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Parceria UE-Brasil

Geraldo Hoffmann3 de julho de 2007

Parceria estratégica com a UE fortalece posição internacional do Brasil, mas causa atritos na América Latina. Peritos dizem que Europa abandona estratégia de negociações com blocos regionais como o Mercosul.

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A presidência portuguesa da União Européia (UE) assina nesta quarta-feira (04/07), em Lisboa, um acordo de parceria estratégica entre a UE e o Brasil. Segundo o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, o objetivo é estreitar a cooperação nas áreas de direitos humanos, proteção do clima, segurança energética e biocombustíveis, bem como apoiar a estabilidade política e o desenvolvimento econômico na América Latina.

Para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que firmará o acordo com o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, trata-se de uma "decorrência natural de um relacionamento iniciado há 47 anos e se encontra em sintonia com as parcerias estratégicas que o Brasil já mantém com vários países-membros da UE, entre eles a Alemanha, a França, Espanha, a Itália e o Reino Unido".

Jose Manuel Barroso in Brasilien
Barroso: objetivo é estreitar relações em várias áreasFoto: AP

Apesar de se tratar de um acordo bilateral, Brasília espera também que ele dê um novo impulso às negociações do acordo de livre comércio UE-Mercosul. Na avaliação de peritos ouvidos pela DW-WORLD, a União Européia valoriza o papel de liderança do Brasil na América Latina, mas ao mesmo tempo gera vários atritos ao dar um tratamento especial ao país.

Segundo o diretor do Centro de Estudos da Fundação Konrad Adenauer no Rio de Janeiro, Wilhelm Hofmeister, o "selo de parceiro estratégico" iguala o Brasil a outros países emergentes, como a Rússia, a China e a África do Sul, nas relações com a Europa.

Ele observou, porém, que o acordo de Lisboa irrita principalmente a Argentina e o México e provoca dúvidas sobre o futuro das negociações UE-Mercosul. "Afinal, já se havia falado de uma 'parceria estratégica' [da UE] com o Mercosul. Essa negociações não devem ser interrompidas", adverte (leia a íntegra da análise de Hofmeister no link abaixo).

Adeus ao diálogo entre blocos

"Numa América do Sul à procura de posições comuns em questões centrais da política internacional, a notícia do tratamento privilegiado ao Brasil pela UE teve o efeito de uma bomba. A equiparação de fato do Brasil a outros atores centrais da globalização, como os EUA, a Rússia, a China e a Índia é vista como mais um sinal de que a UE abandona sua linha clássica de fomentar a integração regional e o diálogo entre diferentes regiões", avalia Wolf Grabendorff, diretor do Programa de Cooperação em Segurança Regional da Fundação Friedrich-Ebert no Chile.

Além disso, continua Grabendorff, o México e a Argentina, concorrentes do Brasil na América Latina, mais uma vez se sentem relegados a segundo plano, como já ocorreu quando a Alemanha apoiou o Brasil em seus planos de obter uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Segundo Grabendorff, especialmente nos demais países-membros do Mercosul há o temor de que, diante da estagnação das negociações do bloco com a UE, o Brasil não só busque um acordo de associação com os europeus, mas também procure se integrar à economia mundial com outros parceiros, preterindo os países vizinhos.

"A decisão da UE é considerada compreensível na região, levando em conta os interesses europeus, mas contraria os interesses regionais da América Latina", diz Gabendorff.

Fim das negociações UE-Mercosul?

Hartmut Sangmeister
Sangmeister: negociações UE-Mercosul se arrastam sem resultadosFoto: PLA

Na opinião do professor Harmut Sangmeister, perito em América Latina da Universidade de Heidelberg, a parceria estratégica UE-Brasil está relacionada com o processo de integração da Venezuela no Mercosul.

"As negociações entre a UE e o Mercosul se arrastam há anos sem resultado concreto e, com a ampliação do bloco sul-americano e seus atores neopopulistas, não se tornam mais fáceis. Nesse sentido, a parceria estratégica com o Brasil é uma tentativa de dar um status especial visível ao parceiro mais previsível, ainda que isso não traga vantagens imediatas", afirma Sangmeister.

Ele concorda com Grabendorff de que a União Européia "silenciosamente se despede de sua estratégia de negociações birregionais, à semelhança do que fizeram os EUA em relação à América Latina, após o fracasso de fato das negociações da Alca [Área de Livre Comércio das Américas], optando por acordos bilaterais com os países da região que não se deixaram contagiar pela revolução bolivariana".