Salles insinua que Greenpeace é culpado por manchas de óleo
25 de outubro de 2019O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, voltou nesta quinta-feira (25/10) a atacar o Greenpeace, uma das principais ONGs ambientais do mundo. Sem apresentar qualquer prova, ele insinuou, em mensagem no Twitter, que a organização pode estar por trás das manchas de óleo que atingem o litoral do Nordeste desde o início de setembro.
"Tem umas coincidências na vida né... Parece que o navio do #greenpixe estava justamente navegando em águas internacionais, em frente ao litoral brasileiro bem na época do derramamento de óleo venezuelano…(sic)" escreveu Salles.
Junto ao texto, o ministro ainda publicou uma foto do navio Esperanza, que pertence à ONG, dando a entender que a foto é atual. Porém, a imagem é de 2016 e foi tirada no Oceano Índico.
Essa é a segunda vez em três dias que o ministro usa as redes sociais para fazer insinuações – sem provas – contra o Greenpeace. Na terça-feira, ele já havia publicado a versão editada de um vídeo originalmente publicado pelo Greenpeace Brasil, insinuando que o grupo não estava atuando nos esforços de combate ao óleo.
O vídeo publicado por Salles, porém, era mais curto que o original e suprimia um trecho em que um porta-voz falava claramente que voluntários do Greenpeace estavam atuando na limpeza das praias.
Na quarta-feira, Salles também chamou os membros da ONG de "ecoterroristas" após o grupo organizar um protestoem frente ao Palácio do Planalto.
O Greenpeace, assim como outras ONGs e governos estaduais do Nordeste, vem criticando o governo Bolsonaro pela demora e falta de ações efetivas para conter o desastre ambiental no Nordeste.
Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, Salles só acionou o Plano Nacional de Contingência do governo federal, uma diretriz criada em 2013 para lidar com situações de emergência como a do vazamento de óleo, 41 dias depois de terem surgido as primeiras manchas de petróleo no litoral nordestino.
Já o G1 apontou que o departamento responsável por definir estratégias para emergências ambientais no Ministério do Meio Ambiente ficou sem chefe por seis meses neste ano. O cargo de direção do Departamento de Qualidade Ambiental e Gestão de Resíduos só foi ocupado 35 dias depois do início da crise no litoral nordestino.
Ao insinuar que o Greenpeace teria alguma relação com as manchas de óleo, Salles adotou uma tática similar à do presidente Jair Bolsonaro, que em agosto insinuou - também sem provas - que ONGs estariam por trás das queimadas que castigavam a Amazônia. À época, Bolsonaro também estava sendo alvo de críticas pela falta de ação para conter o desmatamento e o fogo.
Em nota, o Greenpeace afirmou que pretende tomar "medidas legais cabíveis" contra o ministro. "As autoridades têm que assumir responsabilidade e responder pelo Estado de direito pelos seus atos", disse a ONG.
O Greenpeace ainda apontou que o navio Esperanza "faz parte de uma campanha internacional chamada ‘Proteja os Oceanos', que saiu do Ártico e vai até a Antártida ao longo de um ano, denunciando as ameaças aos mares. A ONG ainda afirmou que a embarcação passou pela Guiana Francesa, entre agosto e setembro, onde realizou uma expedição de documentação e pesquisa do sistema de recifes da Amazônia.
Segundo o Greenpeace, a embarcação não tem capacidade para armazenar e transportar uma carga de centenas de toneladas de petróleo. Segundo a Marinha, na última segunda-feira já haviam sido retiradas no litoral nordestino 900 toneladas de óleo cru.
"Enquanto o óleo continua atingindo as praias do Nordeste, o ministro Ricardo Salles nos ataca fazendo insinuações sobre o desastre ecológico. Trata-se, mais uma vez, de criar uma cortina de fumaça na tentativa de esconder a incapacidade de Salles em lidar com a situação. É bom lembrar que isso vem de alguém conhecido por mentir que estudava em Yale e ser condenado na Justiça por fraude ambiental", disse.
A insinuação de Salles ainda rendeu uma reprimenda do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Em uma mensagem no Twitter, Maia escreveu ao ministro: "Estamos esperando uma posição oficial do Ministério do Meio Ambiente". Pouco depois, Salles respondeu, baixando um pouco o tom da sua insinuação, desta vez afirmando, novamente sem provas, que o navio do Greenpeace "não (sic) se prontificou a ajudar" na passagem pelo litoral do Nordeste quando apareceram as primeiras manchas.
Maia agradeceu pela resposta, mas disse que o tuíte do ministro fez "uma ilação desnecessária".
______________
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube
| App | Instagram | Newsletter