França detecta coronavírus em visons e abate mil animais
23 de novembro de 2020A França confirmou neste domingo (22/11) o primeiro caso de uma mutação do novo coronavírus circulando em uma fazenda de visons no país, no departamento de Eure-et-Loir, no noroeste do país.
As autoridades determinaram o abate de todos os mil animais do criadouro, que já foram mortos e tiveram seus restos eliminados, informou o Ministério da Agricultura francês.
Vison ou marta é a designação comum a várias espécies de mamíferos mustelídeos, que se assemelham às doninhas da América do Norte. Os mamíferos costumam ser usados na indústria de peles.
Há quatro fazendas de visons na França. Em duas delas, a análise para identificar o coronavírus ainda não foi concluída, e em uma não foi detectada a presença do vírus. Até o momento, nenhuma pessoa que teve contato com os visons contaminados na França foi infectada.
O caso francês se soma aos de outros países que já registraram o novo coronavírus em fazendas de visons. O principal surto ocorreu na Dinamarca, maior produtor de visons do mundo e que antes da crise detinha 40% do mercado global. O governo local ordenou o abate de todos os cerca de 16 milhões de visons criados no país, onde 12 pessoas foram contaminadas pela mutação do vírus presente nos animais.
Ao tomar a decisão drástica, o governo dinamarquês afirmou que a mutação do vírus poderia afetar a efetividade de uma futura vacina contra a covid-19 em humanos, um risco ainda não comprovado.
Anthony Fauci, principal membro da força-tarefa de combate à pandemia nos Estados Unidos, disse que a mutação detectada no vison dinamarquês não comprometeria as vacinas. Já o Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças apontou que a mutação poderia atrapalhar, mas salientou que ainda há "alta incerteza" em relação ao tema e que "mais investigações são necessárias".
Na última quinta-feira, as autoridades dinamarquesas disseram que essa mutação, provavelmente, agora estava erradicada no país. O abate em massa teve o auxílio de militares e policiais.
Casos em outros países
Além de França e Dinamarca, foi registrada a presença do coronavírus em criadouros de visons na Espanha, Grécia, Holanda, Itália, Suécia e Estados Unidos.
A Holanda já abateu dezenas de milhares de visons e em agosto baniu por completo a criação para a indústria de peles, após o registro de vários focos de infecção em criadouros. Em maio, as autoridades holandesas já tinham decidido proibir o transporte de peles de visons em todo o país, depois que dois trabalhadores de um criadouro terem supostamente contraído o coronavírus por meio desses pequenos animais.
Na Espanha, quase 100 mil visons em uma fazenda no nordeste do país foram sacrificados em julho após muitos deles testarem positivo para o coronavírus. Um surto na província de Aragão foi descoberto depois que a esposa de um funcionário de um criadouro contraiu a doença em maio.
Crise política na Dinamarca
A decisão do governo dinamarquês de abater todos os cerca de 16 milhões de visons do país teve consequências políticas. No último sábado, centenas de criadores dinamarqueses de visons fizeram um protesto com tratores em Copenhague. Há 1.110 criadores de visons no país.
Na quarta-feira, o ministro da Agricultura da Dinarmaca, Mogens Jensen, renunciou após admitir que o governo não tinha base legal para aplicar a medida em todo o território. Após a queda do ministro, a oposição pediu que a primeira-ministra seguisse o mesmo caminho, ampliando a crise.
"Quero que a primeira-ministra faça o mesmo", disse o líder da oposição Jakob Elleman-Jensen, do Partido Liberal. "Quero que a primeira-ministra reconheça que, quando cometer um erro, a responsabilidade é dela." Elleman-Jensen foi apoiado por outros partidos da oposição, incluindo o Partido do Povo Dinamarquês.
Outros parlamentares dinamarqueses solicitaram a instauração de uma investigação independente para determinar se o governo infringiu a lei de forma deliberada. Depois do abate de milhões de visons, o governo local conseguiu aprovar a legislação necessária, por uma pequena maioria.
O país nórdico já havia abatido animais de fazendas anteriormente por causa de infecções pelo vírus, mas os surtos persistiram. A pressão para erradicar todos os animais aumentou após os relatos da mutação.
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