Battisti admite participação em quatro assassinatos
25 de março de 2019Após anos de negativas, Cesare Battisti, ex-membro de uma guerrilha de esquerda, reconheceu sua responsabilidade em quatro assassinatos nos anos 1970 na Itália, anunciou nesta segunda-feira (25/03) o Ministério Público italiano. Depois de quase quatro décadas em fuga na França e no Brasil, o ex-militante fora extraditado em janeiro.
Esta é a primeira vez que Battisti, de 64 anos, admite sua responsabilidade nos quatro assassinatos, cometidos entre 1977 e 1979 e pelos quais fora condenado à prisão perpétua na Itália. Na época, ele fazia parte do já extinto grupo terrorista Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), algo que ele já tinha admitido, mas sempre negando o envolvimento nas mortes.
"Ele se abrigou no exterior por décadas graças a sua imagem de vítima inocente de perseguição política. Agora ele decidiu trazer à tona", afirmou o procurador que lidera a equipe antiterrorismo em Milão, Alberto Nobili.
Segundo o procurador Francesco Greco, Battisti foi interrogado durante o fim de semana na prisão de Oristano, na Sardenha, onde está recluso desde janeiro, quando foi detido na Bolívia e extraditado à Itália. O ex-militante também teria pedido perdão por seus atos.
Durante o interrogatório, que durou nove horas entre sábado e domingo, Battisti reconheceu "ter participado diretamente de quatro homicídios, dos quais foi o executor material em dois", disse Greco.
Sua confissão "faz justiça às várias polêmicas que aconteceram ao longo dos anos, honra as forças da ordem e a magistratura de Milão e deixa claro que este grupo, o PAC, atuou de maneira brutal desde os anos 1970", acrescentou Greco.
"Quando eu matei, pensei que estava lutando apenas numa guerra. Hoje eu entendo os erros que cometi e peço desculpas às famílias das vítimas", teria dito Battisti, de acordo com Nobili.
O advogado de Battisti, Davide Steccanella, confirmou a confissão do ex-militante e negou que ela tenha sido feito em troca de melhores condições na prisão ou da redução da sentença. "Meu cliente simplesmente decidiu esclarecer e explicar quem era aos 20 anos e quem é agora", ressaltou.
Battisti escapou da prisão na Itália em 1981, enquanto aguardava julgamento pelos quatro homicídios. Na década de 1990, foi condenado à prisão perpétua à revelia.
Após passar décadas na França e no México, Battisti se instalou no Brasil em 2004, onde permaneceu escondido até a sua detenção, em 2007. O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou sua extradição em 2009, mas os ministros disseram que a palavra final deveria ser do então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que rejeitou a medida em 31 de dezembro de 2010, o último dia de seu segundo mandato.
Em dezembro do ano passado, Temer assinou o decreto de extradição de Battisti, mas o italiano não foi localizado pela Polícia Federal. Dias depois, ele foi detido em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, de onde foi extraditado para a Itália em 13 de janeiro.
Após o anúncio da confissão, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil não será mais "o paraíso de bandidos". "Por anos denunciei a proteção dada ao terrorista, aqui tratado como exilado político. Nas eleições firmei o compromisso de mandá-lo de volta à Itália para que pagasse por seus crimes. A nova posição do Brasil é um recado ao mundo: não seremos mais o paraíso de bandidos!", afirmou numa rede social.
CN/efe/lusa/rtr/afp
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