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Volks, BMW e Daimler por trás de testes em humanos

29 de janeiro de 2018

Grupo de pesquisa fundado por montadoras alemãs conduziu experimentos sobre efeitos do dióxido de nitrogênio em cobaias humanas. Composto químico está presente em emissões de veículos a diesel.

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Escapamento de carro emite fumaça
Tetes são revelados em meio à discussão sobre proibição da circulação de veículos a diesel nos centros urbanosFoto: picture-alliance/Chromorange/Bilderbox

Um instituto de pesquisa fundado por empresas automobilísticas do país financiou experimentos científicos para testar os efeitos da inalação de dióxido de nitrogênio – gás presente em emissões de carros a diesel – em humanos, segundo reportagens divulgadas na imprensa alemã neste domingo (28/01).

De acordo com os jornais Süddeutsche Zeitung e Stuttgarter Zeitung, o Grupo Europeu de Pesquisas sobre Meio Ambiente e Saúde no Setor de Transportes (EUGT) – organização fundada por Volkswagen, Daimler e BMW e que foi extinta em meados de 2017 – encomendou a pesquisa.

Leia também: Executivo da VW é condenado em escândalo de emissões

Os jornais, afirmam que o estudo intitulado "Inalação de curto prazo de dióxido de nitrogênio por pessoas saudáveis" ocorreu durante um período não determinado entre 2012 e 2015, quando o hospital da Universidade de Aachen examinou 25 pessoas que inalaram quantidades variadas da substância durante várias horas. Segundo o conteúdo da pesquisa, ao qual os jornais tiveram acesso, nenhuma reação foi percebida nos indivíduos.

O objetivo e as conclusões do estudo não foram esclarecidos. A revelação dos experimentos com seres humanos surge em meio à discussão sobre a proibição da circulação de veículos a diesel nos centros urbanos. O debate foi motivado por um escândalo em 2015, quando foi descoberto que a Volkswagen manipulou os dados de emissões de seus automóveis em diversos países para que fossem aprovados em testes de agências reguladoras.

O escândalo manchou a imagem da Volkswagen, com a revelação de que a empresa teria burlado testes de emissão em 11 milhões de veículos mundo afora. A empresa se tornou alvo de investigações na Alemanha e de um processo nos Estados Unidos que lhe rendeu multas no total de 4,3 bilhões de dólares.

Os níveis de dióxido de nitrogênio foram manipulados pela Volkswagen nos EUA durante anos. Segundo a Agência Federal do Meio Ambiente da Alemanha, o composto químico irrita as mucosas nos órgãos respiratórios e seus possíveis efeitos para a saúde humana são tosse, dificuldade para respirar e olhos irritados.

Neste domingo, a Daimler condenou publicamente a realização dos testes de emissões em humanos. "Estamos chocados com a extensão desses estudos e de sua implementação. Condenamos fortemente os experimentos. Mesmo que a Daimler não tenha tido influência na elaboração do estudo, lançamos uma ampla investigação sobre o assunto", afirmou a empresa em comunicado.

Na sexta-feira, o jornal americano The New York Times revelou que o EUGT realizou pesquisas em 2014 nas quais dez macacos aspiravam a fumaça de um Volkswagen Beetle. Os primatas foram colocados numa sala vedada assistindo a desenhos animados enquanto inalavam os gases emitidos pelo veículo.

O objetivo seria fornecer argumentos favoráveis ao uso do diesel, após a Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmar que os gases emitidos por esse tipo de combustível são cancerígenos. As montadoras Volkswagen, Daimler e BMW condenaram publicamente a realização dos experimentos envolvendo macacos.

Reação do governo

O governo alemão condenou os testes em humanos e macacos e pediu esclarecimentos. O porta-voz da chanceler federal, Angela Merkel, afirmou que experimentos em macacos e seres humanos "não são de forma alguma justificáveis em termos éticos e levantam questões críticas àqueles que estão por trás disso".

A ministra alemã do Meio Ambiente, Barbara Hendricks, se disse indignada com as denúncias, afirmando que o que se sabe até agora sobre o ocorrido é "abominável". 

"O fato de que toda uma indústria tenha aparentemente tentado se distanciar de fatos científicos com métodos descarados e duvidosos faz com que isso seja ainda mais monstruoso", afirmou. Ela se disse abalada pelo fato de que cientistas supostamente se dispuseram a acompanhar esses "experimentos repugnantes".

Christian Schmidt, ministro dos Transportes da Alemanha, afirmou não compreender o motivo de tais testes que "não servem à ciência, mas apenas para objetivos propagandísticos", disse sobre a tentativa das montadoras de provar que o diesel não é prejudicial à saúde. 

Ele pediu que as empresas forneçam respostas "imediatas e detalhadas" e afirmou que uma comissão de inquérito de seu ministério, criada após o escândalo de 2015, fará uma reunião especial para avaliar se há ainda outros casos como esse. 

RC/dpa/rtr

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