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O peso da eleição presidencial sobre disputas nos estados

12 de outubro de 2018

Na tentativa de embarcar em onda bolsonarista, maioria dos que concorrem a governos estaduais no segundo turno já declarou apoio ao presidenciável do PSL, com alguns candidatos contrariando direção nacional do partido.

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João Dória, do PSDB
O candidato ao governo de São Paulo João Dória, do PSDB, declarou apoio a BolsonaroFoto: picture-alliance/Zuma/P. Lopes

O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) tem a preferência de candidatos a governos estaduais em quase todas as regiões, perdendo para Fernando Haddad (PT) apenas no Nordeste, tradicional reduto petista. Tal mapa de apoios segue o mesmo padrão dos resultados dos dois candidatos à Presidência nas urnas no primeiro turno.

Não se trata de mera coincidência, mas sim de estratégia eleitoral. Em alguns casos, os políticos regionais contrariam a direção nacional do próprio partido para aproveitar o bom momento de Bolsonaro, que ficou com 46,03% dos votos no primeiro turno, contra 29,28% de Haddad.

Dos 28 palanques disponíveis nos 14 estados que terão segundo turno para governo, o candidato do PSL já conta com o apoio de 15 candidatos, sendo que três são do mesmo partido. Por enquanto, Haddad conseguiu apenas três manifestações públicas de apoio para este turno, incluindo a da única candidata do PT. São dez candidatos que ainda não definiram apoio ou se declararam neutros.

Entre os candidatos aos governos estaduais, há uma tendência a seguir o discurso do presidenciável que obteve mais votos na região, aponta Eduardo Grin, cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

"Como no segundo turno muitos candidatos estaduais não possuem integrantes da sua legenda na disputa à Presidência, os diretórios nacionais dos partidos acabam liberando o apoio. E em muitos casos, há uma tendência de determinados candidatos apoiarem o presidenciável que representa algo parecido ao que ele defende", afirma.

"Por exemplo, o João Dória (PSDB) representa um antipetismo e, então, apoia o Bolsonaro. Até o seu discurso ficou mais agressivo para se aproximar do discurso do candidato do PSL", diz o professor.

O PSDB, que disputou o primeiro turno com Geraldo Alckmin, disse aos eleitores do partido para decidirem o voto "de acordo com a sua consciência” e "convicção". Enquanto Dória declarou apoio ao capitão reformado, a esquerda do partido optou publicamente por Haddad.

Grin se refere a declarações feitas pelo candidato tucano, que disputa o governo de São Paulo com Márcio França (PSB), em entrevista à Rádio Bandeirantes no dia 2 de outubro. "Não façam enfrentamento com a Polícia Militar nem a Civil. Porque, a partir de 1º de janeiro, ou se rendem ou vão para o chão", disse Dória.

No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, onde Bolsonaro obteve ampla vantagem sobre Haddad, todos os candidatos que disputam segundo turno declararam apoio ao capitão reformado. Bolsonaro também recebeu o apoio dos dois candidatos a governo no Mato Grosso do Sul, em Rondônia e no Amazonas.

Para David Fleischer, professor e cientista político da Universidade de Brasília (UnB), essas aproximações políticas buscam votos diretos. "O candidato a governo quer ganhar a eleição, então, se um presidenciável teve muitos votos na sua região, é natural que ele busque esse público. Isso ocorre em todas as eleições", diz.

Na tentativa de embarcar na onda bolsonarista, três candidatos do PDT contrariaram o posicionamento nacional do partido. Carlos Eduardo (RN), Amazonino Mendes (AM) e Juiz Odilon (MS) declararam apoio a Bolsonaro mesmo após o partido anunciar um "apoio crítico" a Haddad.

Grin ressalta que às vezes há diferenças entre as legendas nos estados e seus núcleos nacionais e que é comum não haver um diálogo entre as lideranças.

"O Brasil não permite que sem criem partido estaduais, então sempre haverá arranjos diferentes. Há casos inclusive de partidos que mudam de perfil em cada região. O PSB no Nordeste é um partido mais reconhecido pela atuação de esquerda, mas no Sul e Sudeste é mais conservador", exemplifica.

Para os presidenciáveis, o apoio de candidatos a governador acaba sendo mais relevante que o apoio daqueles que concorreram à Presidência no primeiro turno, considera o especialista.

"Esse apoio regional é mais eficaz para a obtenção de votos pelos candidatos à Presidência do que o de presidenciáveis que não passaram para o segundo turno. Então, ele é bem relevante e disputado", diz o professor da FGV.

Como se posicionaram os candidatos a governador nos 14 estados que terão segundo turno:

SUDESTE

São Paulo: João Dória (PSDB) declarou apoio a Bolsonaro. Márcio França (PSB) disse que ficará neutro.

Rio de Janeiro: Wilson Witzel (PSC) vai apoiar Bolsonaro. Eduardo Paes (DEM) se mantém neutro. 

Minas Gerais: Romeu Zema (Novo) declarou apoio a Bolsonaro. Antônio Anastasia (PSDB) se mantém neutro. 

NORDESTE

Rio Grande do Norte: Fátima Bezerra (PT) apoia o Haddad. Carlos Eduardo (PDT) anunciou apoio a Bolsonaro.

Sergipe: Belivaldo Chagas (PSD) apoia Haddad. Valadares Filho (PSB) ficou neutro.

SUL

Rio Grande do Sul: Eduardo Leite (PSDB) e José Ivo Sartori (MDB) declararam apoio para Bolsonaro. 

Santa Catarina: Gelson Merísio (PSD) e Comandante Moisés (PSL) vão apoiar Bolsonaro.

NORTE

Amapá: Waldez Góes (PDT) não definiu apoio. Capi 40 (PSB) vai apoiar Haddad. 

Amazonas: Wilson Lima (PSC) e Amazonino Mendes (PDT) vão apoiar Bolsonaro no segundo turno.

Pará: Helder Barbalho (MDB) e Márcio Miranda (PSDB) se declararam neutros.

Rondônia: Expedito Júnior (PSDB) e Coronel Marcos Rocha (PSL) vão apoiar Bolsonaro. 

Roraima: Antônio Denarium (PSL) apoia Bolsonaro. Anchieta (PSDB) é neutro. 

CENTRO-OESTE

Distrito Federal: Ibaneis (MDB) e Rodrigo Rollemberg (PSB) são neutros.

Mato Grosso do Sul: Reinaldo Azambuja (PSDB) e Juiz Odilon (PDT) declararam apoio a Bolsonaro. 

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