Eleições: "Angola pode estar perto de uma mudança"
23 de agosto de 202224 de agosto é o dia em que os angolanos vão escolher o seu próximo Presidente, que conduzirá os destinos do país nos próximos cinco anos.
Acredita-se que esta será a votação mais renhida da história de Angola. Concorrem oito formações políticas, e mais de 14 milhões de eleitores são chamados a votar, no país e, pela primeira vez, na diáspora.
Será que 47 anos depois da liderança do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA), chegou a hora de uma viragem?
Em entrevista à DW África, o analista moçambicano Borges Nhamirre diz que tem dúvidas. "Se estas eleições forem justas, poderão representar um marco histórico no sistema político angolano e gerar a mudança", mas organizações da sociedade civil e a oposição já constataram várias irregularidades, mesmo antes do escrutínio.
"A limitação do número de observadores, por exemplo, vai influenciar na contagem dos votos, havendo grandes chance de fraude", afirma Nhamirre.
DW África: Qual a importância histórica destas eleições em Angola?
Borges Nhamirre (BN): Estas eleições são das mais renhidas desde 1992, ano em que se realizaram as primeiras eleições democráticas em Angola. São renhidas acima de tudo pela qualidade dos candidatos, principalmente do [principal] candidato da oposição, [Adalberto Costa Júnior]. Quarenta e sete anos depois, pode-se estar perto de uma mudança no cenário político em Angola, e isto é um facto histórico.
DW África: O que quer dizer com a qualidade dos candidatos?
BN: Adalberto Costa Júnior mostrou ser um líder carismático, com ideias consolidadas, que há muito não se via em Angola. Do outro lado, o atual Presidente João Lourenço, candidato à sua própria sucessão apresenta uma baixa performance, aquele oxigénio que deu no início do mandato foi-se esvaziando aos poucos, com promessas não muito cumpridas, e o cenário atual não o favorece. Por tudo isso, se estas eleições forem justas, poderão representar um marco histórico no sistema político angolano e gerar a mudança.
DW África: Mas há injustiças?
BN: Temos dois problemas. Primeiro, o campo político extremamente desequilibrado, a favor do MPLA. Segundo, o acesso aos meios financeiros. A oposição não tem os mesmos recursos que o MPLA, que são meios do Estado. Também tem o problema das irregularidades da administração eleitoral. A Comissão Nacional Eleitoral não é imparcial. E a limitação do número de observadores, por exemplo, vai influenciar na contagem dos votos, havendo grandes chance de fraude.
DW África: O que dizer sobre o facto de a diáspora angolana poder votar pela primeira vez este ano?
BN: Tem um valor simbólico e pode beneficiar o atual Presidente. O número de eleitores tem um peso insignificante no resultado final, mas o importante é que o Governo tenha criado condições para que esse direito constitucional seja exercido.
DW África: Como é que estas eleições podem ser encaradas no contexto regional?
BN: Angola é uma potência regional da África Austral e central também. Tudo o que acontece em Angola tem um grande potencial de influenciar os outros Estados da região. Uma eleição malconduzida, que eventualmente vai desembocar numa crise política ou de segurança ou alguma instabilidade, vai sentir-se não só nos Estados vizinhos, mas em todos os Estados que dependem de Angola. Neste momento, Moçambique depende do apoio logístico aéreo de Angola para combater o terrorismo, São Tomé e Príncipe recebe ajuda militar e financeira e petróleo, e tudo isto poderá ser afetado dependendo do cenário pós-eleições.
Estas eleições podem também inspirar positiva ou negativamente situações similares em outros Estados da região que se preparam para eleições, há esse risco.