Esforços do Deutsche Bank não bastam
19 de maio de 2014Era uma vez um banco alemão que, por décadas, teve grande sucesso em deixar os consumidores inquietos e fazer jogadas arriscadas no grande cassino dos investimentos bancários, o que lhe valeu a reputação de ser a mais arrogante casa monetária da Alemanha. É claro que se trata do Deutsche Bank.
Sua arrogância o deixou em risco de litígio durante e depois da crise financeira mundial, motivo pelo qual são agora necessários bilhões de euros em provisões. As transgressões da instituição não têm origem apenas no caso Leo Kirch, cuja empresa de mídia entrou em colapso graças a um comentário – inadvertido ou deliberado – sobre a sua credibilidade, feito pelo ex-presidente do banco Rolf Breuer.
Elas também têm a ver com o seu banco de investimentos, agressivamente expandido por seu ex-presidente Anshu Jain, que o dirigiu por muitos anos. Foram tantas batalhas jurídicas, casos e processos em torno da instituição que dificilmente poderia haver algum auditor capaz de avaliar com segurança os riscos do banco.
Além disso, as entidades reguladoras chegaram à conclusão, após a crise financeira, de que muitos bancos operavam com patrimônio líquido desproporcional ao tamanho de seus negócios. O Deutsche Bank era um deles.
As baixas taxas de juros na zona do euro, as novas regulamentações e o persistente risco de litígio aparentemente levaram os diretores Jain e Fitschen a agir. Eles estão criando novas ações no mercado, atraindo um xeque do Catar para a empresa, reforçando o programa de austeridade para mais de 4,5 bilhões de euros até o final de 2015 e cortando pela metade as antigas previsões de rendimento.
O departamento de relações públicas do banco adoraria ver a imprensa interpretar e celebrar essas medidas como corajosos atos de libertação. Mas é cedo para saber se tais atitudes são de fato libertadoras.
Os bancos europeus encaram agora um novo teste. Ao menos 3% do capital de risco devem ser coberto pelo capital próprio, de acordo com o novo acordo conhecido como Basel 3. O Banco Central Europeu chega ao ponto de exigir uma cota rigorosa de 8%, o que força muitas instituições, entre elas o Deutsche Bank, a agir.
Os bancos podem aumentar seu capital próprio se gastarem menos. Do ponto de vista econômico, essa é uma solução indesejável, uma vez que estrangula o fluxo de crédito para a economia real, desacelerando os investimentos, o crescimento e a geração de empregos. O Deutsche Bank adotou uma abordagem diferente, visando a criação de 300 mil novas ações no mercado e recolhendo cerca de 8 bilhões de euros.
O plano foi recebido com frustração por parte dos acionistas, já que o valor de seus títulos diminui automaticamente quando novas ações inundam o mercado. "O Deutsche Bank deseja devolver o excedente de capital a seus investidores – inclusive na forma de uma proporção de pagamento de dividendos competitiva – a longo prazo", dizia uma declaração do banco no domingo passado. Mas, qual o conforto que os acionistas poderão encontrar nessas palavras?
A "imprensa marrom", por sua vez, vai certamente focar em outro aspecto dessas medidas. Alguns vão dizer que, mais uma vez, um xeque do Catar tem participação em uma empresa alemã. Esse é um alvo fácil para despertar os temores latentes de que forças estrangeiras estariam usurpando o crème de la crème da economia alemã.
No entanto, envolvimentos desse tipo são normais no mundo dos negócios. Xeques do Oriente Médio com frequência adquirem participação em corporações alemãs – em nenhum caso, em detrimento da empresa. A firma de investimentos do Catar que o Deutsche Bank está atraindo já é, há muito tempo, um dos principais acionistas da Volkswagen, e até hoje não houve qualquer reclamação por parte da sede da empresa automobilística em Wolfsburg.