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Protestos intensos fazem de Maputo um campo de batalha

Sandra Quiala | Nádia Issufo | com correspondentes
7 de novembro de 2024

Maputo tem sido palco de intensos confrontos esta quinta-feira, 7 de novembro: pilhagens, pneus em chamas e repressão policial marcam os protestos contra os resultados eleitorais.

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Um manifestante acena em frente às forças policiais esta manhã, em Maputo
Um manifestante acena em frente às forças policiais esta manhã, em MaputoFoto: Alfredo Zuniga/AFP/Getty Images

A capital moçambicana vive esta quinta-feira (07.11) um verdadeiro "campo de batalha" com manifestações, pilhagens e forte repressão policial em contestação aos resultados das eleições gerais de outubro. A situação, que começou com uma relativa calma nas primeiras horas da manhã, rapidamente se deteriorou com cenas de violência e confrontos entre manifestantes e forças de segurança.

No centro de Maputo, a Avenida Acordos de Lusaka foi palco de pilhagens a um centro comercial, onde dezenas de manifestantes invadiram e vandalizaram duas lojas, retirando televisores, telemóveis, frigoríficos e outros produtos. De acordo com um segurança do local, "mais de 100 pessoas invadiram e vandalizaram as lojas".

Em resposta, a polícia mobilizou-se para tentar recuperar o material roubado e fez várias detenções no local, enquanto perseguia os saqueadores e disparava gás lacrimogéneo. A cena de pilhagem e repressão deixou o local coberto de caixas abertas e produtos espalhados.

Confrontos violentos

À medida que o dia avançava, as principais avenidas da cidade, como a Eduardo Mondlane e a Julius Nyerere, foram bloqueadas com pneus e contentores de lixo em chamas. O fumo negro encobria parte significativa da cidade, enquanto os manifestantes, pró-Venâncio Mondlane, atiravam pedras e garrafas contra as forças policiais, que responderam com tiros e granadas de gás lacrimogéneo.

Vários moradores manifestaram-se das janelas batendo panelas, num gesto de solidariedade com os protestos, enquanto as forças de segurança tentavam isolar os manifestantes e evitar a sua aproximação ao centro da cidade.

Marcha dos subúrbios 

Dos subúrbios, centenas de apoiantes de Venâncio Mondlane partiram do bairro de Maxaquene em direção ao centro de Maputo. Empunhando cartazes e tarjas, os manifestantes tentaram avançar, mas foram repetidamente travados pela polícia, que usou gás lacrimogéneo para os dispersar.

Manifestantes seguram um caixão falso com o rosto de Daniel Chapo, da Frelimo, que sucederá ao Presidente Filipe Nyusi e se tornará o quinto Presidente de Moçambique
Manifestantes seguram um caixão falso com o rosto de Daniel Chapo, da Frelimo, que sucederá ao Presidente Filipe Nyusi e se tornará o quinto Presidente de MoçambiqueFoto: Siphiwe Sibeko/REUTERS

A cada intervenção policial, os manifestantes reorganizavam-se, tentando de novo avançar em direção ao centro, mas eram bloqueados com cordões de segurança. "A polícia não nos vai parar hoje", afirmou um manifestante, exausto e revoltado com a repressão.

Internet restrita

As restrições ao acesso à Internet em Maputo continuam pelo oitavo dia consecutivo, com dificuldades de acesso a redes sociais, o que tem dificultado a comunicação e organização entre os manifestantes.

Nos bairros da cidade, pequenas manifestações espontâneas surgem, com manifestantes a tentarem deslocar-se para o centro e a serem bloqueados por viaturas blindadas e unidades da Unidade de Intervenção Rápida (UIR). A polícia intensifica o uso de gás lacrimogéneo e balas de borracha, enquanto grupos de manifestantes recorrem a garrafões de água para limpar os rostos afetados pelo gás.

Manifestantes seguram uma faixa com um retrato do candidato presidencial Venâncio Mondlane
Manifestantes seguram uma faixa com um retrato do candidato presidencial Venâncio Mondlane Foto: ALFREDO ZUNIGA/AFP

Crise

A crise em Maputo teve início com o anúncio dos resultados eleitorais a 24 de outubro, quando a Comissão Nacional de Eleições (CNE) declarou Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), vencedor com 70,67% dos votos.

Venâncio Mondlane, que obteve 20,32%, contestou os resultados e convocou uma paralisação geral e uma série de manifestações nacionais. A Ordem dos Advogados de Moçambique alertou para o risco de "um banho de sangue" e apelou a um "diálogo genuíno" para evitar mais violência.

O clima em Maputo permanece extremamente tenso, com fortes repressões policiais e manifestações em diversos pontos da cidade e bairros periféricos. O som das balas e granadas de gás lacrimogéneo ecoa pelas ruas enquanto manifestantes, exaustos, resistem e clamam por justiça e mudanças políticas.

Polícia dispara contra manifestantes ajoelhados em Maputo