No último fim de semana, o extremista de direita Roberto Jefferson jogou granadas e atirou em agentes da Polícia Federal quando estes vieram prendê-lo.
Na segunda-feira, quando os mercados financeiros abriram, o nervosismo dos investidores diante dos acontecimentos logo ficou claro: rapidamente o dólar subiu 3%, e a Bolsa caiu na mesma proporção. Foi uma reação forte, ainda mais porque nas semanas anteriores os mercados financeiros se mostraram pouco impressionados por acontecimentos políticos.
Em tempos de campanha eleitoral, como os atuais, há duas interpretações para essa reação negativa:
Os investidores ficaram preocupados porque o aliado de Bolsonaro, com sua atitude desvairada e violenta, pode prejudicar a reeleição do presidente?
Ou os investidores reagiram de forma tão negativa porque temem que, com uma vitória de Lula, cenas igualmente caóticas e brutais possam ocorrer caso Bolsonaro perca por pouco?
Bem, na segunda-feira depois da eleição saberemos qual será a reação dos mercados financeiros.
Ritmo diferente do resto do mundo
Mas é surpreendente que a economia brasileira esteja de repente sendo vista de forma positiva nas últimas semanas – e isso independentemente do resultado das urnas. Bloomberg, Financial Times – todos trouxeram, nos últimos dias, textos cheios de elogios sobre a força do Brasil na comparação com o resto do mundo.
Porque, de fato, o ciclo econômico da maior economia da América Latina está andando de modo diferente do que no resto da economia mundial.
Enquanto um terço dos países do mundo vai entrar em recessão em 2023, acompanhada de uma inflação crescente, o Brasil já está bem adiantado no caminho da estabilização. No próximo ano a economia brasileira deverá crescer apenas 1%. Isso é pouco, mas ainda assim mais do que a Alemanha, cuja economia deverá encolher.
No Brasil a inflação já está em queda porque o Banco Central reagiu cedo, com elevação de juros. Com isso, o ciclo de juros no Brasil está mais avançado do que em países industrializados e em outros emergentes. No fim do ano, a inflação poderá chegar a 6,5%. Isso é pouco para um país com um passado de inflação alta, como o Brasil, e pouco também na atual comparação mundial.
Quanto mais rápido o Banco Central reduzir de novo os juros, tanto mais rápido crescerão os investimentos e o consumo. O Brasil tem, portanto, bons requisitos para experimentar uma retomada da conjuntura antes da Europa e dos Estados Unidos.
O negócio será saber aproveitar
Os investidores do mercado financeiro já reagiram às boas perspectivas brasileiras: o real é uma das moedas mais fortes do mundo em 2022. A Bolsa é a única do mundo com uma evolução positiva, em dólar, neste ano.
Empresas estrangeiras estão investindo no Brasil como há muito não faziam. O Brasil é um dos cinco países do mundo que mais atraem investimentos estrangeiros diretos.
O motivo é que ele tem tudo o que o mundo necessita: energia, alimentos, matéria-prima. A economia sai ganhando com a mudança energética e também com a nova situação geopolítica criada pela guerra da Rússia na Ucrânia e o começo de um novo esfriamento das relações entre China e Estados Unidos.
Se o atual ambiente político explosivo voltar a se acalmar depois das eleições, o governo que assumir em 1º de janeiro terá uma boa situação econômica na largada. Só precisará saber aproveitá-la.
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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.
O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.