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O Brasil na imprensa alemã (28/12)

28 de dezembro de 2022

Jornais da Alemanha destacam potencial de parceria com o Brasil após a posse de Lula, o último indulto de Natal de Bolsonaro e as peculiaridades de uma cidade do interior do MT que votou em peso no atual presidente.

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Luiz Inácio Lula da Silva e Olaf Scholz
"Governo alemão pode se beneficiar da excelente ligação entre os social-democratas e Lula", diz jornalFoto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Tagesspiegel - Alemanha volta a ter um parceiro no Brasil (27/12)

Depois dos anos sombrios de Bolsonaro, muitas esperanças da UE e do governo dos EUA estão depositadas em Lula, e não apenas em termos de política climática.

O fato de que o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, viajará a Brasília no dia 1º de janeiro para a posse de Lula envia um sinal claro. Steinmeier homenageia assim a mudança de poder, até poucos meses atrás nada pacífica, no maior país da América Latina, e pretende anunciar "uma nova fase de parceria estratégica". Para que isso aconteça, é preciso lançar um olhar realista para a difícil situação do novo presidente.

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Hoje, Lula assume o comando de um país economicamente enfraquecido e polarizado. Durante a campanha, ele contou com o apoio de uma ampla coalizão que ia da extrema esquerda até a centro-direita, o que acabará por criar tensões entre diferentes polos ideológicos no governo, inclusive em questões de política externa.

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Com a economia em dificuldades, a folga fiscal de Lula para agradar os brasileiros é limitada. Após o acesso de destruição de Bolsonaro, um enorme trabalho de limpeza deve ser feito nos setores de educação e proteção ambiental. Ao mesmo tempo, os companheiros ideológicos de Bolsonaro, que obteve 49,1% dos votos no segundo turno, farão de tudo para torpedear Lula.

Lula, portanto, tem uma base muito mais fraca para sua agenda de política externa do que em seus dois primeiros mandatos. Parte de sua energia ele terá que primeiro usar para consertar a porcelana diplomática que Bolsonaro quebrou com os países vizinhos da América Latina.

Lula está interessado em estreitar as relações com a Alemanha e a Europa, mas não vai dizer o que os europeus querem ouvir. Isso ele demonstrou em uma entrevista em maio, na qual falava sobre o presidente ucraniano, Zelenski: "Esse cara é tão responsável pela guerra quanto Putin". Numa postura típica de Estados fora da esfera do Ocidente, Lula está tão relutante em apoiar sanções contra a Rússia quanto em isolar diplomaticamente o Kremlin.

No entanto, isso não deve ser um obstáculo para investir em relações mais fortes entre Brasil e Alemanha, especialmente porque Lula pode ser um parceiro construtivo para a Alemanha dentro das Nações Unidas. Para isso, o governo [alemão] pode se beneficiar da excelente ligação entre os social-democratas e Lula.

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Além disso, o Brasil pode desempenhar um papel importante na diversificação do fornecimento de matérias-primas para a Alemanha, de terras raras a lítio. No espírito de uma verdadeira parceria de matérias-primas, a Alemanha deveria oferecer ao Brasil investimentos conjuntos no processamento adicional de matérias-primas e uso industrial (por exemplo, em fábricas de baterias) no Brasil. Lula e Scholz também podem dar novo impulso à aprovação do acordo comercial UE-Mercosul.

A Alemanha também pode aprender com o Brasil a lidar com movimentos antidemocráticos e com os perigos de um cenário de informação polarizado e caracterizado pela desinformação, no qual a transmissão de notícias funciona principalmente por meio das redes sociais e onde a imprensa tradicional perdeu muito de sua importância. Porque o que é realidade no Brasil hoje pode estar reservado para a Alemanha amanhã.

Tagesspiegel - Bolsonaro perdoa policiais e soldados condenados (24/12)

Pouco antes do final de seu mandato, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, perdoou policiais e soldados condenados. Os membros das forças de segurança e militares condenados por crimes culposos que já cumpriram pelo menos um sexto das penas podem ser libertados da prisão. É o que resulta de um decreto publicado no Diário Oficial na sexta-feira [23/12].

