Fusão Credit Suisse-UBS: solução ou agravamento?
20 de março de 2023Ações concertadas para salvar bancos são uma faca de dois gumes nos mercados financeiros. Por um lado, fornecem segurança e tranquilidade − pelo menos é o que deveriam. Por outro lado, também sinalizam que há um incêndio e que as chamas são perigosas.
A fim de extinguir um incêndio latente em torno do tradicional banco suíço Credit Suisse, as reuniões de crise se sucederam no fim de semana, até finalmente chegar-se a um acordo sobre a aquisição do banco em dificuldades por seu maior rival, o UBS. Preço de compra: cerca de 3 bilhões de francos suíços. Isso põe fim aos temores sobre o futuro do Credit Suisse. Mas a fumaça ainda não se dissipou.
No início de operações da Bolsa de Valores de Frankfurt nesta segunda-feira (20/03), as coisas pioraram acentuadamente. Tal como na semana anterior, as ações do Commerzbank e do Deutsche Bank estão sob forte pressão, com este último perdendo temporariamente quase 10% de valor pela manhã.
O índice Nikkei em Tóquio e outros índices da Ásia já haviam caído anteriormente. Em meados de março, o DAX alemão caiu mais de 4%, na pior semana do mercado de ações desde junho de 2022. Ao longo do dia, o DAX voltou a estar positivo novamente, e as ações dos bancos pelo menos conseguiram limitar suas perdas. O nervosismo era palpável.
Garantia de 200 bilhões de francos
A fusão teve como objetivo evitar mais incertezas nos mercados financeiros. Em maratonas de reuniões no fim de semana, o banco central suíço, o governo e os bancos concordaram com a compra emergencial pelo UBS.
O negócio é garantido por várias medidas: o UBS responde por possíveis perdas de até 5 bilhões de francos suíços; o Estado deu uma garantia de perda de 9 bilhões de francos suíços. O banco central suíço dá garantias de liquidez no valor de até 200 bilhões de francos suíços.
Outras autoridades monetárias saudaram as medidas. A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, e o do Fed, Jerome Powell, elogiaram Berna e as demais partes envolvidas por sua ação decisiva. Tanto a chefe do BCE quanto seu colega americano consideram o cenário bancário em suas regiões resiliente, afirmando que os bancos de ambos os lados do Atlântico têm capital e liquidez suficientes.
No que compete à Europa, o professor de serviços bancários e financeiros da Universidade de Hohenheim, Hans-Peter Burghof, concorda: "Na minha opinião, o Credit Suisse é na verdade a mais fraca das grandes instituições da Europa. Em relação aos demais, ouço notícias bastante positivas do setor bancário. Vemos que os grandes bancos alemães, em particular, estão alcançando resultados respeitáveis, se beneficiando das taxas de juros mais altas. Não tenho informações de que esses bancos estejam agora tendo grandes problemas".
Consequência do aumento das taxas de juro
No entanto, as linhas telefônicas dos bancos centrais de todo o mundo estavam ocupadas no fim de semana. Por exemplo, o BCE, o Fed e outros bancos centrais anunciaram uma ação coordenada para facilitar o sistema bancário em dólares, numa tentativa de acalmar os mercados financeiros.
O fato de os bancos centrais estarem mais uma vez no centro desse resgate de emergência se explica praticamente por si. A forte alta dos juros nos últimos meses − provocada pelos bancos centrais para combater a inflação − pressionou para baixo os preços dos atuais títulos de governo. No entanto, o Silicon Valley Bank (SVB) teve que vender partes de suas participações a preços baixos porque os investidores queriam retirar seus fundos.
As perdas levaram ao colapso do banco americano e alimentaram a crise do Credit Suisse, instável há meses. O Federal Reserve, juntamente com o governo dos EUA, reagiu prontamente para acalmar a situação. As enormes garantias de liquidez de mais de 200 bilhões de francos pelo banco central suíço têm função semelhante.
O curso da crise no Credit Suisse explica por que isso pode ser necessário. Em primeiro lugar, a instituição chamou atenção nos últimos anos principalmente por sua má administração e numerosos escândalos, resultando na queda do preço de suas ações.
Mais grave ainda: os clientes retiraram enormes quantias. As saídas de capital totalizaram 123 bilhões de francos suíços em 2022. Após a falência do SVB nos EUA, o declínio se acelerou, nos últimos tempos as perdas foram de cerca de 11 bilhões de francos por dia, causando o desequilíbrio.
Mercados financeiros "instáveis"
Portanto, o objetivo de todos os envolvidos no fim de semana era encontrar uma solução antes da abertura do pregão da bolsa na Ásia, a fim de evitar um colapso descontrolado do principal banco suíço. Porque o Credit pertence ao ilustre grupo de 30 instituições de todo o mundo com o atributo "importância sistêmica". Em suma, é grande demais para falir, ou, em outras palavras: por causa de sua interconexão internacional, uma falência muito provavelmente teria mergulhado o setor bancário e financeiro global em uma nova crise.
A aquisição de emergência é também a maior fusão bancária desde a grande crise bancária e financeira nos anos posteriores a 2007/2008. Naquela época, os gerentes do Lehman Brothers apostavam no mercado imobiliário americano, precipitando a economia global caiu numa das piores crises de todos os tempos.
"A fusão de emergência do fim de semana mostra como os mercados financeiros são instáveis", diz Gerhard Schick, do movimento civil Finanzwende. "A pressão dos mercados foi tão grande que nos sentimos compelidos a dar esse passo."
No entanto, isso naturalmente coloca o problema numa escala maior: o UBS, com ativos totais em torno de 1 trilhão de francos suíços, está assumindo os ativos do Credit Suisse, de mais de 500 bilhões de francos suíços. Isso cria um colosso com uma posição de monopólio em muitas áreas na Suíça.
"Na verdade, 2008 ensinou que não devemos ter bancos grandes demais. Com essa fusão de dois que já eram sistemicamente importantes, temos um player ainda maior, que certamente não pode ir à falência. Essa solução não é sustentável e só agrava o problema 'grande demais para falir'", adverte Gerhard Schick.