Bonn: de ex-capital a sede alemã das Nações Unidas
15 de julho de 2006Em 11 de julho de 2006, o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, e a chanceler alemã, Angela Merkel, inauguraram oficialmente o campus da ONU em Bonn. O "Langer Eugen", edifício central, abrigará 11 dos 12 escritórios que a organização tem na cidade.
O antigo prédio dos parlamentares, onde trabalham hoje mais de 600 funcionários da ONU, e o antigo Bundestag, em que discursaram Annan, Merkel e a prefeita Bärbel Dieckmann, são símbolos remanescentes de uma época em que Bonn era o centro da vida política alemã. As duas construções também tiveram papel fundamental no nascimento da democracia alemã, após a Segunda Guerra Mundial.
Com a transferência da capital, as previsões eram de que a cidade perderia significância. Mas os temores não se concretizaram, e Bonn passou de capital (e berço do compositor Beethoven) a centro aglomerador de organizações internacionais.
Alemanha reunificada e desejo de nova capital
Com o colapso do comunismo na Europa oriental e central, em 1989, a Alemanha passou a ser o centro de uma nova ordem política. Nesse contexto, surgiu o desejo de uma capital que se adequasse à importância readquirida pelo país. Berlim começou a ser paquerada como a "cara da reunificação", enquanto Bonn passou a ser vista como o vilarejo adormecido às margens do Rio Reno.
No dia 11 de junho de 1991, o Bundestag iniciou o processo de decisão sobre qual seria a capital da Alemanha, depois da reunificação. As duas cidades entraram na disputa, que foi decidida nove dias depois, por 338 votos a favor de Berlim e 320 favoráveis a Bonn, deixando seus moradores sem saber o que teriam pela frente.
Johanna Holch, moradora de Bonn, participou na época de uma iniciativa contra a mudança da capital: "Nós temíamos que a cidade pararia, com o valor imobiliário despencando e as lojas perdendo a clientela. Mas tudo isso acabou não se concretizando na prática".
O boom de Bonn
Pelo contrário. Bonn sofreu um boom. Os 14 mil postos de trabalho perdidos com a mudança da capital para Berlim foram substituídos por 20 mil outros. A cidade recebeu uma indenização no valor de 1,4 bilhão de euros e, com este capital, muitos projetos puderam ser financiados. Boa parte do montante foi investida na construção de novos centros de pesquisa, que servem hoje como referência para cientistas do mundo todo.
Além disso, o governo não mudou de endereço por completo. Seis ministérios ainda permanecem na cidade, empregando dez mil funcionários (contra os 19 mil atuantes em Berlim). E muitos prédios do governo que ficaram abandonados com a transferência passaram a ser utilizados com outros intuitos. Este é o caso do Langer Eugen, que serve hoje como edifício central da ONU.
"Bonn sofreu uma mudança estrutural. A cidade natal de Beethoven é hoje a sede da ONU na Alemanha e um importante centro econômico, científico e cultural", afirma a prefeita Bärbel Dieckamnn. Prova disso é a taxa de desemprego de 8,2%, mais baixa que a média nacional, e os dados que indicam crescimento populacional, em contraste com o panorama de redução demográfica no país.
Lar de organizações internacionais
Muitos dos prédios e instalações que eram utilizados na época em que a cidade era capital são hoje sede de organizações internacionais, fazendo de Bonn um lugar onde culturas e línguas se misturam, e cuja vida econômica e social é alimentada também pelo intercâmbio.
"No início dos anos 90, o governo federal promoveu esforços no sentido de trazer organizações internacionais a Bonn, oferecendo escritórios, prédios e, inclusive, suporte financeiro. As Nações Unidas aceitaram a oferta de bom grado", afirma o secretário das Nações Unidas para o Clima, John Hay.
Também a Deutsche Welle, a emissora internacional da Alemanha, mudou-se de Colônia para Bonn em 2003. A idéia inicial era transferir-se para Berlim, mas a instituição acabou ficando na cidade vizinha. "Para uma empresa, é sempre melhor estar localizada num lugar central, e nisso Berlim é imbatível. Lá está localizada a DW-TV, que cuida da nossa produção televisiva. Mas Bonn também é um bom lugar, o melhor depois de Berlim, principalmente se levarmos em consideração que uma mudança a esta distância seria praticamente impossível", conta o diretor financeiro da Deutsche Welle, Reinhard Hartstein.
O prédio Post Tower, com escritórios do Correio Alemão, e a empresa de telecomunicações Telekom também estão instalados em Bonn. Eles também desfrutam do status de cidade "internacional". "Para nós é interessante ter a Deutsche Welle e o campus da ONU por perto, porque eles formam um centro internacional que faz aumentar a atratividade dos nossos postos de trabalho. Quando um diretor estrangeiro é convidado a trabalhar conosco, ele também leva em consideração se está indo morar numa cidadezinha ou num lugar onde se encontram profissionais de ponta de diversos países. É claro que isso torna a oferta mais interessante", diz Monika Wulf-Mathies, da Deutsche Post.