Suspense em Babelsberg, estrelando Gerhard Schröder
16 de julho de 2004Uma névoa escura paira sobre Babelsberg desde que o tradicional estúdio cinematográfico alemão foi vendido no começo da semana. O local onde já brilharam estrelas de Marlene Dietrich a Tom Cruise foi adquirido pelos investidores Carl Woebcken, de Berlim, e Christoph Fisser, de Munique, pelo valor simbólico de um euro. O grupo francês Vivendi-Universal, antigo proprietário da casa, assumiu antigas dívidas no valor de 18 milhões de euros.
Ainda não se sabe o que o futuro reserva para os estúdios, e os diretores estão à beira de um ataque de nervos. Desde o anúncio da venda na segunda-feira (12/7), os novos proprietários vêm evitando declarações precisas sobre o futuro dos estúdios. "Queremos que Babelsberg continue sendo um importante núcleo cinematográfico", garantiu Fisser.
Os novos donos garantem também que produções em andamento não serão interrompidas. Atualmente, Babelsberg está envolvida em 32 produções para cinema e 27 para televisão. Informações mais detalhadas, entretanto, só virão na próxima semana. "Primeiro temos que examinar a situação com mais precisão."
Apelo ao chanceler
Alarmado, o conselho de funcionários resolveu apelar a Gerhard Schröder. Em carta enviada ao chanceler federal alemão, Jan-Peter Schmarje, presidente do conselho, chamou a nova situação de um "grande motivo de preocupação". Segundo ele, trata-se de uma "desconfiança saudável", uma vez que Fisser e Woebcken teriam deixado um rastro de "falências e processos" em projetos anteriores e mais de 220 empregos fixos e até 2000 temporários, dependendo da produção, poderiam estar em jogo.
Schmarje pede a Schröder que considere o caso como "de extrema importância" e que possivelmente intervenha na redação do contrato, que não deve ser assinado nos últimos meses deste ano. Schröder deveria aproveitar seus fortes contatos com o presidente francês, Jacques Chirac, de forma a influenciar as negociações com o grupo Vivendi e forçar uma "concepção razoável" para a continuidade dos estúdios.
Situação financeira é uma incógnita
A grande preocupação que tira o sono dos membros do conselho é se os novos proprietários possuem a verba necessária para manter em funcionamento um estúdio da dimensão de Babelsberg. Especialistas consideram isso "improvável", informou o jornal alemão Berliner Morgenpost. Especula-se que por trás dos compradores haja um grande investidor.
De acordo com o secretário de Economia do Estado de Brandemburgo, Ulrich Junghanns, o governo "ainda não foi informado sobre objetivos e planos concretos dos compradores. Mas acreditamos que alguém que compre Babelsberg conheça sua importância".
Babelsberg, mito por trás das telas
Babelsberg é quase um mito na Alemanha. Com sua fundação, em 1912, nascia a indústria cinematográfica européia. Lá foram filmadas as primeiras grandes produções da história do cinema. Sucessos como Metrópolis (1927), de Fritz Lang, e O Anjo Azul (1930), estrelando Marlene Dietrich, tornaram o estúdio internacionalmente famoso.
Com a ascensão de Hitler ao poder, os nazistas utilizaram o estúdio na produção de filmes de propaganda: cerca de 30 por ano entre 1933 e 1945. Com o fim da guerra, os soviéticos assumiram o comando e, até a reunificação alemã em 1990, cerca de 700 filmes foram rodados pela República Democrática Alemã.
Em 1992, Babelsberg foi comprado pelo grupo Vivendi por 70 milhões de dólares. E as atividades continuam a todo vapor: filmes como A volta ao mundo em 80 dias, estrelando Jackie Chan, e The Bourne supremacy, com Matt Damon, além do sucesso O pianista, do diretor Roman Polanski, foram rodados recentemente em Babelsberg. No final de agosto, começam as filmagens de Missão impossível 3, uma produção de 150 milhões de euros com Tom Cruise no papel principal.