Chancelaria em Bonn
18 de abril de 2009Projetada pelo arquiteto alemão Sepp Ruf (1908-1982) e conhecida como Kanzlerbungalow (bangalô do chanceler, em tradução literal), a antiga residência oficial do premiê alemão em Bonn – uma casa modernista com teto plano e paredes de vidro – foi inaugurada em 1964 pelo então premiê Ludwig Erhard. Em 1999, quando a capital se mudou para Berlim, Gerhard Schröder foi o último chanceler federal a utilizá-la.
Após reforma milionária de dois anos, o imóvel foi agora reaberto ao público, abrigando concertos e exposições. Apesar dos pouco mais de 220 metros quadrados de área, a transparência do projeto modernista tornou-se símbolo da nova Alemanha democrática.
Símbolo de uma nova Alemanha
Além do teto plano, das fachadas em vidro e das delgadas colunas de sustentação, a implantação da residência no parque do Palácio Schaumburg, a antiga chancelaria federal em Bonn, assemelha-se aos projetos que o arquiteto alemão Mies van der Rohe realizou no final dos anos de 1920 e início da década de 1930.
Mies mudou-se para os Estados Unidos antes do início da Segunda Guerra, mas sua desmaterialização da arquitetura não influenciou somente arquitetos norte-americanos como Philip Johnson e Richard Neutra, mas também ao alemão Sepp Ruf, que após a guerra destacou-se com projetos que reduziam as paredes maciças e os telhados inclinados da tradicional arquitetura da Baviera ao mínimo possível.
Em 1958, Sepp Ruf projetou juntamente com Egon Eiermann o pavilhão alemão da Exposição Internacional de Bruxelas. Em 1963, ele já havia construído uma residência de campo para Ludwig Erhard, quando foi convidado para desenhar o Kanzlerbungalow.
Ruf sabia que a nova residência do premiê alemão deveria ser um símbolo de um novo país. Através da simplicidade e transparência do projeto que previa um só pavimento integrado em um entorno bucólico, o arquiteto tentou evidenciar essa nova atitude democrática.
Marcas de Ludwig Erhard e Helmut Kohl
Apesar da aparência conservadora do então premiê, a transparência democrática da nova residência muito agradava a Ludwig Erhard que a decorou com móveis de designers modernistas como Charles Eames. O sucessor de Erhard, Kurt Georg Kiesiger, detestava o modernismo. Ele decorou o discreto ambiente com objetos de arte medievais e móveis de época.
Willy Brandt, por sua vez, preferiu não usar o local como residência, usando-o somente para jantares e pequenas recepções. Durante seu governo, Brandt continuou a morar na sua residência de ministro do Exterior.
O espírito moderno do premiê Helmut Schmidt levou-o a restaurar os móveis originais introduzidos por Erhard. Quanto a Helmut Kohl, que residiu 15 anos no local, não se pode dizer o mesmo.
Apesar de reclamar do ambiente e do tamanho dos quartos da residência, que considerava uma "construção absurda", Kohl viveu ali durante todos os seus 16 anos de legislatura – deixando lembranças, como interruptores marrons típicos dos anos de 1980, que o visitante poderá observar ao lado dos interruptores originais.
Assim como Willy Brandt, o ex-premiê Gerhard Schröder, último ocupante da casa, preferiu usar outra moradia, o vizinho Palácio Schaumburg. Dessa forma, são principalmente as marcas de Ludwig Erhard e Helmut Kohl que o turista encontrará ao visitar a antiga residência do premiê alemão, reinaugurada nesta quinta-feira (16/04), em Bonn.
Autor: Carlos Albuquerque
Revisão: Roselaine Wandscheer