Derrota eleitoral de May pode suavizar Brexit
12 de junho de 2017Theresa May não precisava ter convocado essas eleições. Ela queria – como as pesquisas de opinião mostravam ser possível – ampliar sua bancada no Parlamento. O tiro, porém, saiu pela culatra, e sua base de apoio legislativa acabou reduzida. Assim como sua autoridade pessoal dentro do partido: a premiê se viu forçada inclusive a pedir desculpas publicamente para seus correligionários que perderam seus assentos na Câmara dos Comuns.
Já no novo gabinete aparece a fraqueza de May. No futuro, estará à frente do Ministério da Agricultura, por exemplo, Michael Gove, que a própria premiê demitiu no ano passado. Em contraste, o peso-pesado Boris Johnson, não necessariamente uma referência em termos de lealdade, permanece no cargo de ministro das Relações Exteriores. Johnson nega veementemente rumores de que queira derrubar May, mas ele é considerado desde os tempos de David Cameron possível candidato a Downing Street. May se justifica dizendo que buscou "talentos de todo o espectro do partido".
A quem não tem mais nada a perder, resta o sarcasmo, assim como fez o ex-ministro das Finanças George Osborne, também demitido por May e que, como editor-chefe do Evening Standard, saboreou sua vingança por completo na forma editorial. May é um "cadáver ambulante", disse ele, e sua morte política é apenas uma questão de tempo.
Em primeiro lugar, a fraqueza do partido e de sua chefe após a eleição significa, politicamente, que os conservadores precisam de um parceiro para governar. Este deve ser o norte-irlandês Partido Unionista Democrático (DUP). Com isso, May pensa não em uma coalizão formal, mas em um acordo: o DUP a apoiaria em determinadas questões.
Dependendo do tema, a agenda de ambos os partidos pode ser muito diferente. No lado positivo, está a crença comum de que o Reino Unido deve permanecer coeso. Por outro lado, o DUP é ultraconservador socialmente: casamento entre homossexuais e direito ao aborto são rejeitados pelo partido.
Seu nível de protestantismo vai tão longe que o DUP não comparece às sessões de domingo, pois domingo é sagrado para eles. Tais debates já não fazem parte da pauta dos conservadores há tempos. Também há o receio de que o frágil acordo de paz na Irlanda do Norte possa ser ameaçado caso um Partido Unionista extremamente protestante obtenha grande influência em Westminster. May não poderia se dar ao luxo de fazer tantas concessões.
Pragmatismo político
A pergunta mais importante após as eleições provavelmente é se o "Brexit duro", ambicionado até então por Theresa May, será agora suavizado com o resultado do pleito. "Duro" também significa uma saída do mercado interno da UE, da união aduaneira e da jurisprudência europeia. Um fator "suavizante", por sua vez, poderia ser o DUP.
A chefe do partido, Arlene Foster, disse que "ninguém na Irlanda do Norte" gostaria de ver uma demarcação fixa para a República da Irlanda. Após a saída, a linha divisória até então bastante porosa seria a única fronteira terrestre do Reino Unido com a UE. Ruth Davidson, líder dos fortalecidos conservadores escoceses, defende um Brexit suave – com uma clara maioria, a Escócia votou contra a saída britânica do bloco.
A pressão vem não só a partir das fronteiras do Reino Unido, mas também dos conservadores ingleses no núcleo do país. A deputada Anna Soubry disse ao canal "Sky News": "Eu não acho que a primeira-ministra tenha uma maioria em favor de uma saída do mercado único na Câmara."
Muito mais peso tem o voto do ministro das Finanças, Philipp Hammond. Verdade que ele não é considerado pró-UE, e sim como um pragmático e, ao contrário do cabeça-quente Boris Johnson, ao mesmo tempo razoável. O Financial Times o qualificou como "adulto" e "o único membro do gabinete com estatura capaz de salvar alguma coisa do naufrágio que foi o referendo do Brexit". Hammond poderia tentar oferecer resistência aos verdadeiros ideólogos do Brexit no partido e negociar um laço o mais estreito possível com a UE – ele também se opõe a limites muito rigorosos de imigração.
O ministro do Brexit, David Davis, por outro lado, tende mais para a linha de May até aqui. Ele quer, acima de tudo, cumprir com o que ainda vê como um mandato eleitoral – "o controle das fronteiras, das leis e do dinheiro." E isso, disse Davis à BBC, não se pode fazer dentro do mercado interno – "é preciso tentar obter o melhor acesso possível a partir de fora". Só por isso, o Brexit como um todo não está mais abalado, pois o Partido dos Trabalhadores também o apoia e os liberal-democratas, que formam a única força que defende inteiramente a UE, se saíram mal nas eleições.
Mas quem vai liderar os conservadores no futuro e, com isso, também determinar as negociações com a UE, permanece em aberto. Hoje, seria May. "Não vejo entre meus colegas de partido nenhum apetite para ainda mais incertezas", disse o influente político conservador Graham Brady à BBC. Mas a história dos conservadores mostra que o partido pode tranquilamente rejeitar suas principais lideranças quando for o momento. Foi isso que a "Dama de Ferro" Margaret Thatcher experimentou no final, e esse também pode ser o destino de Theresa May.