BCE anuncia nova alta nos juros para frear inflação recorde
27 de outubro de 2022O Banco Central Europeu (BCE) anunciou um novo aumento significativo da taxa de juros com o objetivo de conter a inflação descontrolada na União Europeia (UE). A instituição com sede na cidade alemã de Frankfurt elevou a taxa em 0,75 ponto percentual. O incremento iguala seu aumento recorde registrado em setembro e representa também o pico mais rápido da história do euro.
Agora, portanto, o BCE elevou as taxas de juros para os 19 Estados-membros da zona do euro em dois pontos percentuais em apenas três meses – um salto que levou 18 meses durante a crise econômica entre 2005 e 2008, e 17 meses na crise entre 1999 e 2000.
A referência do BCE para empréstimos de curto prazo a bancos está agora em 2%, um nível visto pela última vez em março de 2009.
O BCE está sob pressão para conter a inflação recorde, impulsionada pelo aumento dos preços dos alimentos e especialmente da energia devido à guerra da Rússia contra a Ucrânia. A medida anunciada nesta quinta-feira (27/10) levantou questões sobre até onde o banco tenciona ir com sua política, tendo em vista a iminente recessão no bloco europeu, além de provocar a apreensão de que custos mais altos de empréstimos possam justamente agravar o impacto dessa recessão.
Meloni e Macron criticam alta de taxa de juros
Se a Rússia cortar completamente o fluxo de gás para a Europa, a economia da zona do euro poderá encolher quase 1% em 2023, alertou o vice-presidente do BCE, Luis de Guindos. Esse cenário se tornou mais provável depois que, em agosto, o país fechou para a Alemanha o crucial gasoduto Nord Stream 1. Já se prevê que a economia alemã vá encolher 0,4% em 2023.
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, criticou esta semana a "escolha precipitada" do BCE de manter a alta das taxas, o queo criou "mais dificuldades para os Estados-membros que elevaram a dívida pública". Por sua vez, o presidente francês, Emmanuel Macron, expressou "preocupação" com o fato de o BCE estar "destruindo a demanda" na Europa.
Os bancos centrais de todo o mundo estão aumentado rapidamente as taxas de juros que orientam o custo do crédito para empresas e consumidores. O objetivo é deter a inflação galopante e revitalizar a demanda por bens e serviços, após o relaxamento das restrições da pandemia. A Federal Reserve dos Estados Unidos (Fed), por exemplo, elevou em setembro as taxas em 0.75 ponto percentual, pela terceira vez consecutiva.
Os aumentos de 0.25 ponto percentual geralmente têm sido a norma para os bancos centrais. Mas isso foi antes de a inflação disparar para 9,9% na zona do euro. O dado registrado em setembro é quase cinco vezes superior à meta de 2% do BCE.
A inflação reduz o poder de compra dos consumidores. Muitos economistas preveem uma recessão para o fim de 2022 e início de 2023, tanto nos EUA como nos 19 países que utilizam o euro como moeda.
Euro volta a ficar acima da paridade com dólar
O euro, recentemente debilitado, voltou a ficar acima da paridade com o dólar americano antes da reunião desta quinta-feira do BCE, com os investidores esperançosos de que o Fed possa frear seus aumentos agressivos de taxas em meio a sinais de desaceleração da economia dos EUA. Um euro mais forte ajuda a conter os preços ao consumidor, pois torna as importações mais baratas.
A presidente do BCE, Christine Lagarde, alertou recentemente que a inflação estava "alta demais", e que mais ações seriam necessárias para evitar que os picos dos preços se "arraigassem". Na última reunião, em setembro, Lagarde reconheceu que 0.75 ponto percentual não seria a "norma", mas que as decisões estão sendo tomadas de reunião para reunião.
Os mercados estão em busca de pistas para desvendar até qual patamar de juros o BCE tenciona ir. Alguns analistas preveem um aumento de 0,5 percentual na última reunião de definição de taxas, em dezembro, e acham que depois deste aumento o BCE deve manter a taxa por algum tempo. O próprio Banco Central Europeu prevê que a inflação cará para 2,3% até o fim de 2024.
FMI prevê queda do crescimento global em 2023
Taxas mais altas podem controlar a inflação, tornando mais caro pegar empréstimos, gastar e investir, além de reduzir a demanda por bens. Mas o esforço conjunto para aumentar as taxas também gera preocupações sobre seu impacto no crescimento e nos mercados de ações e títulos.
Anos de taxas baixas em investimentos conservadores empurraram os investidores para títulos mais arriscados, como o mercado de ações – um processo que agora está em sentido contrário, pois as taxas crescentes podem reduzir o valor dos títulos existentes no mercado.
A chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, alertou que o aperto "demasiado e muito rápido" da política monetária aumenta o risco de recessões prolongadas em muitas economias. O FMI prevê que o crescimento econômico global sofrerá uma queda, de 3,2% em 2022 para 2,7% no próximo ano.
pv/av (AFP,AP)