Crise
1 de fevereiro de 2009Neste domingo (1°/02), encerrou-se o Fórum Econômico Mundial que acontece anualmente em Davos, na Suíça. O encontro deste ano tinha por objetivo procurar soluções para a atual crise econômica e discutir propostas de uma nova ordem econômica mundial para o período pós-crise.
No entanto, o encontro de Davos em 2009 serviu mais como divã terapêutico para empresários, que nada sabiam daquilo que estavam fazendo. E também para políticos, que não sabem como a situação vai continuar.
Não foi nenhuma surpresa o fato de o economista Nuriel Roubini, também conhecido como "Doutor Apocalipse", ter sido uma das estrelas deste encontro. Em 2006, "o profeta do final dos tempos" já havia previsto que a bolha do mercado imobiliário nos EUA estouraria e que o mundo estaria diante de uma grande recessão. Em Davos, todavia, ninguém queria lhe dar crédito.
Entre os céticos, estava o vice-presidente da companhia de seguros norte-americana AIG, Jakob Frenkel, cuja empresa só pôde ser salva após injeção bilionária de capital. Em 2009, Frenkel revidou seu veredicto de então. "Roubini foi intelectualmente corajoso e suas previsões estavam corretas. Sua credibilidade aumentou merecidamente", declarou o vice-presidente da AIG.
Neste ano, Roubini fez novamente jus à fama, afirmando que a crise está longe de ter passado: "Minha preocupação é que tenhamos uma recessão global e que isso possa levar a uma depressão". O economista explicou que essa pode ser pior que a grande depressão ocorrida há 80 anos. O professor da Universidade de Nova York salientou ainda que esta crise também é social e previu que, "em alguns países, acontecerão levantes sociais. Por isso, as decisões políticas corretas têm que ser tomadas agora".
"A maioria dos executivos de bancos não entendia nada"
Outra conclusão ainda mais surpreendente dos cinco dias de Davos foi que não somente executivos de bancos estaduais da Baviera ou da Renânia do Norte-Vestfália, na Alemanha, não sabiam exatamente com que espécie de instrumentos financeiros geravam seus lucros, mas também os executivos de grandes instituições financeiras norte-americanas não tinham a menor ideia a respeito.
Em Davos, o executivo da AIG, Jakob Frenkel, revelou: "Acredito que nenhum dos membros do conselho executivo sabia dos riscos que corríamos. E qualquer empresa vai dizer o mesmo. Como estamos falando só de pessoas sérias, o problema tem então que ser procurado no sistema".
Tudo era impulsionado por um sistema de atrações financeiras (o que nenhum executivo ousou, em Davos, contradizer): bônus polpudos eram distribuídos para lucros altos a curto prazo, que só eram possíveis às custas de grandes riscos.
Mais poder para o FMI
Além da análise do que aconteceu, Davos queria "dar uma nova forma ao mundo após a crise". Esse foi, pelo menos, o lema do Fórum Econômico Mundial deste ano. Mas que forma seria essa?
A cooperação internacional foi mencionada várias vezes. Como explicou o premiê britânico Gordon Brown, programas de apoio à conjuntura só fazem sentido se adotados pelo maior número possível de Estados e novas regras para a indústria financeira devem ser estabelecidas em nível internacional. "Temos um sistema financeiro global, mas não temos um controle global, isso tem que mudar", disse Brown.
Segundo o chefe de governo britânico, quatro pontos teriam que ser modificados. Em primeiro lugar, é necessário que haja um sistema internacional de alarme, a fim de evitar futuras crises. Em segundo lugar, o caos das regulações nacionais deveria ser substituído por um sistema de regulação internacional. Além disso, Brown defendeu padrões internacionais de transparência e um fortalecimento das instituições internacionais. Uma dessas instituições é o Fundo Monetário Internacional (FMI), que, na opinião de muitos participantes de Davos, deveria ganhar mais poder.
Fórum dos apelos
Essas receitas, no entanto, não são de todo novidade. Sobretudo, elas não são concretas. De que forma o FMI deve ser reforçado ou por que as nações mais influentes do mundo deveriam delegar poder a uma entidade reguladora internacional? Perguntas como essas ficaram sem resposta em Davos.
Sendo assim, Davos 2009 acabou como um fórum dos apelos. Sejam estes para fazer da crise uma oportunidade, para aplicar os bilhões destinados pelos Estados aos programas de apoio à conjuntura na defesa do meio ambiente e para pensar nos pobres, como afirmou Ban Ki-moon: "Como secretário-geral das Nações Unidas, digo: Guardem alguma coisa para os vizinhos mais pobres, não os esqueçam".
Decisões, talvez, venham a ser tomadas somente em abril próximo, quando o encontro de cúpula do G20 (grupos das 20 nações industrializadas e emergentes mais importantes) acontece em Londres.