Governo determina retorno das atividades de brigadistas
23 de outubro de 2020Um dia após a suspensão do trabalho de campo do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) que atua contra as queimadas em todo o país, o governo federal voltou atrás nesta sexta-feira (23/10) e ordenou a retomada das atividades dos brigadistas. A paralisação teria sido determinada por falta de recursos.
A volta das atividades foi determinada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) num ofício assinado pelo chefe do Prevfogo, Ricardo Vianna Barreto. A decisão ocorreu após a liberação de recursos para a pasta do Meio Ambiente pelo Ministério da Economia, voltados à regularização de pagamentos atrasados. Serão repassados R$ 16 milhões por mês destinados ao Ibama e ao ICMBio até dezembro.
A suspensão do trabalho de campo ocorreu num momento em que alguns biomas enfrentam os piores incêndios dos últimos anos. Na Amazônia, os focos de calor registrados nos 21 primeiros dias de outubro (7.855) já superaram o número de todo esse mês no ano passado (13.106), um aumento de 67%. A mesma tendência é observada no Cerrado (48%) e no Pantanal (11%).
Diante de críticas depois da suspensão, o vice-presidente Hamilton Mourão, responsável pela Conselho da Amazônia, afirmou que os recursos bloqueados seriam liberados. O Ministério do Meio Ambiente havia declarado em agosto que R$ 180 milhões de seu orçamento foram bloqueados pela pasta da Economia.
Em redes sociais, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, agradeceu nesta sexta-feira ao titular da Economia, Paulo Guedes, pela liberação da verba.
À GloboNews, o presidente do Ibama, Eduardo Bim, afirmou que o órgão tem pagamentos pendentes no valor de R$ 19 milhões devido à falta de recursos.
Essa não foi a primeira vez neste ano que o governo anuncia a paralisação das atividades de brigadistas e de combate às queimadas num momento em que o fogo e a devastação varrem diversos biomas.
Em 28 de agosto, Salles divulgou uma nota ordenando a suspensão desses trabalhos alegando falta de recursos. Poucas horas depois, o governo voltou atrás na decisão e anunciou o desbloqueio das verbas.
A política ambiental do governo de Jair Bolsonaro derreteu a imagem do país no exterior e é alvo de constantes críticas internacionais, especialmente após as queimadas na Floresta Amazônica no ano passado. Ela representa ainda um risco econômico, com uma ameaça real de fuga de investidores estrangeiros.
O descaso ambiental do governo levou diversos países europeus a recuarem em relação à ratificação do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE), que encontra resistências na Alemanha, França, Irlanda e Luxemburgo. Os parlamentos de Áustria, Holanda e o da região da Valônia, na Bélgica, já anunciaram que não darão seu aval ao pacto.
Além disso, o Brasil perdeu recursos estrangeiros voltados ao meio ambiente. Em agosto de 2019, a Alemanha suspendeu verbas para a Amazônia no âmbito da iniciativa de proteção climática. Dias depois, foi a vez de a Noruega cortar seu crédito para o Fundo Amazônia, que já havia canalizado, juntamente com a Alemanha, mais de R$ 3 bilhões para a proteção da floresta e dos indígenas. Ambas as iniciativas continuam suspensas.
CN/ots