Hollywood mudou-se para Berlim
10 de maio de 2004Como negar? A festa foi de Aquiles. Mesmo sem a juba revolta e armadura reluzente, seu sorriso foi suficiente para atrair todas as atenções e reduzir a pó os corações de quase mil fãs histéricos, sobretudo do sexo feminino.
E o semideus louro, vulgo Brad Pitt, não foi avaro com seus encantos: na estréia mundial de Troy (Tróia), em Berlim, na noite de domingo (09), ele levou 50 minutos cravados para atravessar, centímetro a centímetro, o tapete vermelho diante do Cinestar, na Praça de Potsdam.
O diretor da película, o alemão radicado nos EUA Wolfgang Petersen (História sem fim, Air Force One), comentou perplexo: "Você não vê um entusiasmo assim nem em Hollywood!". E a julgar pelo longo aplauso, ao final dos 155 minutos de projeção, o épico baseado na Ilíada de Homero também agradou à massa.
Helena rechonchuda
Com muitas liberdades, é claro, afinal Hollywood tem sempre que agradar às bilheterias gregas e troianas. Segundo Pitt: "O filme tem a mistura certa de cenas de batalha gigantescas e momentos muito íntimos e pessoais". Traduzindo na linguagem das fãs: em algumas cenas de amor, Aquiles aparece quase nu. Uma grandiosa aula de história antiga.
Esta é a primeira vez que uma película norte-americana tem estréia mundial na Alemanha. E Petersen não exclui a possibilidade de repetir a dose. Quase tão VIP quanto os homenageados era a platéia: a cantora Nina Hagen, o diretor de cinema Volker Schlöndorff, o cinematógrafo de Hollywood Michael Ballhaus, o apresentador de TV Thomas Gottschalk e o figurinista Wolfgang Joop.
Comenta-se que o cachê de Brad Pitt foi de razoáveis 17,5 milhões de dólares. Em compensação, o astro americano de 40 anos pôde dividir a tela com uma novata alemã: a bela Diane Kruger representa Helena de Tróia. Para o papel ela teve que engordar sete quilos: "Na época as mulheres eram mais arredondadas, havia um outro ideal de beleza". Afinal, mais uma aula de história!
Mais uma catástrofe de Emmerich
Contudo, a marcha de vitória germânica sobre Hollywood não pára por aí: o mundo se prepara para a estréia de O dia depois de amanhã (The day after tomorrow) em 28 de maio. Dessa vez o diretor é o entusiasta dos efeitos especiais Roland Emmerich (autor de Independence Day, um monumento do patriotismo norte-americano irrefletido), e agora a ameaça não é extraterrestre, mas sim da natureza, manipulada por mão humana.
Um violento surto de aquecimento global ameaça devastar toda a superfície do planeta. Enquanto os sobreviventes das primeiras catástrofes fogem em pânico para o sul, o inevitável herói, o climatologista Adrian Hall (Dennis Quaid) sobe para o norte, procurando seu filho, talvez ainda vivo em Nova York.
Trema, Bush!
Bem, parece que já vimos este filme. Mas o cineasta natural de Stuttgart surpreendeu o mundo da mídia na primeira semana de maio com uma declaração atipicamente política: ele preferia ver George W. Bush fora do poder.
O motivo – que coincidência feliz! – tem a ver com o novo lançamento de Emmerich: "O presidente Bush nega que esteja ocorrendo o aquecimento da Terra e isso é algo que não entendo. Espero que os norte-americanos sejam mais sensatos nas próximas eleições e votem no democrata John Kerry." Agora sim, os dias dos republicanos nos EUA estão mesmo contados!
E quem disse mesmo que Hollywood não é cultura e política?