O berço do maior avião do mundo
21 de maio de 2003Nem para a Airbus a conjuntura anda boa. Mesmo assim, a quarta-feira foi dia de festa para o consórcio europeu em Hamburgo. Com a inauguração do primeiro pavilhão de construção do A380, a Airbus dá mais um passo para consolidar-se como líder do mercado mundial de aviões e voltar a voar alto quando a crise econômica e, em particular, da aviação civil, estiver superada.
Se em 1999 mais de 900 aviões foram fabricados em todo o mundo, este ano a safra ficará em torno de apenas 600. Além da retração nas vendas, a desvalorização do dólar em relação ao euro preocupa a Airbus. "Se a cotação continuar assim, pode nos causar sérios problemas", diz Gerhard Puttfarcken, presidente da filial alemã da empresa. Somente este ano, o consórcio tem previstos gastos de um bilhão de euros.
O presidente do consórcio europeu, Noel Forgeard, não tem medo da conjuntura. Segundo ele, a Airbus está "bem equipada" para aproveitar as dificuldades econômicas como chance de chegar ao fim da crise no topo entre as empresas da indústria aeronáutica. A companhia fixou como meta cortar 1,5 bilhão de euros em despesas até 2005. Os investimentos no A380 serão entretanto preservados, para que seu projeto seja concluído dentro do cronograma.
Os números do A380
Até hoje, o desenvolvimento da aeronave para 555 passageiros e com autonomia de vôo de 15 mil quilômetros já custou 10 bilhões de euros. Os planos da Airbus são de entregar 48 unidades do A380 por ano. A primeira fuselagem começará a ser fabricada em Hamburgo, em agosto, onde mais dois pavilhões para pintura ainda estão em construção. Outras partes serão produzidas na Inglaterra, na Espanha e na França, sendo a aeronave concluída em Toulouse.
O vôo inaugural do primeiro avião está previsto para 2005 e no ano seguinte os compradores passam a receber suas encomendas. No momento, o consórcio possui 103 pedidos, dos quais 17 da versão cargueira. Mas a Airbus está confiante no aumento da demanda. "Até o fim do ano, deveremos ter 120 encomendas", estima Charles Champion, chefe do projeto do A380.
Importância para Alemanha e Hamburgo
Num país em que a economia está quase estagnada, um projeto do porte do A380 não poderia deixar de contar com o apoio do governo. O chanceler federal Gerhard Schröder teve papel importante para garantir o financiamento ao projeto e, na inauguração, prometeu ajudar naquilo mais que for preciso. A fabricação do A380 deverá criar até 2007 cerca de duas mil vagas de trabalho na Airbus em Hamburgo, além de outros dois mil empregos junto aos fornecedores.
Do lado de fora da festa desta quarta-feira, ficaram os ativistas de associações de moradores e organizações ambientais que ainda brigam na Justiça contra o aterro de 140 hectares de uma área de preservação ambiental do rio Elba. A obra era necessária para a ampliação da pista de decolagem da fábrica da Airbus. Caso contrário, os novos A380 não poderiam sair de lá voando.