Depois da revolução
31 de agosto de 2011Em fase de reorganização após o fim do regime de Muammar Kadafi, o Conselho Nacional de Transição (CNT) na Líbia quer evitar o envio de forças estrangeiras ou de observadores militares ao país.
Segundo Ian Martin, consultor especial das Nações Unidas para assuntos ligados ao país africano, é "bem claro" que os rebeldes não querem tropas da ONU ou outros soldados estacionados na Líbia. A afirmação foi feita na noite desta terça-feira (30/08), em Nova York, após reunião do Conselho de Segurança.
A expectativa é que o Conselho de Segurança aprove nas próximas semanas o envio de uma missão das Nações Unidas para a Líbia. Segundo Martin, a ONU deverá concentrar esforços na área política: organização de eleições e de uma nova Constituição, além de reforma no sistema judiciário. Há meses o conselheiro da ONU trabalha para ajudar a reconstruir a vida política na Líbia, visto que o país não tem "qualquer memória viva de eleições".
Durante o encontro do Conselho de Segurança, Martin afirmou que o governo interino líbio planeja constituir uma administração formal 30 dias "depois de declararem a libertação de Trípoli" e convocar eleições nacionais em 240 dias. "Isso será um grande desafio organizacional, e está claro que o CNT deseja que as Nações Unidas desempenhem um papel importante nesse processo", adicionou o conselheiro.
França e Alemanha
Em entrevista ao jornal Frankfurter Allgemeinen Zeitung, publicada nesta quarta-feira, o ministro do Exterior francês, Alain Juppé, defendeu o envio de uma missão ao país recém libertado da ditadura de Kadafi. Seria necessário uma "tropa de reconstrução, mas não uma tropa de intervenção", disse.
Ainda segundo o ministro, a Alemanha também poderia fazer parte dessa missão, e a França ficaria satisfeita se isso acontecesse. Juppé argumentou que os rebeldes precisam de apoio, visto que a atuação do CNT ainda é recente e existem "tensões internas" no grupo.
Dinheiro e ajuda
Durante a reunião do Conselho de Segurança, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, lembrou que a situação humanitária na Líbia exige ações urgentes e que, portanto, a ajuda financeira é fundamental neste momento. "O sofrimento da população precisa ter fim", apelou Ban.
O secretário-geral afirmou que a comunidade internacional pode agora ter esperanças de uma conclusão rápida do conflito e do fim do sofrimento dos líbios, pois os rebeldes dominam praticamente todo o país, incluindo a capital. As condições em Trípoli são degradantes: estima-se que 60% dos moradores estejam sem água, afirmou Ban Ki-monn.
Justamente por motivos humanitários, as Nações Unidas autorizaram o Reino Unido a liberar mais 1,6 bilhão de dólares para a Líbia. A quantia, em dinares líbios recém-impressos, estava retido no Reino Unido devido às sanções impostas pelas Nações Unidas ao regime de Kadafi.
Outros países têm pressa para enviar ao país africano recursos de contas congeladas de Kadafi. A Alemanha e a França, por exemplo, pretendem liberar 1 bilhão e 5 bilhões de euros, respectivamente.
Batalha
Os rebeldes calculam que 50 mil pessoas morreram desde o começo da revolução, há seis meses. O CNT deu um ultimato às forças apoiadoras do regime de Kadafi: eles têm até sábado para se entregar. "Não podemos esperar mais tempo", declarou Mustafa Adbul Jalil, chefe do CNT.
A única maneira de evitar uma batalha sangrenta seria a rendição pacífica da cidade natal de Kadafi, Sirte, advertiu Jalil. Um dos filhos do ditador, Al-Saadi Kadafi, estaria pronto para se entregar aos rebeldes, informou a rede de televisão Al Jazeera. Ele teria revelado essa disposição numa conversa por telefone com um comandante do movimento opositor.
NP/dpa/afp/dapd
Revisão: Alexandre Schossler