Fundador do Slow Food critica agricultura brasileira
22 de junho de 2012O italiano Carlo Petrini está tendo dificuldades para se alimentar no centro de conferências Riocentro, onde os principais eventos da Rio+20 acontecem. “A comida aqui é horrível”, reclama. Ele fundou em 1986 o movimento Slow Food, que se opõe à padronização trazida pela fast food, ao desaparecimento das tradições culinárias regionais, e que quer mostrar como a escolha alimentar pode afetar o mundo.
Petrini viajou até o Rio de Janeiro para denunciar o sistema de agricultura intensiva, que ele tacha de "criminoso", e criticou o Brasil pelo uso de transgênicos e o incentivo aos grandes produtores.
Deutsche Welle:Que sugestões o movimento Slow Food traz à Conferência das Nações Unidas para Desenvolvimento Sustentável?
Carlo Petrini:O Slow Food é estratégico para a mudança. Isso significa que um novo modelo alimentar pode mudar a situação desastrosa do ecossistema. Mudar modelos, trabalhar com pequenos produtores, defender a ética na agricultura, trabalhar contra o uso de químicos e pesticidas, construir mercados para os pequenos produtores, construir hortas nas escolas para a educação das crianças. Tudo isso é um grande movimento que muda fundamentalmente a realidade.
Os governos estão ouvindo esse apelo?
Não o suficiente. É preciso muito mais responsabilidade. Em particular o governo brasileiro, que faz muito pela agricultura familiar, mas faz muito pela agricultura intensiva. Isso é um pouco equivocado, não?
Eu penso que o governo deva abandonar [o incentivo] à agricultura intensiva, abandonar a monocultura, abandonar as sementes geneticamente modificadas e trabalhar mais pela agricultura orgânica, o pequeno produtor e a agricultura familiar.
Por que esse movimento, fundado na Itália em 1986, conseguiu atrair tantos adeptos?
Porque eles querem mudar o sistema de alimentação. Porque esse sistema atual é criminoso: ele destrói o meio ambiente, destrói a vida do pequeno produtor, consome água demais, destrói a biodiversidade.
Com base nos fundamentos do Slow Food, há como produzir comida para a atual população mundial, de 7 bilhões, com perspectiva de chegar aos 9 bilhões até 2045?
Sim! Neste momento nós produzimos comida para 12 bilhões de pessoas. Isso significa que existe 45% de desperdício. Isso é um absurdo! Não precisamos produzir mais para aumentar o desperdício. É preciso acabar com o desperdício.
Entrevista: Nádia Pontes, do Rio de Janeiro
Revisão: Augusto Valente