Rio+20 ressalta divisão entre ricos e pobres
23 de junho de 2012A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável chegou ao fim nesta sexta-feira (22/06), no Rio de Janeiro. Os188 países representados, 105 deles por chefes de Estado, adotaram o documento final sem alterações importantes. O governo brasileiro elogiou o resultado da Rio+20 e a sociedade civil falou em "fracasso épico".
A presidente Dilma Rousseff fez um discurso de encerramento na plenária. "O Brasil se orgulha de ter organizado a mais participativa e democrática conferência na qual tiveram espaço diversas visões e propostas. Buscamos sempre manter um equilíbrio respeitoso entre as posições de todos os países".
Na visão de Dilma, o documento aprovado, "O futuro que queremos", lança uma agenda importante, que vai orientar o desenvolvimento sustentável. Antes, no entanto, a presidente comentara à imprensa que muitos países não estavam de acordo com a criação de um fundo para financiar ações sustentáveis nas nações mais pobres. "Os países desenvolvidos não querem que isso seja posto na pauta. E nós queremos que seja posto na pauta, mas agora temos de respeitar quem não quer."
"O melhor que se podia conseguir"
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, reconheceu que a Rio+20 deixou a desejar em relação aos avanços que a Eco92 impulsionou. "É fácil falar que [o documento final da conferência] foi pouco ambicioso. Mas ninguém se sentou à mesa para colocar dinheiro adicional", criticou os países ricos.
Teixeira ironizou ainda a dependência do socorro financeiro que países em crise enfrentam. "É contraditório ver a África do Sul doando dinheiro para o Fundo Monetário Internacional no G20." O país integrante do BRICS situado no continente mais pobre do mundo vai liberar 2 bilhões de dólares para a instituição financeira.
Nikhil Chandavarkar, porta-voz do secretariado da ONU na Rio+20, preferiu dar uma outra resposta sobre essa divisão entre ricos e pobres na mesa de negociações. "Acho que conseguimos ver a complexidade dos hemisférios norte e sul. Até no sul, onde estão os emergentes, cada um tem seus próprios interesses. Isso fez com que o consenso no sul fosse muito difícil", disse em entrevista à DW Brasil, referindo-se ao Grupo dos 77+China, que inclui o Brasil.
"É o melhor que se podia esperar nesta época", Chandavarkar classificou o resultado da Rio+20, sem citar diretamente a crise financeira que consome a Europa. Mas as regras do jogo agora também são decididas pelos emergentes – apontou como maior ganho. "Acho que a arbitragem se move para o sul. Essa é a grande lição daqui."
O porta-voz mencionou o Brasil, Índia e África do Sul como atores importantes na tomada de decisões no plano internacional.A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável chegou ao fim nesta sexta-feira (22/06), no Rio de Janeiro. Os188 países representados, 105 deles por chefes de Estado, adotaram o documento final sem alterações importantes. O governo brasileiro elogiou o resultado da Rio+20 e a sociedade civil falou em "fracasso épico".
A presidente Dilma Rousseff fez um discurso de encerramento na plenária. "O Brasil se orgulha de ter organizado a mais participativa e democrática conferência na qual tiveram espaço diversas visões e propostas. Buscamos sempre manter um equilíbrio respeitoso entre as posições de todos os países".
Na visão de Dilma, o documento aprovado, "O futuro que queremos", lança uma agenda importante, que vai orientar o desenvolvimento sustentável. Antes, no entanto, a presidente comentara à imprensa que muitos países não estavam de acordo com a criação de um fundo para financiar ações sustentáveis nas nações mais pobres. "Os países desenvolvidos não querem que isso seja posto na pauta. E nós queremos que seja posto na pauta, mas agora temos de respeitar quem não quer."
Críticas pesadas
"A Rio+20 vai ficar como a cúpula do embuste. Eles vieram, falaram, mas não agiram", foi como classificou a conferência Barbara Stocking, da ONG Oxfam, que também criticou a recusa das nações ricas a financiarem os menos desenvolvidos
Kumi Naidoo, da Greenpeace International, disse que a conferência entrará para a história como a "Rio menos20. "Os governos não conseguiram produzir o acordo histórico que precisamos para enfrentar a tempestade de crises que estão por vir: ecológica, econômica e de igualdade".
Até mesmo Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, ouviu as críticas de representantes da sociedade civil brasileira que participaram da paralela Cúpula dos Povos. O sul-coreano recebeu pessoalmente do grupo uma carta que repudia os resultados acordados pelos chefes de Estado.
Balanço de nove dias
A Rio+20 entra para história, pelo menos, na contagem numérica: foi a maior conferência das Nações Unidas já realizada, com 45.381 participantes, a maioria de delegados (12 mil) e membros da sociedade civil (9.856). Milhares de eventos aconteceram simultaneamente na cidade do Rio de Janeiro, durante os nove dias de reuniões, 500 deles só no centro de convenções Riocentro.
Na mesa de negociação, no entanto, uma das principais expectativas não foi atendida: a criação de metas de desenvolvimento sustentável em diferentes áreas foi adiada, e deve ser formulada até 2015. O documento prevê o estabelecimento de um fórum político de alto nível para o desenvolvimento sustentável dentro da ONU e o fortalecimento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que não vai virar uma agência da organização.
Também será criado um mecanismo jurídico dentro da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, que deve impor regras para conservação e exploração sustentável dos oceanos. Outro ponto foi a concordância em se desenvolver uma nova maneira de contabilizar a riqueza das nações, que vá além do Produto Interno Bruto (PIB).
"Agora os discursos acabam e o trabalho começa", despediu-se Ban Ki-moon da Rio+20. O secretário-geral agradeceu a dedicação pessoal de Dilma Rousseff ao tema e parabenizou o Brasil por ter sediado o evento. Os custos dos nove dias de reuniões no Riocentro serão assumidos pelo anfitrião. A cifra não foi revelada.
Autora: Nádia Pontes, do Rio de Janeiro
Revisão: Augusto Valente