Volta ao mundo na Alemanha
6 de agosto de 2011A volta ao mundo pela Alemanha – de carro e ao longo de 3500 quilômetros, do sul ao norte do país – começa em Bethlehem (Belém), na Baviera. A Belém alemã fica próxima de Lengenwang, com cerca de 1400 habitantes. Antes de se chamar Bethlehem, até o século 19 a localidade chamava-se Bettelheim e seus habitantes eram muito pobres.
Dali, segue-se para Türkei (Turquia), em Crailsheim, no estado de Baden-Württemberg. A cidade recebeu este nome em 1894, quando trabalhadores turcos ali chegaram para construir uma linha ferroviária.
A poucos quilômetros da Turquia alemã, em Kisslegg, no sul da Alemanha, fica Strassburg. Não se trata da Estrasburgo francesa, que fica um pouco mais adiante, na fronteira entre a Alemanha e a França.
Casar-se em Roma e caminhar da América à Rússia
Todos os caminhos levam a Roma. A versão alemã da capital italiana fica no município de Morsbach, na Renânia do Norte-Vestfália, próximo a Colônia. Há até uma réplica da Fontana de Trevi – a fonte eternizada pelo clássico La Dolce Vita, de Fellini –, onde se realizam casamentos. Mas a Roma (Rom) alemã não foi fundada nem habitada pelos romanos. A palavra "Rom", em alemão, era uma expressão antiga para minério e metal, cuja extração foi importante para a economia local até o início do século 20.
Dali, a viagem passa por Alpen (Alpes), na região de Düsseldorf, e chega ao continente americano. A comunidade de Kanada (Canadá), na Turíngia, nasceu por volta de 1930. Naquele tempo, os moradores derrubaram a floresta nativa e construíram casinhas de madeira. "Parece o Canadá", diziam os que por ali passavam. E assim nasceu o nome da localidade, que até hoje causa confusão. Já aconteceu inclusive de a correspondência endereçada à Canadá alemã sofrer um desvio por Montreal. A placa com o nome da cidade foi um presente da embaixada canadense.
Cinco horas de viagem mais tarde, chega-se ao distrito Amerika (América), em Friedeburg, no estado da Baixa Saxônia. O nome vem dos colonizadores que ali chegaram no século 19, quando muitos atravessavam o oceano em busca de uma vida melhor.
Seguindo uma trilha de sete quilômetros chega-se a Russland (Rússia), outro distrito de Friedeburg. Segundo a lenda, há mais de cem anos vivia ali um pobre camponês, que, por causa de seu comportamento ríspido, era chamado de "russo".
Talvez o nome também tenha pegado porque o solo do local – pobre em nutrientes e intransitável – lembrava o da Rússia. Quem completa a caminhada entre Amerika e Russland recebe um certificado com o carimbo de entrada "Amerika".
Depois da Rússia, o viajante pode escolher seguir para a terra das pirâmides ou a dos cowboys. Ägypten (Egito) e Texas ficam próximas – nos municípios de Neuenkirchen e Oesingen, respectivamente. Ou o aventureiro pode ir direto para Krakau (Cracóvia), em Coswig, na Alta Saxônia.
Nas praias da Califórnia e do Brasil
Da Polônia, volta-se ao continente americano. Philadelphia fica em Storkow, no estado de Brandemburgo, e foi batizada pelo rei Frederico 2º da Prússia. No século 18, ele mandou colonizar as terras do estado, entre elas os lugarejos Hammelstalle e Häufchen. Conta-se que os habitantes eram ridicularizados por causa destes nomes – "estábulo de carneiros" e "montinho", na tradução literal – e, por isso, encaminharam uma petição ao rei.
Frederico 2º – simpatizante da Guerra da Independência dos Estados Unidos (1775-1883) – mudou, então, o nome dos vilarejos para Neu (Nova) Philadelphia e Neu Boston.
E quem ainda tiver tempo e disposição pode dar um pulinho a Kamerun (Camarões) e Afrika. Ou pode ir direto a Waterloo, em Brandemburgo. O nome foi dado por um conde que participou da batalha contra Napoleão na Waterloo original, na Bélgica, em 1815.
Da Bélgica, a viagem segue para as praias de Kalifornien e Brasilien, cuja semelhança com as localidades homônimas no continente americano se restringe apenas ao nome. As praias alemãs ficam no município de Schönberg, no norte da Alemanha, à beira do gelado Mar Báltico.
Diz a lenda que um navio chamado "Califórnia" afundou ali diante da costa. Um morador teria encontrado uma tábua com o nome da embarcação e a pendurou diante de sua casa. Um vizinho invejoso passou a exibir, então, uma placa com o nome "Brasilien".
A jornada termina em England (Inglaterra), também em Schleswig-Holstein. O nome veio do dialeto Plattdeutsch (baixo-alemão). O lugar antigamente era chamado "Enges Land" ("terra estreita"), em referência ao pequeno porto local. Depois de ser roubada diversas vezes, a placa com o nome do lugarejo está hoje muito bem afixada.
Após passar por sete estados da Alemanha, a volta ao mundo – bem mais breve que os 80 dias descritos por Júlio Verne – chega ao fim. Mas ela pode ser ainda mais curta que os 3500 quilômetros, possíveis de se viajar em 24 horas. No estado de Schleswig-Holstein, no norte da Alemanha, há uma localidade chamada "Welt" ("mundo"), que pode ser percorrida de norte a sul rapidamente – e a pé.
Autora: Luisa Frey
Revisão: Roselaine Wandscheer