Mercado de arte resiste às tendências econômicas
14 de novembro de 2005Considerando a situação econômica da Alemanha, o boom de arte contemporânea é um raio de sol em um horizonte cinzento.
Para o diretor da Art Frankfurt, Michael Neff, "a Alemanha é atualmente o segundo maior mercado do setor depois dos Estados Unidos", explica. Ele acredita que a arte está mais "in" do que nunca, o que atrai novos compradores. "Este processo faz aumentar o preço e, com isso, crescer a publicidade", ressalta Neff.
Investimento e prestígio pessoal
Os consumidores alemães precisaram apertar os cintos nos últimos anos. Diferente da tendência nacional, o mercado de arte parece imune às intempéries da economia. De acordo com Alexander Sandmeier, da Associação de Comércio de Arte Alemã, "isso acontece devido ao status singular dessa expressão artística".
Segundo Sandmeier, o principal aspecto da compra de peças de arte deixou de ser a questão do investimento, para assumir uma nova motivação: o prazer. "A arte não é um produto de consumo padrão. É como um livro. Se a economia anda mal, você não deixa de ler", compara.
Em entrevista ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, o especialista Wolfgang Wilke destacou a nova tendência. "Arte está relacionada com prestígio", confessa. "Apesar da situação difícil do mercado de ações em 2000, os negócios envolvendo arte permaneceram surpreendentemente estáveis", lembra Wilke.
Ele destaca que as pessoas estão interessadas em comprar "arte" por razões que ultrapassam a esfera puramente econômica. "Quando os tempos estão complicados, há uma busca por novos modelos de auto-expressão, como coleções de arte", esclarece.
Elevando a arte alemã
Werner Tammen, da Associação de Galerias de Berlim, concorda que a arte é uma mercadoria desejada, inicialmente devido à sua fascinação cultural. " Noventa e cinco por cento do que é comprado é visto como enriquecimento pessoal", observa. Mesmo assim, "é um elemento-chave para lubrificar as engranagens enferrujadas da economia", compara.
Nos últimos anos, houve um esforço muito grande de proprietários de galerias em promover a produção alemã no mercado internacional. "Hoje, vemos colecionadores estrangeiros como visitantes ávidos por trabalhos produzidos aqui na Alemanha", conclui.
Uma oportunidade perdida
Por outro lado, grande parte da produção de arte está sendo levada para fora do país. "Os orçamentos públicos para a aquisição de arte foram reduzidos em quase 100%", lamenta Tammen. Segundo ele, as conseqüencias são desastrosas, já que os próprios museus alemães estão deixando de adquirir trabalhos locais. "O que foi feito nos últimos cinco anos não pode ser visto em nossos museus", constata.
"É muito provável que, em 40 anos, as coleções de arte deste período atual reforcem a idéia de que nada foi produzido, quando, na verdade, vivemos um período muito vibrante", prevê. De acordo com Tammen, é preciso preservar a herança cultural, que está sendo levada por compradores internacionais. "Não há um museu sequer em Berlim que esteja em condições de comprar arte contemporânea no momento", confessa.
Repensar políticas urbanas
"Os políticos subestimam completamente a importância da arte como um fator econômico", aponta Alexander Sandmeier, da Associação de Comércio de Arte Alemã. "É uma questão de mudar a percepção."