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Vaias e faixas hostis para o chanceler

Estelina Farias15 de outubro de 2003

Coro de vaias e gritos irados abafam aplausos para o chanceler Gerhard Schröder no Congresso do Sindicato dos Metalúrgicos, às vésperas da votação do seu pacote de reformas, entre elas a do mercado de trabalho.

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Gerhard Schröder (centro), sob pressão dos sindicalistasFoto: AP

Nunca o chanceler federal da Alemanha, Gerhard Schröder, havia sido recebido com tanta hostilidade, desde que assumiu o poder em 1998, como ocorreu nesta quarta-feira (15) pelos metalúrgicos em sua cidade, Hanôver. O início do seu discurso de 45 minutos foi acompanhado com silêncio sepulcral pelos 600 delegados. As vaias começaram quando ele passou a esclarecer a necessidade das mudanças nestes tempos de crise econômica com desemprego em massa. A partir deste trecho, foi interrompido, com freqüência, por vaias estridentes e exclamações iradas. No final, Schröder pediu ao IG-Metall pelo menos reflexão, já que não poderia pedir seu apoio para as reformas sociais.

Ele foi recebido com faixas evidenciando a irritação dos metalúrgicos com o Partido Social Democrata (SPD), do qual é presidente. Até retornar ao poder em 1998, o SPD era um aliado tradicional dos sindicatos dos trabalhadores. Uma delas dizia "Promessa quebrada – Agenda 2010 aprovada", em alusão ao pacote de reformas que reduzem as conquistas dos trabalhadores. Outras diziam "esta política não merece aplauso" e "tira a mão da autonomia sindical".

Schröder exigiu dos sindicatos um debate mais leal sobre as suas reformas, cuja meta seria manter uma sociedade justa e alocar os recursos limitados em tarefas para o futuro. Rejeitou, ao mesmo tempo, exigências dos sindicatos por programas conjunturais, justificando que seria errado um crescimento artificial.

Autonomia sindical

– Schröder encontrou à sua espera, no congresso ordinário dos metalúrgicos, em Hanôver, uma declaração dos presidentes do IG-Metall, Jürgen Peters, e da Confederação dos Sindicatos Alemães (DGB), Michael Sommer, com protestos veementes contra uma diluição da autonomia dos sindicatos para determinar contratos coletivos de trabalho.

"A autonomia não pode virar elemento de tática político-partidária", diz a declaração aprovada pelos 600 delegados para ser entregue ao chefe de governo. "Quem ataca a autonomia sindical abala um dos pilares da democracia social", complementou o líder dos metalúrgicos. Peters foi eleito do IG-Metall em congresso extraordinário, convocado em função da crise gerada com a greve fracassada dos metalúrgicos do Leste pela mesma jornada semanal de 35 horas dos operários da parte ocidental do país.

Perigo de incêndio

– O presidente da DGB também advertiu os partidos políticos a não escavarem a autonomia sindical. "Quem acende este pavio corre o risco de provocar um grande incêndio", comparou Sommer. Ele esclareceu que "as partes envolvidas em negociações ou conflitos trabalhistas (representantes de empregados e empregadores) podem regular o que existe para regular e não precisam de legislador".

As relações tradicionalmente boas dos sindicatos com o SPD já azedaram no primeiro mandato da coalizão vermelho-verde. Após um balanço das perdas e danos para os trabalhadores, a Confederação dos Sindicatos Alemães (DGB), que sempre foi muito generosa com o SPD, reduziu ao mínimo sua contribuição financeira na última campanha eleitoral, em 2002.

O pacote é também altamente polêmico na coalizão social-democrata e verde e mesmo na bancada do SPD no Parlamento em Berlim. O chefe de governo ameaçou renunciar, se as reformas não forem aprovadas pelos deputados governistas. Para tranqüilidade de Schröder, eles aprovaram o pacote numa votação que serviu apenas de teste. Mas a decisão para valer será nesta sexta-feira.