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Presidente da Alemanha vai comparecer à posse de Lula

1 de dezembro de 2022

Após quatro anos de distanciamento entre Brasília e Berlim, Frank-Walter Steinmeier diz que vai "prestigiar transição democrática" e que quer "dar impulso a uma nova fase da parceria estratégica entre Brasil e Alemanha".

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Frank-Walter Steinmeier
Veterano da política, social-democrata Frank-Walter Steinmeier é presidente alemão desde 2017Foto: Michele Tantussi/REUTERS

Em mais um sinal de que Berlim pretende se reaproximar do Brasil, o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, vai comparecer à posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, em 1° de janeiro de 2023. A participação foi anunciada nesta quinta-feira (01/12) pelo gabinete do chefe de Estado alemão.

Em comunicado, o escritório de Steinmeier afirma que, ao participar da posse de Lula, o presidente alemão vai "prestigiar a transição democrática de poder no maior país da América Latina” e que ele ainda pretende "dar impulso a uma nova fase da parceria estratégica entre Brasil e Alemanha".

Viagem à Amazônia

A viagem de Steinmeier ao Brasil deve durar três dias. No dia seguinte à posse, o presidente alemão vai viajar a Manaus acompanhado da ministra alemã do Meio Ambiente, Steffi Lemke.

O comunicado afirma que, com a visita à Amazônia, Steinmeier vai reafirmar "o apoio alemão à proteção da floresta tropical” e destacar "sua importância para a política climática internacional”. Ainda segundo a nota, Steinmeier espera uma dinâmica positiva na proteção da floresta com a posse do novo governo.

Apesar de, como chefe de Estado, o presidente possuir atribuições executivas, seu papel é quase apenas simbólico. A Lei Fundamental (Grundgesetz) da Alemanha lhe garante a competência de assinar acordos e tratados internacionais, mas a política externa cabe ao governo, chefiado pelo chanceler federal.

Encontros anteriores

Em 31 de outubro, Steinmeier parabenizou publicamente Lula pela vitória na eleição presidencial brasileira. No mesmo dia, o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, que assim como Steinmeier é filiado ao Partido Social-Democrata alemão (SPD), também parabenizou o brasileiro.

Na ocasião, o presidente alemão afirmou que o Brasil é um parceiro estratégico importante da Alemanha e um ator-chave para enfrentar os desafios globais da atualidade, numa alusão ao papel fundamental do Brasil no combate às mudanças climáticas.

A participação na posse não será o primeiro encontro entre Lula e Steinmeier. Os dois já se encontraram em outras ocasiões, como numa viagem de Steinmeier ao Brasil em 2006, quando o alemão ocupava o cargo de ministro das Relações Exteriores do governo do primeiro governo da ex-chanceler federal Angela Merkel.

Em 2012, quando Lula já havia deixado a presidência e Steinmeier era líder da oposição ao governo Merkel, os dois participaram em Berlim de um debate promovido pela Fundação Friedrich Ebert, entidade ligada ao SPD, a sigla do atual presidente alemão.

Em 2015, quando Steinmeier havia voltado a ocupar o posto de ministro de Merkel, eles se encontraram novamente, desta vez no Brasil.

O PT e SPD mantêm laços há décadas e Lula manteve relações amistosas com figuras históricas da legenda alemã como Willy Brandt, Gerhard Schröder, Johannes Rau e Helmut Schmidt.

Steinmeier e Lula durante conferência em 2012
Steinmeier e Lula durante conferência em 2012Foto: picture-alliance/dpa

Reaproximação após Bolsonaro

Os gestos de Berlim em relação a Lula contrastam com a deterioração das relações entre Brasil e Alemanha durante a presidência de Jair Bolsonaro.

Nos últimos quatro anos, os dois países se distanciaram, especialmente em temas como proteção ambiental. Nem Merkel nem Scholz visitaram o Brasil enquanto Bolsonaro ocupou o Planalto e o brasileiro também não foi convidado para realizar uma visita de Estado ao país europeu.

 Angela Merkel e Jair Bolsonaro
Bolsonaro e Merkel. Ex-chanceler reconheceu dificuldade de lidar com presidente brasileiroFoto: Clauber Cleber Caetano/Presidência da República do Brasil

Bolsonaro também protagonizou vários ataques verbais ao governo alemão, especialmente quando Berlim cobrou mais proteção ambiental no Brasil. O governo brasileiro também promoveu mudanças unilaterais na gestão do Fundo Amazônia, que conta com recurso da Alemanha e Noruega, provocando críticas dos dois países e paralisando o programa. Diante do desmonte de políticas ambientais no Brasil, Berlim também congelou o envio de recursos para programas ambientais no país sul-americano.

Em 2019, a então chanceler federal Angela Merkel, disse ver com "grande preocupação" a situação no Brasil sob Bolsonaro. Em 2020, o governo alemão ainda admitiu que a cooperação com o governo federal brasileiro em áreas como política ambiental e assistência aos povos indígenasestava sendo cada vez mais difícil.

Luiz Inácio Lula da Silva e Olaf Scholz
Lula e Olaf Scholz durante encontro em novembro de 2021Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Embora os atritos entre os dois países não tenham sido tão explícitos como os enfrentados pela França com Bolsonaro, o Partido Social-Democrata (SPD), que participava da coalizão de Merkel e atualmente lidera o governo alemão, não escondeu sua preferência por Lula. Em novembro do ano passado, Scholz chegou a se encontrar com o petista em Berlim após o resultado da eleição alemã, quando ainda negociava a formação do governo atual. Diversas figuras do SPD também manifestaram solidariedade a Lula enquanto o petista esteve preso.