Agravamento da crise do euro faz analistas pensarem em "plano B"
14 de junho de 2012No dia 17 de junho, a Grécia realiza sua segunda eleição parlamentar em 50 dias. O país é atualmente uma espécie de barril de pólvora econômico. Uma nova pesquisa de opinião ou uma declaração irresponsável por um político poder ser suficiente para fazer com que os gregos saquem suas economias dos bancos ainda mais rapidamente do que já o fazem.
"Posso imaginar que a situação venha a piorar ainda antes desta eleição", diz Martin Hüfner, economista-chefe da Assenagon Investiments, em Munique. Nesse caso, provavelmente serão introduzidos controles de capital, para evitar saques maciços. Mesmo o presidente do Banco Central suíço já especulou abertamente sobre esta possibilidade. "Tenho certeza de que, mesmo em Atenas, no Banco Central Europeu [BCE] ou em Bruxelas, já se pensam em controles de capital", afirma Hüfner em entrevista à Deutsche Welle.
Moedas paralelas
“Até que se forme um governo em Atenas que se comprometa com os pontos acertados no pacote de ajuda à Grécia, ninguém deve mais enviar dinheiro ao país”, avalia Hüfner. A zona do euro também só pretende voltar a ajudar os gregos com alguns bilhões de euros adicionais quando os peritos da chamada troika – formada pela Comissão Europeia, pelo BCE e o Fundo Monetário Internacional – confirmarem que o rumo da política de austeridade será mantido.
Se a próxima parcela do pacote não chegar até o final de junho, Atenas pode entrar em falência desordenada e ter que sair da união monetária. As consequências podem ser a quebra de bancos, recessão e distúrbios sociais. Mas também a coisa não precisa chegar a ser necessariamente tão ruim assim.
De acordo com Thomas Mayer, economista-chefe do Deutsche Bank, a Grécia pode vir a ter duas moedas paralelas. Em vez de salários e aposentadorias, os gregos podem receber notas promissórias, que podem trocar entre si, cobrindo as necessidades da vida quotidiana. As promissórias são chamadas por Mayer de "geuro", o euro grego. “Seria uma solução em que os gregos saem, em parte, do euro. Seria, provavelmente, dos males, o menor."
A própria Grécia já é considerada agora pelos mercados financeiros como o problema menor da zona do euro. A Espanha já se tornou a maior causa de preocupações. A quarta maior economia da união monetária está sofrendo com um setor bancário frágil, no qual cada vez mais problemas são visíveis, após o estouro da bolha do mercado imobiliário.
Especialistas discordam sobre situação na Espanha
"Qualquer pessoa de bom senso diria que os espanhóis devem recorrer ao pacote de resgate. As taxas de juros subiram acentuadamente. Eles simplesmente não têm dinheiro", diz o economista Hüfner. Já Thomas Mayer, do Deutsche Bank, acha que a situação em Madri não é tão dramática. "A Espanha tem opções. Por um lado, eles poderiam pegar empréstimos no mercado com juros de 6,5% a 7% a fim de recapitalizar seus bancos". Segundo ele, no passado a Espanha já pagou mais caro por empréstimos. Se isso for demais, na sua opinião, o país continua com a opção de pedir ajuda europeia para reestruturação bancária. "Para isso, a Espanha só precisaria aceitar condições impostas ao setor bancário espanhol e não um programa para a economia global", diz Mayer, em entrevista à Deutsche Welle.
Enquanto isso, não há mais dúvidas de que a atual estratégia de recuperação, baseada somente na disciplina fiscal, falhou. A maioria dos países da zona do euro desliza cada vez mais profundamente na recessão. Uma economia em recessão leva a uma menor receita fiscal e a uma dívida ainda maior.
Regra fiscal "respirante"
"A Europa precisa de uma regra fiscal que respire", escreve Dennis Snower, presidente do IfW (Instituto para Economia Mundial, na sigla em alemão) de Kiel, em artigo publicado no jornal Frankfurter Allgemeine.
Ele acredita que os países afetados pela recessão devem ser autorizados a "estimular sua economia através do investimento público e de cortes de impostos". Além disso, ele é a favor de que os fundos estruturais da UE e o Banco Europeu de Investimentos sejam envolvidos.
Martin Hüfner propõe até mesmo um segundo orçamento, um orçamento de investimentos para os países em crise, o qual deve abranger pelo menos 1% do PIB dos países atingidos. Hüfner acredita que não seriam necessários, para isso, nem eurobônus, nem project bonds. “Os mercados financiariam programas nacionais, se perceberem que a situação melhora dessa forma”, prevê.
Desintegração da zona euro
Hüfner também é a favor que os governos deem legitimidade para a moeda comum através das urnas. "O então chanceler federal Helmut Kohl disse que um plebiscito [sobre o euro] teria um resultado negativo e que, por isso, não deveria ser realizado". "O diagnóstico estava correto, mas a conclusão é falsa. Precisamos do apoio da população", opina Hüfner.
Ele estima a chance de que isso aconteça em cerca de 50%. Caso contrário, os países devem voltar às suas moedas nacionais. Mas Thomas Mayer não vê essa alternativa como algo positivo. Ele afirma que não só os custos seriam muito altos.
"Isso traria de volta uma Europa de pequenos Estados. Não teríamos, então, independência alguma na política monetária", prevê. Segundo o economista-chefe do Deutsche Bank, nesse caso a Europa voltaria a depender do que ocorre fora dela.
Uma divisão da união monetária em duas zonas, uma ao norte e outra ao sul, vê Martin Hüfner como algo fora da realidade. "É um projeto inviável politicamente. Porque, provavelmente, Alemanha e França seriam separadas." Tal medida tornaria a cooperação política na Europa algo extremamente difícil, segundo o especialista.
Autora: Danhong Zhang (md)
Revisão: Carlos Albuquerque