Quando as bolsas de valores e mercados financeiros abriram, poucas horas após o resultado oficial do primeiro turno das eleições, houve um grande salto para cima: o Ibovespa disparou 6%, e ações de estatais tiveram uma valorização inesperada, como a Petrobras e o Banco do Brasil, e ainda mais as sob controle estadual, como Cemig ou Sabesp.
Paralelamente, o dólar caiu 4% em relação ao real – sua desvalorização mais acentuada desde 2018. Os prêmios de risco dos títulos de dívida pública brasileiros ficaram abaixo dos 300 pontos, algo único entre mercados emergentes no mundo. Ou seja: os investidores exigem menos de 3% de margem de juros (em comparação com os títulos dos Estados Unidos) ao comprar papéis brasileiros. Em outras palavras: eles confiam que o próximo governo adotará uma política econômica e orçamentária mais favorável do que o anterior.
Como o resultado das urnas explica esse fato? Pois, apesar de a direita encabeçada pelo presidente Jair Bolsonaro ter apresentado ampla vitória no Congresso e nos estados, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua à frente do atual chefe de Estado nas sondagens por uma boa margem, embora menor do que se esperava.
A resposta mais clara vem do analista Marcos Casarin, da Oxford Economics, para quem "essa provável combinação de um líder carismático e progressista [Lula] e um Congresso conservador é praticamente o melhor cenário possível para os mercados".
De um lado, Lula presidente, pondo fim ao isolamento do Brasil no mundo e, assim, liberando recursos financeiros trancados no exterior. Ajuda ambiental, mas também dinheiro para projetos de infraestrutura, vindo de fundos de pensão e de credores multilaterais, como o Banco Mundial ou o banco alemão KfW, podem voltar a fluir para o Brasil de forma bem menos problemática. As empresas tampouco teriam que se justificar perante seus acionistas se quisessem investir no Brasil.
Por outro lado, com um Congresso conservador e os muitos estados nas mãos de aliados de Bolsonaro, Lula estaria submetido a um freio poderoso. Ele teria que negociar, formar coalizões, não poderia simplesmente governar sem qualquer obstáculo. Dificilmente conseguiria passar no Congresso uma revisão da legislação trabalhista ou da privatização da Eletrobras, como o petista tem mencionado nos últimos meses.
Nesse cenário Lula não teria um cheque em branco para seu governo, como esperava ter com uma vitória já no primeiro turno. Ele teria que fazer concessões ao centro político e ao empresariado para ganhar votos. Possivelmente apresentaria uma equipe econômica que gerasse confiança entre os empresários. Até agora, o programa econômico dele é bastante vago. Em resumo: Lula teria de fazer sua lição de casa econômica – o que é uma boa notícia.
Outro fator de otimismo entre os investidores é que, em estados como São Paulo e Minas Gerais, governadores bolsonaristas poderiam possibilitar mais privatizações ou aumentos de capital de empresas estatais. Sob governos petistas, as chances seriam praticamente nulas, por motivos ideológicos.
No entanto, segundo Casarin, também tornou-se mais provável o pior cenário possível do ponto de vista do mercado: a reeleição de Bolsonaro com um Congresso ao lado dele. "O apoio ampliado no Congresso possibilitaria a Bolsonaro destituir juízes do Supremo Tribunal Federal (STF), de forma que pudesse eventualmente dissolver o Congresso e suspender eleições livres, se assim desejasse", antecipa o analista da Oxford Economics.
Dentro de quatro semanas os investidores saberão mais.
---
Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.