Arábia Saudita, Irã e o preço do petróleo
5 de janeiro de 2016Mais de 80% das receitas do governo da Arábia Saudita vêm do petróleo. Mas o orçamento do país, governado despoticamente, escorregou fundo para o vermelho devido à queda do preço do matéria-prima, que recuou mais de 60% desde meados de 2014. O deficit em 2015 ficou em quase 90 bilhões de euros, segundo o Ministério das Finanças em Riad.
Este não é o primeiro ano de deficit e nem será o último. De acordo com o FMI, em cinco anos as reservas de dinheiro do país estarão esgotadas se nada for feito. A diretora-gerente do órgão, Christine Lagarde, afirmou recentemente que a queda dos preços do petróleo faz com que reformas sejam inevitáveis no país. "O crescimento deve vir mais do setor privado e menos do setor governamental", recomendou.
Os gastos do governo devem ter superado 50% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, conforme cálculos do FMI. No ano anterior, essa parcela era de 40,8%. Isso porque as receitas oriundas do petróleo continuam diminuindo, ao passo que os custos do Estado de bem-estar social saudita sobem.
Cerca de 10% da população são funcionários públicos, e seus salários são considerados altos. Os pesados subsídios para água, eletricidade e gasolina rendem amplo apoio da população ao regime. Mas só a manutenção dos preços da energia consome anualmente quase um oitavo do PIB. Por isso, o FMI cobra uma redução dos subsídios.
Na verdade, o governo em Riad determinou os primeiros cortes já no início do ano, poucos dias antes das execuções no país. Alguns preços da gasolina serão elevados em mais de 50%. A discussão inclui a introdução de um imposto sobre o valor agregado.
Empresas estrangeiras, que até agora ganharam muito com o crescimento do país, também podem ser prejudicadas com esse novo curso. Só o novo metrô da capital, Riad, deve custar mais de 18 bilhões de euros, mas as medidas de austeridade devem reduzir os gastos com grandes projetos. A mídia local noticia que, em algumas obras, os atrasos de pagamento chegam a até seis meses e que alguns contratos para construções foram renegociados.
Briga dentro da Opep
Para equilibrar seu orçamento, a Arábia Saudita precisa que o petróleo custe 82 dólares por barril, conforme cálculos do FMI. O preço atual gira em torno de 40 dólares.
Os próprios governantes sauditas são responsáveis por isso. "A Arábia Saudita usa o preço do petróleo como arma", diz o analista Patrick Artus, do banco francês Natixis. Um dos alvos é o Irã, contra o qual Riad nutre obstinadamente um conflito cada vez mais sangrento pela hegemonia regional. Após o fim das sanções ocidentais a Teerã, a briga entre a Arábia Saudita e Irã também se acirra nas mesas de negociação da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep).
Os poderosos sauditas se recusam há tempos, teimosamente, a reduzir a sua produção – apesar do declínio do preço do petróleo. Eles visam, desse modo, prejudicar os novos produtores de petróleo dos EUA, já que preços baixos inviabilizam a produção americana baseada na cara tecnologia de fracking.
Mas a estratégia não tem funcionado, e o preço baixo gera problemas para todos os países produtores. Também por isso é que o Irã cobra veementemente, dentro da Opep, a redução da produção, sem, entretanto, ser bem-sucedido.
Com o fim das sanções, o Irã sonha em retomar seu antigo poder na Opep. Antes delas, a produção iraniana de petróleo era de até quatro milhões de barris diários. Hoje, 800 mil barris já seriam um crescimento respeitável. Mas qualquer aumento da produção fará com que o preço baixe ainda mais se os outros produtores não diminuírem sua produção. Por isso, o Irã pressiona para que os demais membros da Opep, principalmente a Arábia Saudita, produzam menos.
Só que os governantes em Riad não têm o menor interesse em atender à reivindicação do Irã, apesar de a alta produção e o consequente preço baixo do petróleo criarem problemas cada vez maiores para eles mesmos. Nesse ritmo, o conflito regional entre Riad e Teerã ameaça desestabilizar toda a Opep.