Sob o signo do otimismo
14 de abril de 2009De 14 a 16 de abril de 2009, o Rio de Janeiro é sede do Fórum Econômico Mundial na América Latina, um evento concebido à imagem e semelhança do célebre encontro anual em Davos, Suíça.
Ele reunirá diversos chefes de Estado da região, representantes do governo local, da sociedade civil e de ONGs, assim como personalidades dos setores comercial e financeiro, num total de cerca de 500 participantes. Seu tema são as repercussões da crise global no subcontinente.
O fórum procura estabelecer-se no Hemisfério Sul, tomando a palavra no debate sobre a atual conjuntura internacional. Nos comunicados à imprensa, seus cinco organizadores demonstram o interesse em compartir impressões sobre o futuro da América Latina a curto e médio prazos.
Muito por fazer
Marcelo Bahia Odebrecht, diretor executivo da empresa brasileira de engenharia e construção que leva seu nome de família, observa, por exemplo, que "a qualidade dos gastos públicos deve ser melhorada, especialmente nas áreas básicas, como saúde e educação, que são pilares fundamentais da prosperidade em qualquer sociedade".
"Seria muito vantajoso simplificar os processos de fazer negócios", afirma por sua parte Timothy P. Flynn, diretor da empresa transnacional de auditoria e assessoria tributária KPMG.
"Muitas das leis tributárias são de uma complexidade enorme, o que não ajuda a atrair investidores. Boa parte dos códigos trabalhistas data da década de 1940 e 1950, e impõem restrições e custos aos empregadores que desencorajam o emprego formal e obrigam a contratar mão-de-obra fora do sistema", aponta Flynn.
Herança negativa de Davos
Porém o fato de a conferência latino-americana ser coordenada pelo Fórum Econômico Mundial (FEM) faz com que seja vista por alguns setores com ceticismo semelhante ao despertado pelo elitista evento em Davos. O mesmo ocorre com outros encontros organizados pelo FEM na África, Extremo Oriente e Oriente Médio.
As reuniões anuais do FEM na Suíça se apresentam como plataforma para resolver conflitos internacionais e "melhorar o estado do mundo". Porém a acusação é que fazem exatamente o contrário.
Como também acontece com as políticas do G7, do Banco Mundial, da Organização Mundial de Comércio e do FMI, reprova-se o FEM por apoiar um modelo de globalização que acelera o avanço da pobreza e a destruição do meio ambiente em escala planetária.
Expansão econômica versus progresso social
Apesar das críticas, os organizadores do Fórum Econômico Mundial na América Latina sublinham que o desafio do subcontinente consiste em harmonizar expansão econômica e progresso social. A seu ver, os participantes sairiam do encontro com ferramentas para imediatamente empreender ações de alcance individual, empresarial e comunitário.
Peter Levene, presidente do mercado britânico de seguros Lloyd's antecipou à imprensa o tom otimista que deverá dominar os debates do fórum no Rio de Janeiro.
"Espera-se que o Produto Interno Bruto da América Latina alcance um crescimento superior a 1% em 2009 e a 2% em 2010. A região continuará experimentando taxas de crescimento superiores às do resto do mundo, por estar bem posicionada para suportar a atual crise."
Puro marketing?
Alguns detratores duvidam que o fórum latino-americano tenha sequer esse grau de efetividade. Um deles é Hartmut Sangmeister, professor da Faculdade de Economia e Ciências Sociais da Universidade de Heidelberg:
"O FEM aplica uma excelente estratégia de marketing para autopromover-se, porém seus eventos contribuem muito pouco para solucionar problemas como o da crise financeira internacional ou os dilemas econômicos da América Latina."
"Essa instituição e seu Índice de Competitividade Global são muito conhecidos, mas não são capazes de oferecer análises profundas das distintas regiões do planeta. Esses encontros são um instrumento de marketing para o FEM, e nada mais", afirma o especialista.
Política latino-americana inteligente
O professor Sangmeister detalha assim a situação na região: "Nos últimos anos, a conjuntura mundial favoreceu os exportadores latino-americanos de matéria-prima. E em alguns países uma política econômica inteligente criou as condições para que certos políticos alimentassem suas reservas e pudessem seguir pagando seus compromissos financeiros".
"A Argentina e o Equador não ficaram muito bem quando a crise se evidenciou, mas o Chile e a Colômbia sim, por exemplo" acrescenta.
"Um efeito positivo do fórum é que nos meios internacionais se falará bem da América Latina", admite o catedrático da Universidade de Heidelberg. "O fato é que muitos países latino-americanos estão mais bem preparados para suportar os embates desta recessão do que há uma ou duas décadas."
Autor: Evan Romero
Revisão: Roselaine Wandscheer