Cerveja alemã
25 de junho de 2011Por que existem tantas cervejarias na região montanhosa da Francônia, conhecida como "Fränkische Schweiz", ninguém sabe dizer exatamente. Mas qualquer morador da região sabe falar sobre a sua relação pessoal com a cerveja. De preferência, acompanhado da bebida gelada.
Os cidadãos de Bamberg, declarada patrimônio da humanidade, orgulham-se de seu consumo anual per capita: 280 litros de cerveja por habitante, de acordo com as estatísticas. Lá, isso não é motivo de preocupação, apenas indica o quão especial é a relação cultural com a bebida e com as suas matérias-primas.
"O lúpulo precisa ver o seu mestre todos os dias." Por isso, diariamente, Norbert Kramer faz uma visita à plantação durante o trajeto entre o escritório, a cervejaria e a adega, para verificar a saúde da vegetação. O chefe da cervejaria St. GeorgenBräu, em Buttenheim, realiza um cultivo especial totalmente orgânico, sem o uso de agrotóxicos, que dá à cerveja um sabor característico. Também a cevada, da qual é extraído o malte, vem de uma plantação local. A cervejaria funciona sob administração familiar desde 1624.
Nascido dois séculos depois, Lob Strauss não tinha como sobreviver na região. Por conta de dificuldades financeiras e de medidas antissemitistas, o filho de judeus teve de fugir e emigrar com a família para os Estados Unidos. A partir de então, ele passou a se apresentar como Levi e fundou uma empresa têxtil, que produzia roupas duráveis para os pioneiros em busca de ouro e fortuna no Velho Oeste. Hoje, o Museu Levi Strauss e uma cerveja própria mantêm viva a memória do famoso cidadão de Buttenheim que inventou a calça jeans.
Inconfundível na aparência e no conteúdo
Já Ernst Rothenbach tem os pés firmados na Francônia. "Quando criança, eu me irritava por ter que cumprimentar a todos", admite o gerente da cervejaria Rothenbach. Hoje, ele fica feliz por conhecer todo mundo por ali. Um se preocupa com o outro, a convivência é melhor do que na cidade grande, diz ele. A casa onde hoje se serve cerveja foi comprada por sua família na comunidade de Aufseß em 1723, quando o antigo dono emigrou para os Estados Unidos. Desde 1886, os Rothenbachs produzem cerveja ali, com utensílios que adquiriram de monges franciscanos.
Os Rothenbachs não se atrevem a experimentar, quando se trata da qualidade dos ingredientes para a cerveja. A água, eles buscam em sua própria fonte. A cevada cresce ao redor do vilarejo. "Essa área elevada é muito apropriada, e talvez essa seja uma razão para haver tantas cervejarias por aqui", supõe Ernst Rothenbach.
Nas pequenas cervejarias, o mestre cervejeiro ainda pode fabricar cerveja com notas particulares. "Nenhum gerente de marketing ou diretor influencia a conquista de um produto de sucesso", afirma Rothenbach. Essa singularidade na competição entre os pequenos comerciantes é responsável pelo sucesso e pela sobrevivência no ramo.
O coproprietário da cervejaria Rothenbach considera genial a tampa de pressão, que dispensa o abridor e permite fechar novamente a garrafa após alguns goles. Foi seu pai quem lutou para introduzir esse tipo de fecho, que hoje está em alta novamente, orgulha-se Ernst Rothenbach. Persistência e conservadorismo são características da população do norte da Baviera.
Aceitação rápida na comunidade
Natural da região do Reno, Bianca Roth-Helmenstein gostou tanto dessa mentalidade que se mudou com o marido para Aufseß. Hoje ela ri sobre o esforço que foi conseguir reformar o local dos antigos correios. "Mas os moradores aceitaram e hoje nos apóiam", conta a artesã, em meio ao cheiro de peixe defumado que se espalha no ar.
Na propriedade do século 13, hóspedes podem desfrutar de peixes recém-defumados, pães de fabricação própria, bolos e sucos naturais. Também é possível levar para casa uma das bijuterias ou cerâmicas fabricadas por Bianca Roth-Helmenstein, que também dá aulas de antigas técnicas de artesanato – como fabricação de papel e encadernação – a crianças, adolescentes e adultos.
Férias em Zapfhahn
Na trilha de 14 quilômetros em torno de Aufseß, encontra-se muita gente bem humorada. Afinal, o caminho leva de uma cervejaria a outra. A comunidade de Zapfhahn, com 1500 habitantes, tem quatro fábricas de cerveja e está no Guinness, o livro dos recordes, pela quantidade de cervejarias por metro quadrado. Há uma para cada 375 moradores. Os visitantes podem registrar a sua entrada no vilarejo com um carimbo e, se desejarem, recebem um certificado da comunidade ao final do "tour da cerveja".
Hilmar Reichold, chefe da cervejaria homônima, é a quarta geração da família dedicada à fabricação da bebida. Seu filho também trabalha no negócio e Reichhold está convencido de que a tradição será mantida. Atrás da sua cervejaria, há espaço para os turistas acamparem, e no inverno, quando poucas pessoas visitam o local, Reichhold propõe um fim de semana "all inclusive", em que os hóspedes podem comer e beber à vontade.
Cada cervejaria tem seus clientes regulares, e muitas delas oferecem quartos e organizam caronas para os visitantes, se necessário. E, como todos os que passam pela rota das cervejas não vão embora sem comer alguma coisa, a região é também repleta de açougues e defumadores de peixe.
Autora: Karin Jäger (lf)
Revisão: Francis França