Morre Günter Behnisch
13 de julho de 2010Considerado por muitos a principal estrela da arquitetura moderna da Alemanha pós-guerra, o arquiteto Günter Behnisch faleceu nesta segunda-feira (12/07), aos 88 anos, em sua casa em Stuttgart.
Nascido em Dresden, Behnisch se estabeleceu em Stuttgart após sofrer, como tantos outros alemães, as conseqüências da Segunda Guerra Mundial. Durante a guerra, ele fez parte da tripulação de um submarino como um dos oficiais mais jovens da Marinha de Hitler.
Após ser prisioneiro em um campo na Inglaterra, o futuro arquiteto voltou em 1947 ao seu país de origem, destruído pelas bombas. Em Stuttgart, Behnisch estudou Arquitetura e, nos anos 1950, abriu um escritório com dois outros colegas.
Associação democrática
Continuando a tradição iniciada por arquitetos modernistas como Mies van der Rohe, Günter Behnisch fez da transparência a marca registrada de sua arquitetura. Considerada obra de "comunistas e judeus" pelos adeptos de Hitler, a arquitetura moderna fora banida já no início dos anos 1930 da Alemanha.
Por negar a monumentalidade, o modernismo arquitetônico teve pouca utilidade para regimes ditatoriais. Embora os edifícios residenciais da chamada arquitetura social tenham se espalhado tanto em países ocidentais quanto em países comunistas, após a Segunda Guerra a ideia do modernismo sempre foi associada à democracia.
A arquitetura de Behnisch também não foi diferente. Rejeitando sistemas fechados, volumes pesados, eixos demasiadamente longos e a simetria extrema, seus projetos receberam a alcunha de "construções para a democracia".
O próprio Behnisch, todavia, tratava esse conceito com bastante cautela. "Eu não gosto muito da designação. A palavra pode ser facilmente levada para o ridículo". A democracia impregnava muito mais a sua vida, explicava o arquiteto.
Fama mundial
Em 1972, com a construção do Estádio Olímpico de Munique, Behnisch ganhou fama internacional do dia para a noite. As estruturas de redes de cabos e membranas já haviam chamado atenção mundial no Pavilhão Alemão projetado por Frei Otto para Exposição Universal de Montreal, em 1967.
Juntamente com Otto, Günter Behnisch transformou, entre 1968 e 1972, o Estado Olímpico de Munique em um projeto paisagístico marcado por morros e lagos, fazendo uma clara oposição ao Estádio Olímpico de Berlim, de 1936, e à clássica arquitetura dos rituais de competição.
Assim como Mies van der Rohe, Behnisch defendia que a arquitetura deveria servir à humanidade. As pessoas deveriam habitar a arquitetura e não ser dominadas por ela. Para ele, prédios como o Reichstag em Berlim eram um "monstro", um modelo da "arquitetura do poder guilhermino", explicava.
Para além do modernismo
Com a integração da arquitetura na paisagem e a transformação do invólucro arquitetônico em membranas suspensas com revestimento acrílico, Behnisch foi mais além do que Mies van der Rohe e resgatou, no Estádio Olímpico de Munique, aspectos da arquitetura moderna alemã perdidos durante o desenvolvimento da Bauhaus em prol da indústria.
A arquitetura de Behnisch era transparente e sem ornamentos. Paredes eram na maioria das vezes dispensáveis. Evitando revestimentos e forros, Behnisch tornava visíveis os materiais e os elementos de sua arquitetura.
Em projetos como o prédio do Instituto Hysolar em Stuttgart, de 1987, e o plenário do antigo Parlamento alemão em Bonn, de 1992, o modernismo de Behnisch assumia aspectos quase deconstrutivistas, mas sempre com a premissa de o ser humano não ser dominado pela arquitetura.
Transparência democrática
No antigo plenário do Parlamento em Bonn, a profusão de detalhes não compromete, em nenhum momento, a transparência democrática que exala a assembleia. Em um de seus últimos grandes projetos, o prédio da Academia das Artes de Berlim, construído juntamente com Werner Durth entre 1999 e 2005, Behnisch continuou fiel à transparência de sua arquitetura.
Ainda na fase de projeto, houve discussões com as autoridades do Planejamento Urbano de Berlim, porque as diretrizes para a construção naquele local histórico da capital alemã (entre o Hotel Adlon e a Embaixada dos Estados Unidos) não previa nenhuma fachada high-tech totalmente transparente.
Defendendo seus princípios, Behnisch declarou em entrevista que não chegou "nem mesmo a cogitar a ideia de fazer uma fachada em pedra". "Não queríamos despertar nenhuma associação com a pretensão da arquitetura de Hitler e da arquitetura guilhermina."
Autor: Carlos Albuquerque
Revisão: Simone Lopes