Protestos em Moçambique: Nyusi reage e admite "impaciência"
8 de novembro de 2024Segundo Filipe Nyusi, "naturalmente que essa impaciência temos todos nós, eu também tenho, para ver quando é que a gente sabe com quem fala, como falamos, porque falamos", disse, em declarações aos jornalistas, depois de visitar o centro comercial do grupo de supermercados sul-africano Shoprite, em Maputo, onde duas lojas foram vandalizadas e pilhadas nas manifestações violentas, de contestação aos resultados eleitorais, nesta quinta-feira (07.11).
"Vim aqui ver este espetáculo. É aqui onde a mensagem da violência se reflete. Pode-se querer desviar a mensagem ao mundo inteiro, mas isto aconteceu", afirmou o Presidente moçambicano, acrescentando que "se não houvesse ação da polícia, a travar, quando eles iam à baixa, acredito que aquelas lojas deles, todas, estariam nesta situação", disse.
"Mas a polícia conseguiu gerir", afirmou, recordando que muitos desses comerciantes também participam nestas marchas e manifestações, por vezes para "reclamar outras coisas".
Recusando as críticas constantes ao Conselho Constitucional, órgão que tem a competência de proclamar os resultados das eleições em Moçambique, Nyusi disse ainda que "se alguma lei e algumas coisas estão mal feitas, os moçambicanos têm capacidade de corrigir", argumentou.
"Manipulámos a opinião do Conselho Constitucional, não podemos tomar decisão nessa altura em manipulação. Isso não é um Estado democrático", afirmou.
"Dia seguinte"
O dia seguinte aos protestos foi de uma aparente calma na cidade de Maputo, como registou o enviado especial da DW à capital moçambicana, Amós Fernando; que relatou que há o regresso à atividade laboral nalgumas partes da cidade. No entanto "grande parte das lojas não está aberta", disse.
Segundo o diretor do Banco de Socorro do Hospital Central de Maputo, Dino Lopes, além de feridos, alguns em estado crítico, registou-se uma morte.
"Fizemos de tudo para o reanimar o paciente, sem sucesso. Ele tinha lesões muito graves. Vinha transferido de uma outra unidade sanitária da Grande Maputo. [Ao todo,] temos três casos graves", disse, acrescentanto que outros pacientes estão fora de perigo.
Vandalismo
Os atos de vandalismo também provocaram prejuízos a instituições públicas e privadas. Ontem, foram saqueadas as instalações do Instituto Nacional de Gestão de Riscos e Desastres (INGD), como revelou nesta sexta-feira a presidente da instituição, Luísa Meque.
"A instituição está danificada. Confessamos que é um retrocesso muito grande. Com o que aconteceu estamos praticamente num ambiente desolador", explicou. "Temos praticamente todos os vidros partidos, levaram tudo o que tem a ver com televisores e equipamentos de trabalho, embora alguns tenham sido recuperados pela segurança", disse.
Entretanto, esta sexta-feira, o PODEMOS denunciou a detenção de mais de 30 membros do seu partido, sem base legal, incluindo o delegado provincial da Coligação Aliança Democrática (CAD), que comandava todas operações do referido partido, entretanto colocado em liberdade.
Além disso, disse à DW, o delegado do PODEMOS na cidade de Nampula, José Ali, 15 membros do partido estariam a ser perseguidos pela polícia em Mogovolas.
Em comunicado, a Sala da Paz, uma organização não-governamental (ONG), expressou preocupação com a escalada de violência no país. Segundo essa ONG, a Associação Médica de Moçambique (AMM) apurou mais de 20 vítimas mortais e 108 pessoas baleadas. Já a Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM) fala de 2700 detenções. Porém, até agora, os número totais de vítimas são díspares, e as autoridades oficiais não se pronunciaram.
Vamos evitar confrontações violentas, apelou Graça Machel
Também Graça Machel, viúva do primeiro Presidente de Moçambique, reagiu aos últimos acontecimentos com um apelo de serenidade endereçado aos moçambicanos. "Vivemos momentos muito conturbados, talvez nunca vistos na história da nossa jovem Nação. […] As manifestações têm que se desenrolar num contexto de serenidade, de respeito pelos manifestantes e de respeito pelas regras estabelecidas nos termos da lei. […]. Vamos evitar confrontações violentas."
O país já registou muitas perdas de vidas humanas, lembrou a ativista Graça Machel, que exortou os moçambicanos a não continuarem a achar que é normal e aceitável perder vidas.
Os protestos seguem o apelo à manifestação rumo a Maputo lançado pelo candidato presidencial, Venâncio Mondlane, apoiado pelo partido PODEMOS, para contestar a alegada fraude dos resultados das últimas eleições presidenciais e legislativas.