já existentes.

Em declarações feitas em meados de maio, a empresa insistiu não querer nada "de presente", mas se propunha "obviamente a restituir na íntegra" um eventual empréstimo do Estado. Políticos e concorrentes reagiram mais do que céticos à declaração.

Aparentemente, existe um plano de resgate para a cadeia Karstadt e seus cerca de 30 mil funcionários, que prescinde de créditos ou garantias estatais. A cadeia de lojas de departamentos Galeria Kaufhof, pertencente ao grupo Metro, se dispõe a assumir as 121 filiais da Karstadt, salvando-as, assim.

Há anos, a Arcandor vem sendo forçada a apertar cada vez mais o cinto. Cadeias de lojas de departamentos como Hertie e Woolworth já declararam insolvência. Na quarta-feira (20/05), a assembleia de credores da tradicional Hertie declarou que as tentavivas de resgate da empresa serão suspensas, o que implica o fechamento até o meio do ano da central e das 54 filiais, que ao todo empregam 26 mil funcionários.

Glórias passadas?

Foram-se os tempos das grandes lojas de departamentos na Alemanha? Seja como for, sua importância caiu sensivelmente. Se, ainda na década de 1970, elas respondiam por 14% do faturamento do comércio varejista do país, hoje respondem por apenas 3,3%, sendo que até o comércio pela internet rende mais.

Assim, em abril último o conglomerado Arcandor anunciou um novo plano de cortes. Ele pretende se desfazer tanto de alguns estabelecimentos deficitários como do segmento de luxo, ao qual pertencem a Kaufhaus des Westens (KaDeWe) de Berlim, a Oberpollinger de Munique e a Alsterhaus de Hamburgo. Segundo a empresa, haveria "numerosos interessados" nas três casas.

Templo do luxo em Berlim

A KaDeWe está à venda. Em meio ao aperto, sua empresa-mãe quer se separar do maior templo de consumo da Europa. E, no entanto, tudo indica que o estabelecimento de luxo continua fazendo bom dinheiro, embora números exatos não sejam divulgados.

Gerhard Eick Vorstandsvorsitzender von Arcandor
Karl-Gerhard Eick, presidente da ArcandorFoto: AP

Esse sucesso é quase ostensivo. Logo na entrada, lojas próprias de grifes como Gucci, Louis Vuitton e Cartier competem entre si. As vitrines brilham com relógios de 4 mil euros e bolsas femininas de quase 2 mil euros. No sexto andar, a high society – e não só ela – se encontra para tomar champanha e comer lagosta.

A maior parte da clientela é da opinião de que "a KaDeWe não pode desaparecer". A cada dia, o "Centro Comercial do Oeste" recebe entre 40 mil e 50 mil visitantes. Na época que antecede o Natal, 180 mil pessoas chegam a passar pelo templo de consumo berlinense.

"Uma pérola" – resume o presidente da Arcandor, Karl-Gerhard Eick, o perfil da KaDeWe. E, no entanto, assim como outras lojas de departamentos, ela deverá ser desconectada da matriz e possivelmente até trocar de proprietário.

"Dormindo no ponto"

O grupo pretende, no futuro, concentrar-se ainda mais fortemente no segmento médio. No entanto, há especialistas que duvidam do sucesso de tal estratégia. Pois os tempos estão mais para os varejistas que ofereçam preços extraordinariamente baixos ou ofertas especialmente atraentes.

Redes de lojas de departamentos tradicionais, como a Karstadt ou a Hertie, "dormiram no ponto, não reagindo às tendências do mercado", postula o pesquisador de consumo Ingo Balderjahn, da Universidade de Potsdam. Ele critica o grupo empresarial por manter "concepções ultrapassadas", enquanto o mercado se desenvolveu em duas direções: no segmento superbarato e no de luxo.

Há anos, as cadeias de supermercados baratos Aldi ou Lidl, por exemplo, também oferecem roupas, artigos eletrônicos e eletrodomésticos, roubando a clientela das lojas de departamentos. Também as cadeias de roupas baratas KIK, Takko ou Ernstings Family se expandem cada vez mais pela Alemanha.

Investindo no luxo

Deutschland Berlin KaDeWe Hoffen auf Kaufrausch vor Weihnachten
KaDeWe: templo do luxo em BerlimFoto: picture-alliance/ dpa

No entanto, o tempo das grandes lojas de departamento não precisa ter necessariamente passado, pois elas continuam tendo grande importância para os centros das cidades alemãs. Como o de Potsdam, revitalizado com a inauguração de uma filial da Karstadt em 2005.

As lojas de departamento se encontram diante de um enorme desafio. Ao qual a Kaufhof já reagiu, reformulando muitas de suas filiais sob a marca Galeria.

Na da praça Alexanderplatz, em Berlim, um porteiro abre a porta para os clientes, que logo são envolvidos pelos aromas da seção de perfumaria. Móveis, tapetes e luminárias foram retirados do sortimento. Em seu lugar, há mais artigos de vestuário na Galeria Kaufhof, agrupados por marcas.

Ou luxo ou lixo

Sua grande concorrente, a KaDeWe, foi ainda mais longe. Em suas instalações, fabricantes de peso oferecem seus produtos por conta própria: shop-in-shop é denominada essa concepção, na qual os pesquisadores veem um brilho de esperança.

No geral, o especialista em consumo Balderjahn crê que as lojas de luxo famosas irão se impor em número bastante reduzido. "A grande massa das lojas de departamentos, porém, terá que descer para um patamar mais barato se quiser sobreviver."

Autor: Karsten Zummack
Revisão: Rodrigo Abdelmalack