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O que está por trás da desvalorização do petróleo?

Sophie Schimansky, de Nova York (md)28 de janeiro de 2016

No início de 2016, commodity atingiu seu valor mais baixo em 12 anos. Entre outros motivos, devido à inundação do mercado promovida pela Arábia Saudita. Mas especialistas acreditam que o fundo do poço já foi alcançado.

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Foto: AFP/Getty Imag/O. Torres

"O petróleo sempre foi um negócio difícil", desabafa Jeffrey Grossman, da Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex). Seu café já está frio, ele mal tem tempo de atender o telefone, que toca a todo momento. O preço do petróleo não só parou de cair, como dá sinais de que voltará a subir novamente.

Grossman e seus colegas da bolsa nova-iorquina estão no ramo há décadas e estão acostumados a crises e variações no preço da commodity. Mas, desta vez, é diferente.

Nos primeiros dias de 2016, o preço do petróleo chegou a despencar para menos de 30 dólares. Hoje, um litro de leite pode custar o dobro do que a mesma quantidade de petróleo vale na Bolsa Mercantil de Chicago. É uma enorme perda de valor, que ninguém esperava.

Segundo Antoine Halff, especialista em política global de energia da Universidade de Columbia, em Nova York, antes da crise financeira de 2008, temia-se que a demanda por petróleo – na época na casa dos 130 dólares – se tornasse insustentável.

"As pessoas pensavam que não havia como subir mais. A percepção era de que não havia petróleo suficiente, de que o mercado estava superaquecendo e de que haveria uma guerra matéria-prima", comenta Antoine Halff.

Razões para o equilíbrio

Há muitas razões para este desequilíbrio no mercado global. A demanda está estagnada, mesmo em mercados emergentes, como a China. Os EUA conseguiram aumentar sua oferta de petróleo graças ao fraturamento hidráulico (fracking) e já não precisam mais importar. O consumo global de petróleo vai subir neste ano mais lentamente do que em 2015, segundo a Agência Internacional de Energia. A previsão é que em 2016 ele aumente 1,3%, contra 1,7% registrado no ano passado.

Mesmo o boom na produção de óleo de xisto (substituto para o petróleo tradicional) nos Estados Unidos desempenha um papel. A evolução dos processos de extração faz com que sejam exploradas jazidas que anos atrás eram tidas como inexploráveis. A extração de óleo de xisto através de fracking ainda é muito cara, mas pode se tornar cada vez mais barata. Ao mesmo tempo, a concorrência está ficando cada vez mais dura.

"O óleo de xisto pode garantir que os EUA continuem competitivos", avalia Mark Mills, do Instituto Manhattan.

A Arábia Saudita também tem culpa do acirramento da concorrência. O país possui a segunda maior reserva mundial do produto e inunda o mercado com cada vez mais petróleo – no início, com objetivo de combater a extração por fracking e, depois, para dificultar a entrada do Irã no mercado. Espera-se que o Irã injete no mercado entre 300 e 600 mil barris diários.

Symbolbild Fracking Anlage
Extração por fraturamento hidráulico nos EUAFoto: picture-alliance/dpa

"Decisão racional"

A queda do preço faz as margens de lucro desaparecerem. A empresa petrolífera britânica BP estima que cada dólar a menos no preço do petróleo reduz o lucro líquido anual em 500 milhões de dólares. As consequências são demissões. Entre 100 mil e 250 mil trabalhadores da indústria do petróleo ficaram desempregados nos últimos 18 meses.

Especialmente para estados americanos como Texas, Louisiana, Dakota do Norte e Alasca, a pressão sobre os preços tem consequências devastadoras. Eles são financiados, em grande parte, pelas receitas fiscais do petróleo. No Brasil, o baixo preço do petróleo ameaça tornar inviável a extração na camada do pré-sal.

A tendência de queda pode ser paralisada pela redução da produção. Mas muitos perderam a confiança na Arábia Saudita. Muitos nos EUA e na Europa acreditam que os sauditas defendam impiedosamente sua quota de mercado contra o Irã. Mas Antoine Halff não acredita que por trás desse comportamento se esconda uma estratégia política.

"A decisão de vender cada vez mais petróleo é racional", diz, explicando que quando os preços caem é necessário vender uma quantidade maior, para obter o mesmo lucro, mesmo quando o preço cai ainda mais.

"O que estamos vendo agora são o equilíbrio do mercado e o preço de mercado", disse recentemente o ministro do Exterior da Arábia Saudita, Adel al-Jubeir, em entrevista à CNN.

Seja por tática política ou equilíbrio do mercado, o resultado é o mesmo. Concorrentes menores são retirados do mercado. Antoine Halff acredita que o mercado vai se corrigir a longo prazo e frisa que a Arábia Saudita sofre tanto com os preços baixos quanto os outros países da Opep. Jeffrey Grossman também crê que o fundo do poço já tenha sido alcançado.

"Temos visto uma má notícia atrás da outra sendo despejada no mercado", lamenta. Ele aposta que, agora, o preço deve voltar a subir, pelo menos em alguns dólares. O valor atual do petróleo prova que ele está certo. Desde a última quinta-feira (21/01), a commodity se mantém acima da marca de 30 dólares.