Macacos trancados em pequenas câmaras, nas quais é lançado dióxido de nitrogênio. Pessoas sentadas em salas e submetidas, também, a uma alta concentração do mesmo gás. E tudo isso em nome ou patrocinado por um grupo de pesquisa da indústria automotiva alemã. Claro que, na cabeça de muitas pessoas, cenas como essas criam as mais terríveis associações, por exemplo com as câmaras de gás de Auschwitz-Birkenau, ou com a Ação T4 dos nazistas, o programa de eutanásia que vitimou 70 mil pessoas com deficiências. São lembranças do capítulo mais obscuro da história alemã.
E pensava-se que a coisa não poderia ficar pior para o setor modelo da indústria alemã. O que começou com o dieselgate da Volkswagen nos Estados Unidos espalhou-se depois por outras montadoras, ampliou-se quando a revista Der Spiegel, em meados do ano passado, revelou a maracutaia de anos das montadoras ("o cartel dos automóveis") e alcançou agora um novo patamar.
Mesmo que ainda seja necessário analisar com calma e esclarecer o que de fato ocorreu nesse teste com pessoas e se não se trata de um procedimento experimental inofensivo que acabou sendo exagerado (pessoas saudáveis, três horas no escritório com uma concentração de poluentes que, para quem mora numa rua movimentada, é muito mais intensa), o teste com animais é sobretudo uma coisa: desprezível e simplesmente idiota.
Ou talvez a casa já estivesse pegando fogo de tal maneira na época da série de experimentos com os macacos (2015) que, para as montadoras, tratava-se apenas de tentar ainda salvar a cabeça. Aí, em setembro de 2015, a bomba explodiu, e o dieselgate começou.
Depois da revelação desse novo escândalo pode-se observar sobretudo uma coisa: os rituais bem treinados das montadoras estão funcionando muito bem. A Daimler se apressou a esclarecer que está horrorizada com o que "foi feito em nome da indústria automobilística alemã", distanciou-se e esclareceu que não foram utilizados carros da empresa para a série de testes.
A BMW, claro, também se distanciou, e afirmou ser contra qualquer tipo de testes com animais. E, é verdade, teria sido melhor parar o projeto. Por fim, demorando um pouco mais, a Volkswagen também saiu do seu canto e pediu desculpas, ainda que apenas pelo "comportamento equivocado de alguns". Todas juntas querem agora mandar investigar como se chegou a isso.
Como se chegou a isso? Que pergunta mais idiota. Foram estas três montadoras que, junto com a fornecedora de autopeças Bosch, fundaram em 2007 a Associação Europeia de Pesquisa em Meio Ambiente e Saúde no Setor de Transportes (EUGT). Essa instituição, que nunca foi nada mais que um grupo de lobby com um verniz científico para a campanha de diesel limpo das montadoras alemãs, ordenou a série de testes. Ela também patrocinou o teste em humanos, que originalmente nem havia sido pensado para a indústria automobilística, mas que caía bem, pois "não pôde ser comprovada nenhuma reação à inalação de NO² nas cobaias", como é possível ler no relatório da EUGT.
Na direção dessa ominosa associação de pesquisa – hoje já extinta – estavam, claro, diretores de alto escalão das montadoras. Mas, assim como no caso do dieselgate, também agora a argumentação deverá ser: a chefia não ficou sabendo de nada, apenas um certo grupo de pessoas estava ocupada disso. Algum peixe pequeno será sacrificado, como o diretor da Volkswagen Oliver Schmidt, recentemente condenado nos EUA, e pronto. O resto da tropa lava as mãos, inocente. Montadoras alemãs de automóveis: verdadeiras mestres na arte da trapaça e da enganação.
O curioso nisso tudo é que os consumidores parecem não estar nem aí. A Volkswagen teve um ano recorde em 2017, e a Daimler nada nas glórias de suas excelentes vendas. E, enquanto isso, nas grandes cidades alemãs, pessoas moram em ruas com uma concentração de poluentes no ar que nem macacos nem humanos jamais tiveram que experimentar em testes.
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