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Moçambique: Governo em silêncio apesar de protestos

Tainã Mansani | DW (Deutsche Welle) | com agências
7 de novembro de 2024

Maputo viveu "cenário de guerra" durante manifestação convocada hoje por Venâncio Mondlane, segundo enviado especial da DW. Mondlane promete continuar até "verdade eleitoral" restabelecida. Governo continua em silêncio.

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Mosambik | Proteste in Maputo
Foto: Siphiwe Sibeko/REUTERS

Enquanto o Governo de Moçambique permanece em silêncio quanto aos intensos protestos no país, o candidato presidencial moçambicano Venâncio Mondlane, que rejeita os resultados das eleições gerais de 9 de outubro, reafirmou nesta quinta-feira que as manifestações de protesto continuarão até que a verdade eleitoral seja restabelecida.

Numa transmissão ao vivo na rede social Facebook, Mondlane acusou a polícia de saquear estabelecimentos comerciais e, no bairro de Maxaquene, de ser responsável pela morte de duas pessoas.

"O povo está determinado a tomar o poder, e já o tomou", afirmou com convicção, referindo-se aos manifestantes que tomam as ruas da capital moçambicana. "A hora é agora, o povo já exerce o poder", disse ele.

Intensos confrontos marcaram os protestos nesta tarde, mas o número exato de feridos e detidos ainda não é conhecido. Em entrevista à DW, o observador eleitoral e analista político Wilker Dias relatou que a repressão policial aos protestos em Moçambique resultou em pelo menos três mortos e dezenas de feridos. Dias também dirigiu uma questão direta ao Presidente da República, Filipe Nyusi: Onde está ele até agora?

Filipe Nyusi, Presidente de Moçambique
Filipe Nyusi, Presidente de MoçambiqueFoto: Phill Magakoe/AFP/Getty Images

Onde está Nyusi?

Por sua vez, Nyusi - que ainda não se pronunciou sobre os protestos no país - parabenizou, através da rede social Facebook, o candidato presidencial norte-americano Donald Trump pela vitória nas eleições norte-americanas nesta terça-feira.

Entretanto, falando sobre o opositor, Venâncio Mondlane, o analista político Rufino Sitoe disse à DW que a crise pós-eleitoral no país transcende a figura de Mondlane e que o Governo precisa, com urgência, de um plano para lidar com a situação.

Sitoe ressaltou que o Executivo deveria ter agido de imediato para iniciar um diálogo com os manifestantes, lamentando que a tensão pós-eleitoral tenha chegado a um ponto tão crítico. "É frustrante ver Moçambique chegar a esse estágio", concluiu o analista.

Manifestantes observam enquanto agentes da polícia de choque de Moçambique bloqueiam a estrada em Maputo
Manifestantes observam enquanto agentes da polícia de choque de Moçambique bloqueiam a estrada em MaputoFoto: Alfredo Zuniga/AFP/Getty Images

"Cenário de guerra"

O enviado especial da DW em Maputo, Amós Fernando, relatou nesta tarde que a cidade está vivendo uma situação de caos, com cenas de confronto nunca antes presenciadas. Segundo relatos, pela primeira vez, os manifestantes conseguiram adentrar esta tarde o centro da cidade, chegando a uma curta distância da Presidência da República.

Nas proximidades da Rádio Moçambique, a polícia recorreu ao uso de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes, muitos dos quais são jovens. A tensão foi ainda maior nos bairros periféricos, onde a maioria dos jovens aderiu à marcha convocada pelo opositor Venâncio Mondlane.

Espera-se que os protestos se prolonguem pela noite e pelos próximos dias. Analistas indicam que as manifestações devem continuar até o dia 10 de novembro, quando se celebra o dia da cidade de Maputo.

Protestos em Luanda e Lisboa

Em Angola, ativistas foram detidos hoje durante uma manifestação em apoio aos protestos que estão a decorrer em Moçambique. Entre os detidos esteve M´banza Hamza, que foi integrande do grupo de ativistas angolanos 15+2, presos em 2015, em Luanda.

Libertado quatro horas após a detenção, o ativista angolano M´banza Hamza disse à DW que houve "abuso da autoridade" e agressão por parte da polícia durante a detenção.

À DW, ontem, o ativisita Hitler Samussuku, também integrante do 15+2, disse que os protestos em Moçambique estão a inspirar também a juventude angolana, em Luanda e na diáspora.

Já em Lisboa, vários cidadãos exigiram hoje, em protesto, justiça eleitoral em Moçambique. Entre os manifestantes, uma ativista angolana que faz parte dos promotores da marcha criticou o silêncio de Portugal, que, segundo disse, devia ter uma posição mais clara em relação à crise eleitoral que se vive no país.

Portugal manifesta preocupação

O primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro
O primeiro-ministro de Portugal, Luís MontenegroFoto: PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP/Getty Images

Nesta quinta-feira, o primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, disse que acompanha "com preocupação" a situação no terreno em Moçambique, país palco de intensas manifestações para contestar os resultados das eleições gerais, e garantiu esforços diplomáticos de Portugal para retorno à calma. 

"Claro que sim [que há preocupação] e já temos expressado em nome do Governo essa preocupação", disse ele, "estamos a acompanhar muito de perto a evolução no terreno e estamos, neste momento, ainda à espera das decisões do Conselho Constitucional e, portanto, de poder ver os resultados totalmente anunciados, naturalmente, desejando que todos os intervenientes possam manter o discernimento que possa evitar uma escala de violência nas ruas", afirmou o chefe de Governo português.

O Consulado-Geral de Portugal em Maputo também criou um grupo na rede social Whatsapp "para disponibilizar um canal de comunicação direta adicional", em função da "atual situação de instabilidade" em Moçambique.

Por que os jovens protestam?

Muitos cidadãos moçambicanos, a maioria jovens, exige "o povo no poder", contestando os resultados eleitorais que dão vitória ao partido no poder há quase 50 anos em Moçambique, a FRELIMO.

Hoje cumpre-se o oitavo dia de paralisação e manifestações em todo o país, com a generalidade a levar à intervenção da polícia, que dispersa com tiros e gás lacrimogéneo, enquanto os manifestantes cortam avenidas, atiram pedras e incendeiam equipamentos públicos e privados.

Tainã Mansani Jornalista multimédia