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Policiais e soldados, por exemplo, que durante operações mataram ou feriram pessoas podem se beneficiar da anistia. Bolsonaro, um ex-militar, tem dito repetidamente que policiais que em serviço matam um suspeito não deveriam ser investigados, e sim merecem uma medalha.

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As forças de segurança brasileiras são notórias por operações robustas. Quando as unidades de polícia especial fortemente armadas entram nas favelas para combater as gangues de drogas, os transeuntes são frequentemente pegos no meio do tiroteio. No ano passado, as forças de segurança mataram 6.133 pessoas no Brasil.

Süddeutsche Zeitung - Uma visita à Terra de Bolsonaro (21/12)

Nas últimas décadas, o Brasil se tornou o maior produtor de soja do mundo. Em nenhum lugar se produz mais do que em Sorriso [MT], com 2,2 milhões de toneladas só no ano passado. Sorriso enriqueceu com a soja, há guindastes por toda parte e novos prédios chiques. […] Mas apesar de toda a alegria, infelizmente também há um problema: o novo presidente.

No final de outubro, o sindicalista de esquerda e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva venceu as eleições no Brasil. Seus fãs aplaudiram, mas quanto mais perto ele chega de assumir o cargo em 1º de janeiro de 2023, mais claro fica: vencer foi provavelmente a tarefa mais fácil – a parte mais difícil ainda está por vir.

Lula da Silva assume um país cuja sociedade foi corroída pelas disputas políticas, onde amizades se desfazem, famílias se dividem, a violência se instala e, às vezes, culmina em mortes. A pergunta de sempre é: quem é o melhor presidente? Lula da Silva ou Jair Bolsonaro?

O atual mandatário de extrema direita do Brasil havia prometido a vitória a seus apoiadores: "Qualquer outra coisa seria fraude." Bolsonaro semeou dúvidas sobre o sistema eleitoral e convocou seus apoiadores a comprarem armas e pistolas: "Um povo armado nunca será escravizado!", disse ele pouco antes das eleições. Quando perdeu por uma margem apertada, eclodiram protestos. Manifestantes pró-Bolsonaro marcharam em frente a quartéis e exigiram a intervenção do Exército. Os caminhoneiros estacionaram atravessados no meio de rodovias e, também em Sorriso, fizeram bloqueios de terra e de pneus em chamas. Aqui, três quartos da população votaram no atual presidente.

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Os bloqueios acabaram, a vida continua, e Bolsonaro continua onipresente por aqui: sorri em cartazes ou camisetas, em capotas e para-lamas. "Sr. Presidente, estamos com você", diz um grande adesivo na porta do gabinete do [vereador] Iago Mella. Ainda assim, também há um boneco inflável de Lula da Silva em uma estante – mas com roupas de prisioneiro. "Em breve nosso país será governado por um criminoso condenado", diz Iago Mella.

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O mandatário de direita brasileiro há muito vem cortejando o favor de fazendeiros e residentes no interior rural. Enquanto Lula da Silva, o líder sindical de esquerda dos metalúrgicos de um subúrbio industrial de São Paulo, apresenta-se com grandes nomes do samba, Jair Bolsonaro se encontra com músicos sertanejos que tocam uma espécie de música country brasileira. Ou acena com chapéu de cowboy em arenas de rodeio.

Muitas das demandas de Bolsonaro são as mesmas de moradores de áreas como Sorriso. Por exemplo, há a questão dos indígenas: antes mesmo de assumir o cargo, o mandatário de direita havia prometido não destinar um centímetro de terra como área protegida para comunidades nativas. "Os indígenas não falam a nossa língua, não têm dinheiro e nem cultura. São povos nativos. Como conseguiram ter 13% do território nacional?", questionou Bolsonaro.

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Está comprovado que a criação de territórios indígenas é uma ferramenta eficaz para a proteção da floresta. Desde que Jair Bolsonaro chegou ao poder, o desmatamento na Amazônia disparou. Especialistas advertem incansavelmente que a floresta amazônica pode estar atingindo um ponto crítico em que a umidade emitida pelas árvores não é mais suficiente para gerar a chuva necessária. A Amazônia se transformaria então em uma savana, com consequências imprevisíveis para o clima no mundo todo.