Sabe-se tanto quanto se sabia antes depois da votação no Parlamento britânico, nesta terça-feira (29/01). Não existe maioria entre os parlamentares para nenhum dos possíveis caminhos para o Brexit. Sabe-se apenas que eles não querem uma saída sem acordo.
Como eles querem chegar a esse acordo, que o mesmo Parlamento rejeitou há apenas duas semanas, os parlamentares não disseram. A Câmara dos Comuns não consegui chegar a um acerto sobre a prorrogação do prazo de negociações, sobre eventuais novas eleições, um novo referendo ou sobre um esvaziamento de todo o processo do Brexit.
A única coisa que o Parlamento conseguiu produzir foi o mandato bizarro, dado à primeira-ministra, de renegociar em 14 dias o acordo para a saída da União Europeia.
O amaldiçoado backstop, ou seja, a garantia de que jamais voltará a haver uma fronteira fechada entre a Irlanda e a Irlanda do Norte, deve ser eliminado. Essa foi a meta estipulada pela primeira-ministra. Alcançá-la deve ser, no momento, impossível. As autoridades europeias em Bruxelas e também o presidente francês e a chanceler federal alemã são unânimes na rejeição a uma negociação, com o argumento de que a questão da fronteira foi resolvida.
Agora começa a guerra de nervos. Quem vai ceder primeiro? Tudo depende do governo da Irlanda. Ele quer impedir a todo custo uma fronteira fechada com a Irlanda do Norte para não pôr em risco a paz na região. Se a Irlanda e a União Europeia não se mexerem, isso levará a uma saída do Reino Unido sem acordo – e, com isso, ao fechamento da fronteira.
É essa situação complexa que permite à primeira-ministra Theresa May especular que a Irlanda, no último minuto, vai ceder para atenuar o backstop. May não tem mesmo mais muito a perder. No pôquer do Brexit, ela pode apostar tudo nessa única carta.
Já a União Europeia aposta que os britânicos, diante da eminência do abismo que é um Brexit sem acordo, percam os nervos e, no último minuto, peçam uma prorrogação das negociações – por semanas ou até mesmo meses. Isso teria a vantagem de que, inicialmente, não haveria danos materiais, e os britânicos ganhariam tempo para pensar num plano B sensato para um Brexit ordenado.
A esperança de conseguir gerenciar a saída do Reino Unido sobrevive em Bruxelas, mas perde força. Eurodeputados e diplomatas europeus estão cansados do drama do Brexit. Ninguém apostaria muito dinheiro na saída dos britânicos em 29 de março.
Adiar, ganhar tempo, esperar: essas são as táticas da União Europeia no momento.
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