Cidades & Roteiros
9 de dezembro de 2006Fundada pelos romanos no ano 16 antes de Cristo como Augusta Treverorum, Trier é a cidade mais antiga da Alemanha. Como foi residência imperial e a capital do Império Romano do Ocidente no final do século 3º, chegou a ser considerada a "segunda Roma". Seis imperadores residiram na cidade, que no século 4º já tinha 80 mil habitantes.
Perto de Luxemburgo e da França
Quem quiser conhecê-la, pode desembarcar nos aeroportos de Luxemburgo ou Frankfurt. Trier é uma das cidades mais ocidentais da Alemanha, situando-se no triângulo formado com Luxemburgo e a França. Dali é um pulinho até Metz e Nancy (França) ou a Liège (Lüttich), na Bélgica. De trem, não está longe de Colônia, Koblenz e Frankfurt, e é acessível até de barco, através do Mosela.
Mosela é sinônimo de vinho, o que não negam suas belas margens, repletas de vinhedos, uma paisagem que também revela a presença romana. Mas o "ar romano" da cidade não se resume às ruínas e ao bom vinho servido na gastronomia: quem visitar Trier poderá experimentar iguarias preparadas conforme as antigas receitas do cozinheiro romano Apicius. A cozinha romana se destaca pelo uso refinado de ervas, o uso de vinho e mel e um equilíbrio agridoce dos sabores.
Do estilo romano ao barroco
A Porta Nigra, o portão negro que os romanos construíram como entrada da cidade no ano 180 d.C., é o cartão de visita da cidade. Ela pertence ao Patrimônio Cultural da Humanidade, juntamente com as outras ruínas romanas: o anfiteatro, as termas do imperador e de Santa Bárbara e a imensa basílica que Constantino mandou construir no século 3º, usando-a como salão do trono.
Trier continuou sendo centro de poder nos séculos seguintes. Depois dos romanos vieram os condes da Francônia e, a seguir, os arcebispos. Estes tornaram-se príncipes eleitores no século 12 e fizeram da cidade a capital do seu principado. Seu palácio – Kurfürstliches Palais – construído de 1757 a 1761 por um aluno do grande mestre Baltasar Neumann, é uma jóia do rococó.
Já na Praça do Mercado, uma das mais bonitas da Alemanha, predomina o barroco. A catedral de Trier, cujo núcleo data do século 4º, foi tantas vezes reformada que reúne todos os estilos até o barroco. Também não faltam construções renascentistas e góticas na cidade que viveu, alternadamente, épocas dramáticas e de esplendor, até a virada do século 18.
O berço do revolucionário
Nesse berço histórico nasceu em 5 de maio de 1818 Karl Marx, o cientista político que também escreveria história com a publicação do Manifesto Comunista, em 1848, e posteriormente do Capital (1867). Marx nasceu na Brückenstrasse nº 664, casa atualmente com o nº 10, onde funciona um museu mantido pela Fundação Friedrich Ebert, que atrai não apenas comunistas, neocomunistas e interessados na história do socialismo e do movimento operário.
Marx morou muito pouco tempo nessa casa, comprada em 1928 pelo Partido Social Democrata (SPD), que pretendia montar ali um museu. Em março de 1933 foi tomada pelos nazistas, que a encheram de suásticas e ali instalaram a sede da sua Folha Nacional.
De cartas de amor ao Capital
Em 1947, o SPD recuperou a casa. Hoje o museu expõe exemplares das primeiras edições dos livros de Marx, as cartas de amor a sua noiva, Jenni von Westphalen, com quem se casou em 1843, e uma série de documentos ligados à criação da Primeira Internacional Comunista, em 1864, e outros momentos importantes do movimento operário.
A simplicidade é a virtude preferida do autor da Crítica da Economia Política, como anotou no diário de Jenny, num desses questionários que existem até hoje. Principal característica: a perseverança. "Nada do que é humano me é estranho", anotou Marx como máxima de sua vida. Em latim, assim como o seu lema "é preciso duvidar de tudo".
Igrejas, os romanos e o vinho
O casario ao longo do calçadão da Simeonstrasse, para onde depois a família Marx se mudou, é exuberante. Próximo à Porta Nigra, uma placa registra o fato. Mas Trier tem ainda muitas outras atrações, belíssimas igrejas, como a de São Gangolf, de São Paulino e São Matthias, uma antiga abadia beneditina.
E ainda o Museu dos Brinquedos e o da Renânia. Neste último encontra-se uma escultura de grande valor histórico, encontrada numa das cidadezinhas à beira do Mosela: ela é a mais antiga prova de que os romanos, no começo do último milênio, já transportavam vinho em barris pelo Reno.