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Oposição se vê fortalecida e tenta frustrar planos de Maduro

Astrid Prange de Oliveira | Evan Romero-Castillo av
11 de julho de 2017

Depois da libertação de Leopoldo López, oposicionistas exigem liberdade para todos os presos políticos e se mobilizam para o plebiscito contra os planos de Maduro de convocar uma Assembleia Constituinte.

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Leopoldo López acena depois de deixar prisão
Leopoldo López em uma de suas primeiras fotos depois de deixar a prisãoFoto: Getty Images/AFP/J. Hernandez

Em 10 de setembro de 2015, a Justiça da Venezuela condenou o líder oposicionista Leopoldo López a quase 14 anos atrás das grades por instigação à violência e conspiração. Um ano antes, ele convocara os protestos estudantis que colocaram o governo sob forte pressão e resultaram em três mortes.

Agora López foi liberado do cárcere: o Tribunal Supremo de Justiça converteu sua pena para prisão domiciliar. Com uma algema eletrônica no tornozelo, ele foi transferido do presídio militar Ramo Verde para a sua residência.

"Essa decisão é um gesto de insegurança da elite política. A concessão visa a manutenção do poder e o enfraquecimento da oposição", analisa Günther Maihold, vice-diretor do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP). Uma questão é também qual papel López assumirá dentro da coalizão oposicionista Mesa da Unidade Democrática (MUD).

Para o especialista em América Latina, essa estratégia do presidente Nicolás Maduro para debilitar a oposição não vingará. Pelo contrário: o movimento já anunciou novas manifestações, exigindo agora a libertação de todos os 431 presos políticos do país. Além disso, está se mobilizando contra os planos presidenciais de convocar uma Assembleia Constituinte em 30 de julho.

Venezuela Caracas Proteste
Protestos contra o governo atraíram milhares de pessoas em julho em CaracasFoto: picture-alliance/AA/C. Becerra

Procuradora-geral é novo ícone oposicionista

Com a planejada reforma constitucional – que prevê, entre outros pontos, a restrição do direito universal ao voto – o presidente, há meses sob pressão política, espera assegurar seu poder. Entretanto a oposição se prepara para tentar frustrar esses planos por meio de um plebiscito, marcado para o próximo domingo (16/07). Nele, os venezuelanos poderão dizer se estão de acordo com a eleição da Assembleia Nacional Constituinte.

Entre os críticos da reforma está a procuradora-geral da República, Luisa Ortega Díaz, uma chavista de primeira hora que recentemente virou um ícone do movimento oposicionista. Ela classificou a reforma constitucional de "traição" ao legado político do ex-presidente Hugo Chávez (1999-2013) e abriu um processo contra ela, advertindo que as mudanças possibilitarão que violações dos direitos humanos sejam investigadas justamente pelos que as cometem.

No entanto o Tribunal Supremo de Justiça igualmente viu "traição", cassando a imunidade de Ortega Díaz, congelando suas contas bancárias e a proibindo de deixar o país. A procuradora-geral está entre os poucos altos funcionários estatais que se revoltam publicamente contra o governo. Segundo ela, muitos chavistas estão abandonando Maduro diante da profunda crise econômica e política.

Coragem da procuradora-geral Luisa Ortega Díaz é rara entre altos funcionários venezuelanos
Coragem da procuradora-geral Luisa Ortega Díaz é rara entre altos funcionários venezuelanosFoto: picture-alliance/dpa/F. Llano

Ataque à Assembleia Nacional

Na última quarta-feira – Dia da Independência da Venezuela e apenas três dias antes de ser anunciada a comutação da pena de López – um incidente despertou desaprovação internacional: grupos armados e mascarados atacaram a Assembleia Nacional em Caracas, onde a oposição tem maioria, caçando os deputados e espancando-os brutalmente.

A oposição responsabilizou bandos paramilitares ligados ao governo pela violência: os temidos colectivos – milícias armadas pelo governo socialista com o fim de defender a Revolução Bolivariana. Poucos dias antes, Maduro ameaçara: "O que não conseguirmos com votos, faremos com armas."

Para o jornal espanhol El País, após esses acontecimentos, os dias do governo Maduro estão contados. "Agora, a volta de López para casa e o assalto ao Congresso marcam um ponto sem retorno daquilo que um dia foi o regime socialista e que hoje é só uma paródia madurista", comentou o jornalista Antonio Navalón.

Krise in Venezuela Überfall auf Parlament
Ataque militante contra o Parlamento em Caracas teve repercussão internacionalFoto: Reuters/A. M. Casares

Maduro tem ases na manga contra oposição

Fernando Mires, especialista em assuntos latino-americanos e professor emérito da Universidade de Oldenburg, vê a Venezuela a caminho da guerra civil. "Para Maduro, será fatídico se a oposição conseguir realizar a consulta popular de 16 de julho e mostrar que a maioria dos venezuelanos rechaça uma reforma constitucional."

Ele alerta que Caracas ainda poderá "tirar alguns ases da manga" para tentar sustar o referendo. "Maduro vai argumentar que a consulta popular viola a Constituição e urgir as forças de segurança do Estado a impedirem a votação."

O balanço da confrontação entre governo e oposição é, desde já, devastador, com grande número de mortos e feridos desde o começo da segunda onda de protestos, em abril, quando a MUD conclamou a passeatas. O número de mortos chega a 91, e a ONG Foro Penal Venezolano computa, até o momento, quase 3.300 detenções. Destes presos, 400 foram submetidos a um tribunal militar. A organização também registra relatos de torturas pelas forças de segurança.