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Missão perigosa e talvez impossível

(ef)24 de outubro de 2003

Parlamento alemão aprova envio de tropa a Cunduz para ajudar na estabilização e reconstrução do Afeganistão, embora políticos de todos os partidos concordem que a ação será perigosa. O drama na região é o narcotráfico.

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Soldados alemães nas montanhas de CabulFoto: AP

Cunduz faz parte da ampliação da tropa internacional de proteção (ISAF) para além de Cabul. A ação é necessária há tempos, porque o governo central do presidente Hamid Karzai não conseguiu impor sua autoridade nas províncias mais importantes, por causa de graves problemas de segurança, de combates entre milícias afegãs rivais, da organização terrorista Al Qaeda de Osama Bin Laden, de remanescentes do regime talibã ou de bandos de assaltantes. O forte da ISAF é impor autoridade com sua presença e gerar confiança entre a população com patrulhas abertas.

Os alemães querem fazer o mesmo em Cunduz, onde não há problemas graves de segurança, nem de autoridade. O general que manda lá é partidário do poder central em Cabul. Não há sequer grupos rivais nem Al Qaeda. O problema local são os traficantes de drogas, mas a Bundeswehr não tenciona assumi-lo. Berlim escolheu Cunduz para substituir os americanos, que vão se concentrar em problemas regionais em outras partes do país, exatamente para evitar maiores riscos para seus soldados.

Aprovação parlamentar

- A decisão do Parlamento em Berlim de enviar a tropa para a cidade no norte do Afeganistão foi tomada nesta sexta-feira (24/10), dias depois de o Conselho de Segurança em Nova York ter aprovado a ampliação do mandato da ONU para a ISAF. No debate que antecedeu a votação, a oposição criticou a futura ação das Forças Armadas Alemãs (Bundeswehr). Mas no final 531 dos 593 deputados aprovaram o envio de até 450 soldados à região onde se cultivam amplos campos da matéria-prima da heroína, a papoula.

Oradores de vários partidos chamaram atenção para os riscos que a missão envolve. O ministro da Defesa, Peter Struck, do Partido Social Democrata (SPD) manifestou incompreensão com os que descrevem a situação em Cunduz como estável e relativamente segura. A realidade é outra, segundo ele. A Bundeswehr só deverá atuar fora de Cabul e Cunduz em ocasiões excepcionais, como por exemplo, para assegurar a realização das primeiras eleições livres no início de 2004.

Der deutsche Verteidigungsminister Peter Struck im Gespräch mit Soldaten, Kabul, Afghanistan
Ministro da Defesa, Peter Struck, conversa com soldados alemães em CabulFoto: AP

Missão impossível?

- O Partido Liberal absteve-se de votar. O deputado liberal Werner Hoyer chamou de "missão impossível" e perigosa a ação dos soldados alemães. "Em breve veremos fotos deles desocupados, diante de lindos campos de papoula ou em pontos de tráfico de heroína", afirmou. Na sua opinião, a Bundeswehr encontra-se num "dilema total, porque não pode atuar como polícia de combate a drogas".

O ministro das Relações Exteriores, Joschka Fischer, esclareceu que não será a Alemanha e sim a Grã-Bretanha que vai assumir as tarefas relativas à problemática da droga no Afeganistão. O político do Partido Verde disse que não haveria alternativa para a ação e que uma retirada dos alemães seria uma catástrofe. Por isso, Fischer agradeceu o apoio da oposição conservadora.

A Alemanha vai enviar também 50 peritos a Cunduz para a realização de obras, como construção de escolas e ruas, e obras de infra-estrutura, como abastecimento de água potável e escoamento de esgotos. O grosso da mão-de-obra será local e remunerada, a fim de incentivar a substituição do cultivo de papoula por outro tipo de agricultura.