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Futura ministra alemã sugere restringir importações da China

Nik Martin
4 de dezembro de 2021

Annalena Baerbock, que chefiará pasta das Relações Exteriores, quer usar poder de compra da União Europeia para pressionar Pequim a respeitar direitos humanos. Embaixada chinesa reage e pede relação bilateral pragmática.

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Foto de Annalena Baerbock retirando uma máscara FFP2
Annalena Baerbock quer posição mais dura do novo governo da Alemanha em relação à ChinaFoto: Bernd Von Jutrczenka/dpa/picture alliance

A próxima ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, afirmou que é necessário colocar limites a países autoritários como a China. Uma das formas de fazer isso, segundo ela, seria restringir, na União Europeia, a importação de produtos chineses, o que seria um "grande problema" para Pequim. 

A proposta de Baerbock, que também é co-líder do Partido Verde da Alemanha, foi feita em entrevista ao jornal Die Tageszeitung (TAZ), e provocou uma resposta da embaixada da China em Berlim na sexta-feira (3/12)

Os comentários de Baerbock indicam uma mudança de política no próximo governo alemão, liderado pelo futuro chanceler federal Olaf Scholz, que deverá tomar posse na próxima quarta-feira.

O que disse Baerbock?

A futura ministra das Relações Exteriores defendeu que as críticas da Alemanha sobre a China deveriam ser abordadas claramente. 

"O silêncio eloquente não é uma forma de diplomacia no longo prazo, mesmo que tenha sido considerado como tal por alguns nos últimos anos", disse ela ao TAZ, em uma aparente referência ao governo prestes a deixar o poder, comandado pela chanceler federal Angela Merkel.

"Para mim, uma política externa baseada em valores é sempre uma interação entre diálogo e dureza."

A futura ministra das Relações Exteriores disse que, apesar de o diálogo ser um componente central da política internacional, "isso não significa que você tenha que encobrir as coisas ou ficar quieto".

Memórias de um cárcere na China

Seu comentário é uma referência às diversas acusações de violações de direitos humanos pela China, incluindo a detenção de cerca de um milhão de muçulmanos uigures em "campos de reeducação" na província de Xinjiang.

Baerbock sugeriu que uma das ferramentas para pressionar Pequim poderia ser restringir a importação de produtos chineses pela União Europeia, dizendo que isso seria "um grande problema para um país exportador como a China". 

"Nós europeus deveríamos usar muito mais esse poder do mercado interno comum [da UE]", disse ela ao TAZ.

Baerbock também afirmou ser imperativo que países do mundo inteiro "unam forças" para combater a mudança climática, acrescentando que a crise "só poderá ser superada globalmente e de forma cooperativa".

Qual foi a resposta da China?

Em um comunicado publicado na sexta-feira, a embaixada chinesa em Pequim pediu a "alguns políticos alemães" que "olhem para a China e para as relações sino-alemãs de forma objetiva e holística" e "dediquem sua energia mais à promoção da cooperação prática entre os dois lados".

Sobre as relações entre os países, a embaixada disse que "nossas diferenças e divergências hoje não são de forma alguma maiores do que eram há 50 anos". "Comparadas a essa época, nossas áreas de cooperação e interesses comuns são agora significativamente maiores."

O comunicado também pediu "construtores de pontes ao invés de construtores de muros", e disse que a China estava "pronta para se reunir com o novo governo federal alemão, para desenvolver nossos interesses comuns com base no respeito mútuo, igualdade e benefício mútuo, com o objetivo de colocar as relações (...) em um caminho bom e estável".

"Nossas relações ao longo do último meio século mostraram que é perfeitamente possível superar diferenças ideológicas entre países, evitar jogos de soma zero e alcançar situações de ganho mútuo para benefício mútuo", afirmou a embaixada.

Foto registra Angela Merkel e Xi Jinping, ambos sorrindo, em frente a bandeiras da Alemanha e da China.
Merkel, que está de saída do cargo, comandou uma delegação para tratar de negócios em Pequim durante protestos pela democracia em Hong KongFoto: Michael Kappeler/dpa/picture-alliance

Qual é o estado atual das relações teuto-chinesas?

A administração Merkel foi muitas vezes criticada por priorizar os fortes laços comerciais da Alemanha com a China, enquanto fazia vista grossa às questões de direitos humanos na potência asiática. A estratégia ajudou a China a se tornar o maior parceiro comercial da Alemanha.

Merkel também foi a força motriz por trás do acordo de investimento entre a UE e a China assinado no ano passado, que está atualmente suspenso devido às tensões entre Bruxelas e Pequim. 

Merkel alertou contra dissociar Europa da China

Diante da crescente rivalidade econômica e militar, os Estados Unidos, sob o comando do ex-presidente Donald Trump, lançaram uma guerra comercial com a China. No entanto, a Alemanha não se envolveu.

A comunidade empresarial alemã tem desejado há décadas que a China siga se abrindo às empresas internacionais. Contudo, as políticas adotadas pelo presidente Xi Jinping parecem estar movendo o país na direção oposta.

A repressão de protestos pró-democracia em Hong Kong, os "campos de reeducação" em Xinjiang e as ameaças militares de Pequim contra Taiwan desencadearam conversas sobre adotar uma resposta mais incisiva ao crescente autoritarismo da China.