Marx de cas(r)a nova em Trier
9 de junho de 2005A idéia do museu é oferecer uma mostra permanente sobre a vida do fundador do marxismo. Não apenas revendo sua obra, mas também reconstituindo um panorama histórico do que sua teoria representou desde o século 19 até os dias de hoje. Tudo para que o visitante tenha consciência da importância do papel representado por Marx no decorrer do século 20. Para isso, os organizadores da mostra fazem uso de novas mídias e reorganizam os espaços internos da casa onde viveu o pensador.
Destaques visuais
Mas qual o significado das teorias de Karl Marx hoje? Qual a importância histórica de se debruçar sobre sua obra? Estas são algumas das questões levantadas pelo museu, com o objetivo de provocar a reflexão no visitante. Questões que ficam em aberto e cujas respostas devem ser buscadas por quem passa por ali.
O papel do museu é, em primeira linha, o de provocar visualmente o visitante. O arquiteto Matthias Hühnlein explica: "A principal preocupação na configuração visual do interior da casa foi a de trazer este fator incômodo, que Marx trouxe um dia à sociedade, à estrutura física do local. Isso significa interferir, de forma consciente, na forma agradável da casa. Para isso criamos no chão uma superfície quadrada, que passa por todos os cômodos e que vai das paredes até o teto, com o intuito de se criar um espaço imaginário dentro do local".
Sobre uma tela redonda são projetadas citações do próprio Marx e comentários sobre sua obra – tanto positivos quanto negativos. Quem se interessar especialmente por algum destes textos, tem a possibilidade de acessar um banco de dados eletrônico em algum dos computadores que se encontram à disposição dos visitantes. O ambiente extremamente claro realça o contraste: cores e luzes procuraram aguçar os sentidos de quem passeia pelos pensamentos de Marx.
Mais lembrado fora que dentro do país
Ao contrário da forma como funcionava a casa até 1982, a atual concepção da mostra não se prende a dados históricos nem se mantém distante da realidade contemporânea, mas explicita as alusões a Marx no cenário político atual. Citando, por exemplo, uma série de países não europeus que mantêm elos de ligação com as teorias marxistas, como a China, Cuba, o Vietnã e alguns países africanos.
Para a diretora do museu, Beatrix Bouvier, a tentativa de Marx de denunciar o grau de importância da economia para os outros aspectos da vida ainda se mantém atual. "Queremos confrontar o visitante com a proposta de que revisitar a obra de Marx é uma atitude válida. Será que este homem não analisou, a seu tempo, um contexto que se difere do atual, mas que deixou o homem tão desamparado e atônito quanto o que vivemos hoje sob o signo da globalização?", pergunta Bouvier.
Para os chineses quase um santo
É provável que muitos visitantes, acima de tudo os chineses, busquem durante a passagem pelo museu rever apenas as questões levantadas por Marx em suas teorias. Deixando de lado as respostas dadas por ele. Um terço das 35 mil pessoas que passam pela casa por ano provêm da Ásia e a maioria delas da China. Para os chineses, a visita ao berço de Marx é uma espécie de peregrinação religiosa.
"Os chineses são muito atenciosos quando vêm aqui. No ano passado, conduzi um professor universitário e sua esposa pelo museu. Os dois tiveram a sensação de terem tido um desejo realizado ao conhecer a Casa Karl Marx", conta Elisabeth Neu, pedagoga responsável pelas visitadas guiadas ao museu.
Os turistas chineses têm um interesse especial pela vida privada de Marx, porque geralmente só o conhecem como pensador e ideólogo. Embora nos últimos anos esta postura tenha sido um pouco modificada e os visitantes tenham vindo ao museu já munidos de uma certa dose de crítica, comenta Neu. "Pode-se perceber isso nas reações registradas no livro de visitas, onde já se encontra de vez em quando registros críticos do tipo 'ele tinha boas intenções, mas tudo acabou restringindo a liberdade no nosso país'."
Reflexão crítica sobre o sistema marxista
As atuais visitas guiadas pelo museu, oferecidas em quatro idiomas – alemão, inglês, francês e chinês – também contêm observações críticas sobre a China, inclusive com alusões ao massacre na Praça da Paz Celestinal, ocorrido em 1989.
A atual exposição é vista pelos organizadores em Trier como uma espécie de teste, uma vez que as mostras anteriores oferecidas pela Casa Karl Marx continham uma dose bem menor de elementos críticos. Agora é esperar para ver as reações dos visitantes vindos de todo o mundo, inclusive dos chineses, à nova cara do museu.