1867: Publicado "O Capital", de Karl Marx
Com mais de 2.500 páginas, O Capital sempre foi uma leitura literalmente pesada para os interessados. O autor pelejou com sua obra durante 15 anos e só terminou o primeiro volume. Os dois outros livros foram concluídos após sua morte por seu amigo Friedrich Engels, com base em fragmentos, bilhetes e anotações, deixados em grande quantidade por Marx.
O filósofo, que nasceu em Trier, na Alemanha, no ano de 1818 e faleceu em Londres em 1883, é tido ainda hoje como um analista perspicaz e um pensador brilhante, mesmo que as suas teorias não tenham correspondido inteiramente à realidade.
Na sua obra principal, O Capital, Marx construiu um gigantesco complexo filosófico com seus conhecimentos de Ciências Econômicas, História e Sociologia, misturados com uma porção de polêmica e de propaganda. Suas conclusões foram apoiadas por numerosas notas de pé de página e citações de referência – um enorme esforço tanto para o autor, como para os seus leitores.
Libertação dos trabalhadores
A ideia central de Marx era a convicção da derrocada da sociedade capitalista, à qual se seguiria a vitória do comunismo, libertando a classe trabalhadora da exploração por parte do empresariado.
No primeiro livro de O Capital, Marx ocupa-se amplamente da circulação do dinheiro, com as mercadorias, com os valores de troca e de usufruto e com a mais-valia, com taxas de lucro e forças de produtividade. Ele fala do "engolir de todos os povos pela rede do mercado mundial" e da necessidade de eliminar as relações que escravizam as pessoas.
O ideólogo e advogado da classe operária nunca viu uma fábrica por dentro. Para a sua obra de três volumes, ele pesquisou exclusivamente na biblioteca do Museu Britânico, em Londres. Lá, segundo suas próprias palavras, "juntou enorme quantidade de material" sobre o tema.
Marx tornou-se famoso com a publicação de O Capital – talvez não tivesse sido necessário ele mesmo escrever críticas negativas e positivas, sob diversos pseudônimos, para aumentar as vendas do livro.
Mas só muito depois da sua morte é que o autor obteve reconhecimento. Quando foi criado o Estado alemão-oriental, a extinta República Democrática Alemã, Marx foi elevado à categoria de herói do socialismo científico, ao lado de Engels e de Lenin. Sua doutrina foi considerada dogma irrefutável.
Leitura obrigatória na ex-Alemanha Oriental
Durante muitos anos, o partido único alemão oriental, SED, manteve quase o monopólio de interpretação e de publicação das obras de Marx. No final da década de 60 e início da década de 70, os famosos livros de capa azul, publicados pelo Instituto de Marxismo-Leninismo do Comitê Central do SED, eram tidos como leitura obrigatória e não podiam faltar na estante de nenhum estudante de esquerda na República Federal da Alemanha. Numerosos estudantes inscreviam-se então nos chamados "cursos do Capital", nas universidades, a fim de obter embasamento ideológico.
Hoje, Marx é um clássico e tornou-se assim objeto de estudo da pesquisa histórica. Richard Löwenthal, professor de Ciências Políticas: "A atuação histórica de Marx baseia-se numa ligação ímpar entre constatações científicas revolucionárias e uma entusiasmada visão utópica, que inspirou os pioneiros do movimento operário a uma espécie de religião deste mundo. E uma doutrina que cumpre funções religiosas sempre corre o risco de cristalizar-se em dogma nas cabeças dos fiéis e dos pregadores".
De qualquer maneira, a bíblia do proletariado nunca se tornou realmente popular. Para muitos, ela era uma leitura difícil. Para outros, foi superada pelos acontecimentos reais – mesmo que Marx tenha formulado premissas revolucionárias para a sua época.
A história, contudo, superou as suas teorias. O professor Löwenthal acredita que "o desenvolvimento transcorreu, sob muitos aspectos, de forma diferente da que Marx esperava. Como outras pessoas modernas, não avaliamos a realidade de hoje com as teorias de Marx e sim, o valor atual destas teorias em relação ao desenvolvimento real. E acreditamos que exatamente assim é que podemos ser fiéis ao espírito crítico do cientista Karl Marx."
Até mesmo aqueles para quem O Capital foi escrito só o conheciam de ouvir dizer. August Bebel, por exemplo, criador do movimento operário alemão, admitiu: "Eu não li O Capital até o fim."
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